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sábado, 30 de abril de 2022

Reflexões Astrológicas 2022: Eclipse Solar Parcial - Lua Nova em Touro

Reflexões Astrológicas


Eclipses


 

Eclipse Solar Parcial 

(Lua Nova em Touro)


Lisboa, 21h41min, 30/04/2022

 

Sol-Lua

Decanato: Lua

Termos: Mercúrio

Monomoiria: Saturno  

 

            O Eclipse Solar Parcial de dia 30 de Abril ocorre no signo de Touro, com Escorpião a marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do horizonte e cerca de uma hora após o ocaso (hora de Lisboa), no decanato da Lua, nos termos de Mercúrio e na monomoiria da Saturno. Aquando do eclipse, na hora de Lisboa, Mercúrio é a única luz acima do horizonte, mas no Lugar da Morte. Ora, estando Mercúrio no seu domicílio diurno, como Estrela da Tarde, e avançando para o Poente, reforça-se a mensagem de que a dicotomia radical não se firma entre a palavra e o silêncio, mas sim entre a verdade e a mentira. A bipolaridade geminiana vai agudizar a sujeição de Mercúrio aos perigos do pensamento único, lembrando-nos que comunicar sem ter a sabedoria (Sagitário) como finalidade ou é vaidade ou é manipulação.      

            É, no entanto, em Touro que se dá o Eclipse Solar Parcial de dia 30 e é no eixo Touro-Escorpião que se estenderá o corpo do Dragão da Lua, marcando um conjunto de eclipses que irá até 28 de Outubro de 2023 e cuja influência se alastrará pelos próximos anos, variando consoante a magnitude de cada eclipse ou de acordo com as suas horas equatoriais como diziam os antigos. Uma vez mais e à semelhança de alguns dos eclipses que se manifestaram no ano anterior, o espectro penumbral incidirá sobre o hemisfério sul, em especial, nas áreas polares, com especial destaque para a Antárctida, a América do Sul e a Oceânia, mais para a Austrália do que para a Nova Zelândia. As alterações climáticas e os desastres naturais que são a sua consequência têm sido particularmente nefastos nestas zonas do planeta e essa será uma tendência natural que se manterá e alastrará.   

            Por outro lado, o eclipse solar no signo de Touro vai reger, segundo as lições de Vétio Valente (Antologia I, 2), as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, uma província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. A Cítia e a região das tribos da Samártia correspondem hoje, entre outros países, ao que é agora a Ucrânia, tornando assim actual a lição de Valente.  Assim, de um ponto de vista astrológico, estas áreas geográficas vão merecer uma maior atenção.

            Este eclipse solar insere-se, por outro lado, na série Saros 119 que é uma série antiga e cujo fim se aproxima, tornando os seus efeitos mais expressivos e a sua assinatura histórico-astrológica mais evidente. A série Saros 119 teve o seu início a 15 de Maio de 850 EC com um eclipse solar parcial, também ele no signo de Touro. Esta data marca a expansão da ofensiva viking nas Ilhas Britânicas, na Islândia e nos Países Baixos. Nestes últimos, a data assinala a conquista de Dorestad e Utreque pelo rei viking Rorico da Dinamarca. O valor da materialidade, expresso por Touro, relaciona-se aqui com o tipo de ofensiva viking, assente maioritariamente em saques e pilhagens ou na criação de colónias que compensem as dificuldades da produção agrícola escandinava e a austeridade do clima.

            Os dois eclipses totais, mais um eclipse híbrido (total e anular), determinam o centro da série Saros. Os dois eclipses totais ocorrem no signo de Leão. O primeiro, que se deu a 9 de Agosto de 994, continua a acentuar a expansão viking, mas é também identificado por uma forte tempestade solar (993-994 EC), evidente nas datações por carbono 14. O segundo, a 20 de Agosto de 1012, é marcado pela rebelião beduína anti-Fatímida, em que Abu’l-Futuh al-Hasan ibn Já’far, que se tornara xarife de Meca em 994 (ano do eclipse total anterior), é aclamado anti-Califa.

            O eclipse híbrido (solar e anular) de 31 de Agosto de 1030 dá-se no signo de Virgem e é assinalado pelo facto do imperador Romano III Argiro decidir retaliar as ofensivas muçulmanos e liderar uma força de 20 000 homens. O emir Mirdasid Shihl al-Dawla Nasr de Alepo procura a paz, mas o imperador bizantino recusou-se a negociar. As forças beduínas cercam então o exército de Romano, cortando-lhe o acesso a água e mantimentos. O imperador é obrigado a recuar até Constantinopla. No entanto, os seus generais continuam as ofensivas, acabando por forçar o emir Nasr de Alepo a prestar vassalagem e tributo a Bizâncio.

            O primeiro eclipse anular ocorre a 10 de Setembro de 1048, também em Virgem e na continuidade do anterior, pois, no próprio dia ou uns dias depois, a 18 de Setembro, variando consoante os historiadores, dá-se a Batalha de Capetron, travada entre os exércitos do Império Bizantino e do Reino da Geórgia contra as forças do Império Seljúcida. Este último sai vencedor. Do ponto de vista astrológico, encontramos primeiro a referência em Manílio (Astronomica IV, 585-817) e em Valente (Antologia I, 2) à regência de Virgem desta área geográfica e depois, se seguirmos a tese de que a batalha se deu no dia 10, o facto de quer a batalha, quer o eclipse se terem dado de noite, aproveitando-se quiçá a luz de um modo semelhante ao da Batalha de Gaugamela de Alexandre, o Grande.

            Antes de se avançar para os eclipses mais próximos do actual, é preciso salientar-se o eclipse de 1 de Setembro de 1625, pois é o mais longo da série, com 7 minutos e 37 segundos. Este eclipse é marcado por vários conflitos militares com as tropas holandeses. A expedição militar portuguesa e espanhola recupera Salvador da Baía aos holandeses. É celebrado também, a 8 de Setembro, o tratado de Southampton que consagra a aliança entre a Inglaterra e a República da Holanda. E, a 15 de Setembro, a segunda rebelião huguenote encontra o seu fim, quando o duque de Montmorency derrota a frota de La Rochelelle, comandada por Jean Guiton e por Benjamin de Rohan, duque de Soubise. O signo de Virgem assinala neste eclipse uma maior propensão para a estabilização territorial e para celebração de acordos políticos.

            No século XX, dois eclipses registam o fim da fase anular e o começo da fase parcial, aquela que se estenderá até ao fim da série, a 24 de Junho de 2112 EC (signo de Caranguejo), uma série de 1262,11 anos e com 71 eclipses. O último eclipse anular dá-se a 18 de Março de 1950 (signo de Peixes). Ora no próprio dia cai o governa belga, em consequência de um referendo que vota favoravelmente o retorno do rei Leopoldo III do exílio. Este fora acusado de ter colaborado com os nazis e ter entregado a Bélgica ao regime de Hitler. Uns meses depois, a 25 de Junho, inicia-se a Guerra da Coreia. Em Peixes, aquilo em que se acredita e aquilo que se segue ganha aqui uma dimensão política e militar, mesmo que seja um erro ou uma ilusão.

            O primeiro eclipse da última fase ocorre a 28 de Março de 1968. Este eclipse tem um significado particular para o Brasil. Neste dia, o estudante Edson Luís de Lima Souto é assassinado pela polícia num protesto no restaurante Calabouço. A morte de Edson Luís dá início a um ano de forte contestação à ditadura militar. E note-se que Edson Luís nasceu a 24 de Fevereiro de 1950, a menos de um mês do eclipse anterior. Existem, infelizmente, mortes que marcam o curso da história. A de Edson Luís é muito semelhante à de José Ribeiro Santos em Portugal. A oposição aos regimes totalitários fez destas mortes símbolos da luta pela liberdade e pela democracia. A passagem de um eclipse em Peixes para um Carneiro transporta essa matriz de sentido em que uma ideia em que se acredita move uma determinada acção.

            O eclipse solar de dia 30 introduz igualmente uma mensagem axial, já iniciada no ano passado, que coloca o sentido e o valor entre a vida e a morte. A realidade continua a pedir que se encontre o valor entre ruínas, entre a poeira levantada pelas asas do anjo da história. O progresso começa sempre com um vendaval. A sizígia dos luminares em Touro, abraçados sob o horizonte pelo Dragão da Lua, apresenta, porém, uma força contrária. O touro branco que rapta Europa pede estrutura, exige estabilidade. No entanto, em seu redor, com Escorpião a ascender e com a cauda do Dragão da Lunar enraizada no Destino e na Necessidade (e conjunta a Alpha Serpentis ou Unukalhai), tudo o que vê é morte e encontrar o equilíbrio e a segurança, a permanência e a solidez, parece algo impossível.

            A presença de Úrano vai trazer também o espírito da revolução, do vendaval, à constância do viver. O valor e a tradição podem tremer, senão mesmo ruir. As falácias do liberalismo, com a inflação e as taxas de juros a subir e os salários e o poder de compra a descer, vão ameaçar o estilo de vida e o acesso aos bens essenciais. As cripto-moedas alimentam a especulação e o branqueamento de capitais, de dinheiro sujo. O capitalismo selvagem e a forma abusiva de gerir os recursos do planeta, ignorando a sua sustentabilidade, conduzirão a uma mudança forçada do modo de viver.

            Se observarmos o tema do eclipse, concluímos com facilidade que existe uma concertação de planetas nos signos Touro e Peixes, seguidos, de forma dissonante, por Mercúrio em Gémeos e Saturno em Aquário. Plutão em Capricórnio, na dianteira do relógio solar e no Lugar da Deusa (III), surge sozinho, mas concedendo alguma concórdia ao sentido profundo que Touro e Peixes pretendem afirmar. O Poder da Morte, proposto pelo senhor do submundo, une-se ao valor do viver e à contemplação da totalidade proclamados por Touro (trígono) e Peixes (sextil).

            Os luminares, Úrano e a Caput Draconis unem-se hexagonalmente a Marte, Neptuno, Vénus e Júpiter. No Lugar da Boa Fortuna (V), junto ao Ponto Subterrâneo (IC), tornando-se assim a fundação da realidade. Estes planetas agraciam-nos assim com a dádiva e a harmonia dos contrários. A conjunção dos benéficos (Vénus e Júpiter), no signo de exaltação de Vénus, no seu Segmento de Luz, com Neptuno, a oitava de Vénus, no seu domicílio, confere-nos as bênçãos do céu e da terra. Contudo, a Glória e a Graça de um Feminino exaltado, pois é Vénus quem está mais favorecida, é um sinal de possibilidade, de luz no caminho, e não uma garantia de sucesso e triunfo. O signo de Peixes pede sempre uma forma de desapego ou abnegação, o que não é fácil para um eclipse solar em Touro.

            Marte em Peixes, com Neptuno, Vénus e Júpiter, simboliza aqui o herói que se sacrifica, que se entrega, mas também o falso herói e o perigo do homem (ou mulher) providencial. Não são estes os tempos em que os media e as redes sociais criam novos heróis e novos cultos da personalidade? A quadratura dos planetas em Peixes, sobretudo Marte, a Mercúrio em Gémeos alerta-nos para este perigo. Por outro lado, este Marte em Peixes representa também as palavras de Jesus, quando nos diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14, 27). Nestes tempos de guerra, a paz tende a não a ser aquela que o mundo nos dá e a segurança pode não se alicerçar nas ilusões do nosso quotidiano, do nosso modo de viver. Este é também Touro sob a luz e a sua ausência numa noite de eclipse, perdendo a segurança.

            Saturno em Aquário, no Lugar sob a Terra (IV), traz para as raízes profundas da nossa realidade a relação entre a Necessidade saturnina e a Humanidade aquariana. No primeiro nível de análise, encontrar-se-á aqui a velha dicotomia entre o destino e a liberdade ou o livre-arbítrio, mas, depois de se passar o pórtico dos mistérios, sabe-se que conhecendo o caminho, compreende-se que só existe o caminho, ou seja, a liberdade é o próprio destino. Desta forma, uns dirão que o peso da Necessidade conduz-nos ao determinismo, outros que, fitando a grande roda, a união a do macrocosmos ao microcosmos torna tudo um e o mesmo.

             Ora Saturno está em conjunção com as estrelas Deneb Algedi e Sadalsuud concedendo um certa gravidade do bem, mas também uma dualidade na fortuna. Por outro lado, Saturno une-se quadrangularmente aos luminares e a Úrano, que, por seu lado, está em conjunção com as estrelas Almach e Menkar, trazendo a sombra da ruína, mas também o potencial da resiliência e da criatividade. A quadratura de Saturno ao lugar do eclipse vai acentuar esse peso providencial da Necessidade sobre a Humanidade.

            Já o trígono de Saturno em Aquário a Mercúrio em Gémeos, estando este conjunto à estrela Alcyone, infunde nesta tensão entre a Necessidade e a Humanidade o espírito da viagem, mas também da fuga e da ocultação. A palavra pode revelar ou ocultar esse espírito de passagem que está também de acordo com a união do Lugar sob a Terra com o Lugar da Morte. Mercúrio prepara-se para se afundar no horizonte e tornar-se o Psicopompo, o guia das almas, anunciando a sua retrogradação.          

            Este eclipse solar parcial no signo de Touro terá no mínimo uma influência directa de seis meses que se pode estender até todo o ano de 2023 e, colocando a sua expressão de luz e sombra sobre o valor da vida e do modo de viver, transporta, como uma abelha, as sementes do futuro. Ora Vénus exaltada é essa abelha. A senhora do tema, a luz do Eterno Feminino que surge após a penumbra do eclipse, será uma luz no caminho, uma verdadeira revelação.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Eclipse Solar Total (Lua Nova em Sagitário): Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Eclipses


Eclipse Solar Total 

(Lua Nova em Sagitário)


Lisboa, 07h43min, 04/12/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Lua

Termos: Vénus

Monomoiria: Lua

 

            O eclipse solar total de 4 de Dezembro marca o fim anunciado da presença do Dragão da Lua, do eixo nodal, sobre o eixo Sagitário-Gémeos. Os nodos só chegarão ao eixo Escorpião-Touro no dia 18 de Janeiro de 2022, mas este eclipse marca o termo da mensagem, da sua proposta de sentido. O caminho da Sabedoria à Palavra será substituído por aquele que leva a Morte à Vida, que define o valor que vai da qualidade da morte até ao modo de viver. Essa via eleita de criação e mistério foi proclamada como um prenúncio ou sinal no eclipse lunar do passado dia 19 de Novembro, todavia, a mensagem do Dragão da Lua sobre os signos de Sagitário e Gémeos ainda se faz notar e marcará de uma forma mais intensa o período até ao dia 18 de Janeiro.

            Este eclipse pertence à série Saros 152, uma série recente, iniciada no século XIX. O facto de esta série estender-se de 1805 até 3049 mostra e revela uma proposta de futuro e a criação de uma nova individualidade e de nova autoridade, visto que se inicia e se finda em eclipses no signo de Leão. A série Saros 152 é marcada pelo sentido do poder seja ele sobre si próprio, sobre os outros ou sobre a terra. O primeiro eclipse, a 26 de Julho de 1805, é definido necessariamente pelas guerras napoleónicas. Nesse ano, Lord Nelson derrota Napoleão em Trafalgar, mas, por sua vez, Napoleão vence, em Austerlitz, de forma marcante, a Terceira Coligação. Este foi um ano de luz e sombra para a Europa e para o leonino Napoleão.

            A primeira fase da série terminará com o eclipse de 21 de Outubro de 1949. Nesse ano, uns dias antes e sob o patrocínio de Balança, é criada a República Popular da China sob a liderança de Mao e a República da China é recolocada em Taiwan, mas também, na Europa, nasce a República Democrática Alemã (RDA). Uns meses antes, é criada a NATO e termina a Primeira Guerra Indo-Paquistanesa, bem como a guerra Árabe-Israelita, a Guerra de Independência para os israelitas e “A Catástrofe” para os palestinianos.

            Por outro lado, a fase central da série Saros, ou seja, a fase dos eclipses totais, apresenta três eclipses até ao actual: o de 2 de Novembro de 1967, o de 12 de Novembro de 1985 e o de 23 de Novembro de 2003. Nos dois primeiros, sob a égide de Escorpião, encontramos, em 1967, a Guerra dos 6 Dias e a consequente ocupação israelita da Faixa de Gaza, da Península do Sinai, da Cisjordânia e dos Montes Golã, já em 1985, encontramos na URSS a ascensão de Gorbatchov ao poder, o fim da Ditadura Militar no Brasil e da Guerra do Líbano, bem como o escândalo, no segundo mandato de Reagan, da venda de armas americanas ao governo iraniano de Khomeini.

            De um outro modo, temos nesse mesmo ano o grande terramoto na Cidade do México com milhares de mortos (19 de Setembro) e algumas horas após o eclipse, já no dia 13 de Novembro, a tragédia de Armero com a erupção estratovulcão Nerado del Ruiz em Tolima, Colômbia, com cerca de vinte mil mortos. A influência nefasta de Escorpião é notória. Por fim, o eclipse de 2003 une-se ao um eclipse lunar, do qual já falámos aquando do eclipse lunar parcial de 19 de Novembro de 2021, e que determina os acontecimentos em torno da Guerra do Iraque e do fim do regime de Saddam Hussein.

            Se, por um lado, a série Saros 152 confirma uma forte influência político-militar, por outro lado, com Sagitário a marcar a hora e a acolher o encontro eclipsado dos luminares e com o mapa da visibilidade do eclipse de 4 de Dezembro definimos a sua influência geográfica. Sagitário rege, segundo Ptolomeu (Apotelesmática, II, 3), Tirrénia ou Etrúria (Toscana, Lácio e Úmbria), a Celtica, a Espanha e a Arabia Felix (Iémen e Omã), já segundo Hiparco, Creta, Sicília, Itália, Ibéria (Heféstion de Tebas, Apotelesmática, I, 1). Segundo Valente (Antologia, I, 2), governa a Etrúria (Itália), Gália (França), Espanha, Arabia Felix (Iémen e Omã), Cilícia, Creta, Sicília, Itália, Chipre, o Mar Vermelho, Casperia, as nações junto ao Eufrates, Mesopotâmia, Cartago, Mar da Líbia, o Adriático, o Atlântico, os Tribálios (povo ilírio ou trácio), a Báctria (Afeganistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Paquistão e China), o Egipto e as regiões circundantes.

            Já o mapa da visibilidade do eclipse coloca-o na Antárctida, Sul de África e no Atlântico Sul. Não nos coloca este numa área de particular relevância nas alterações climáticas e na nova variante ómicron do vírus SARS-CoV 2? E não será a Antárctida o continente determinante para o futuro do planeta Terra?

            O eclipse solar coloca o respectivo encontro dos luminares no mesmo lugar onde Sagitário marca a hora, no Leme da Vida, com o Sol e a Lua ainda abaixo do horizonte, no Segmento de Luz (αἵρεσις) nocturno, aguardando a iminente hora de alba, na decanato da Lua, termos de Vénus e monomoiria da Lua. Esta é uma posição que, tendo em conta o Eclipse Solar Total, confere uma qualidade radical de ocultação da luz, de um manto negro caído sobre o mundo e a humanidade, mas também de espera e esperança, de seguir a Sabedoria que revela a luz oculta e que nos confirma que essa mesma luz chegará.

            Nesta hora escura, a única luz acima do horizonte é Marte em Escorpião, no lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων). É, porém, impossível não reconhecer aqui as semelhanças com o tema do Eclipse Lunar Parcial de 19 de Novembro, onde Sagitário também marcava a hora e onde Marte era igualmente a luz mais alta. No entanto, neste evento astrológico, Marte ascende sozinho.  

            O mais positivo dos astrólogos contemporâneos, renegando o olhar nefasto dos astrólogos antigos sobre a sombra dos eclipses, terá com certeza dificuldade em não sentir aqui o peso, a gravidade, da destruição e da morte, da opressão e do sofrimento. Naturalmente, onde existem trevas, existe luz, pois mesmo ocultada brilhará na noite escura, sob o manto do sábio, na chama da fé e da sabedoria, da Deusa Pistis-Sophia. A via eleita traz-nos sempre rosas rubras de espinhos aguçados. Ilude-se quem pensar que dar as mãos em grupinho e pensar positivo evita o horror da realidade. E Marte em Escorpião sobre a sombra que recai nos luminares obriga a esse choque com o real. Não existe uma verdadeira transformação pela luz se vivermos dissociados da realidade numa qualquer bolha de ilusão espiritual.

            A chegada próxima de Júpiter a Peixes, onde se encontra Neptuno, força a visão de totalidade e a expansão inevitável do horizonte que é a empatia e a compaixão. A quadratura de Neptuno, em Peixes, agora Directo, ao Sol, à Lua e a Mercúrio em Sagitário surge hoje como súplica, como um pedido urgente de se unir a Sabedoria ao Amor Universal. Se virarmos as costas ao outro, ignorando quem sofre, porque embarcámos numa viagem até ao templo de todas ilusões, de todas as vaidades, não existe salvação para a humanidade e a sombra triunfará.

            Na sombra, a luz dos luminares une-se em sextil a Júpiter e Saturno. A luz constrói sob o seu próprio véu uma resistência que perdura no espaço e no tempo. Se a humanidade se unir à sabedoria, a luz triunfará. Essa é a proposta de acção deste sextil e, considerando-se que um sextil traz consigo maior liberdade que um trígono, ou seja, força a acção sobre o possível e não sobre o destino, a estruturação que, no signo da humanidade (Aquário), Júpiter e Saturno concedem permite um acto transformador da vontade, aquele que no signo da sabedoria (Sagitário) leva a sua dádiva à palavra, à construção da realidade (eixo nodal Sagitário-Gémeos).

            A posição posterior de Mercúrio face ao Sol apela a esse lado criador da palavra. Mercúrio, enquanto Estrela da Tarde, gera a poesia da realidade, a representação do sentido profundo dos mistérios. Em Sagitário, a palavra de Mercúrio torna-se assim viagem, elemento radical de passagem. Porém, também ela se ressente da luz eclipsada com quem partilha a presença, adquirindo, desse modo, uma qualidade de potência não efectivada, mas consciente do espaço e do tempo.

            No Lugar do Viver (II), onde se cria o modo de vida, atribuindo-lhe um valor, o amor beija a morte no signo do poder (Vénus e Plutão em Capricórnio). A longa estadia de Vénus em Capricórnio (de 5 de Novembro a 6 de Março), incluindo o período retrogradação (de 19 de Dezembro a 29 de Janeiro) concede uma união do amor ao poder ordenado do tempo. Esta posição conjuga, por força da necessidade, aquilo se deseja e se atrai com aquilo que se faz e se almeja. Ora, neste lugar, existe uma ligação tripla entre o amor, o poder e o viver e o valor da vida é encontrado nessa ligação.

            A expressão de Vénus funde-se com a Plutão, trazendo a morte, o renascimento e a transformação para essa valor da vida. Face ao facto do Segmento de Luz dominante ser o nocturno, Vénus torna-se o grande benéfico espalhando as suas bênçãos até Marte (sextil), Úrano (trígono) e Neptuno (sextil). Com este último, o Amor Universal surge como valor e fundação, mas é com Marte e Úrano que a sua acção é determinante, pois, pela intensidade da dádiva, atenua a sua acção nociva.

            Para se avaliar o peso que o eixo Marte-Úrano coloca, de uma forma, sobre os luminares e Mercúrio e sobre o corpo do Dragão da Lua, visto que envolve o eixo do horizonte, mas também sobre o Júpiter e Saturno e, de outra forma, sobre Neptuno (trígono), sobre Vénus e Plutão (sextil) e sobre o Ponto de Culminação (sextil), temos que considerar o sentido do termo δαίμων. Este nasce com o sentido de deus ou deusa, de divindade ou poder divino, mas também de alma, em especial, das almas da Era de Ouro, e dessa forma tem também sentido de destino, do lote ou quinhão que coube ou foi distribuído a cada um. Ora é a partir daí que nasce o significado de génio, de demiurgo, de ser de passagem, desenvolvendo-se, com uma acepção muito negativa e deturpada, enquanto demónio. Na astrologia, o termo surge essencialmente associado a dois lugares ou casas (XI e XII) e a um lote ou parte (Lote ou Parte do Espírito), mas também em íntima relação com o termo τύχη, Fortuna.

            Úrano em Touro no Lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη) e Marte em Escorpião em Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων) trazem consigo e levam aos outros o sentido maligno de uma má mediação seja ela pelo Espírito ou pela Fortuna. A Revolução da Terra (Úrano em Touro) e a Força do Renascimento (Marte em Escorpião), em conjugação com a propínqua mudança do eixo nodal, conduzem a um leque de transformações intensas que, na maioria dos casos, não surgirão de forma pacífica ou benigna. A pandemia está longe de estar controlada ou ultrapassada. As alterações climáticas vão ser cada vez mais evidentes e os seus efeitos mais destrutivos.

            As crises financeiras, em especial, aquelas relacionadas com cripto-moedas e com novas formas de especulação, nomeadamente imobiliárias, estão à espreita. As desigualdades sociais e as migrações, com a crise dos refugiados, forçam o sentido fundamental da solidariedade. Os movimentos de extrema-direita ameaçam as democracias. Os conflitos geopolíticos e militares podem surgir ou agravar-se.

            As quadraturas de Marte a Júpiter e Saturno e destes a Úrano potenciam estas situações. Estes não são tempos de paz, mas também não deixar de ser tempos de fé e esperança. Neptuno junto ao Ponto Subterrâneo faz do Amor Universal e da fé uma fundação da realidade. Por outro lado, o Ponto de Culminação em Virgem recentra o serviço ao próximo e ao planeta como cume e salvação.  

            Júpiter e Saturno, lado a lado, no Lugar da Deusa (III), continuam a estabelecer os pilares da realidade. No entanto, pelo facto do Eclipse se fixar no segmento de luz nocturno, Saturno torna-se o grande maléfico. O senhor do tempo impede a expansão de Júpiter, restringe e constringe as suas dádivas, ou seja, Saturno coloca a Roda da Necessidade sobre o Bem, a Beleza e a Justiça. Némesis determina assim a acção. No Lugar da Deusa, Júpiter e Saturno reafirmam o imperativo de se criar novas formas de comunicação e conhecimento, pedem portanto uma mediação assente na Sabedoria.

            Vivemos num tempo que ameaça o valor da verdade e onde o imediatismo desfaz a exigência do rigor. Ora a ligação de Júpiter e Saturno ao Dragão da Lua (trígono à Caput Draconis e sextil à Cauda) confere um poder de disposição e ordem à sua proposta de sentido e, por estarem no Lugar da Deusa, traçam um caminho de salvação, de catarse, que é o Eterno Feminino, o regresso da Deusa Sophia. A Palavra, o verbo que cria, nasce da Sabedoria e a via do futuro é esse caminho de origem.

            O encontro eclipsado dos luminares no decanato e monomoiria da Lua e termos de Vénus, num signo masculino, mas intimamente relacionado com a Sabedoria e com a Deusa Pistis-Sophia, traz a este eclipse um simbolismo profundo que faz da Grande-Mãe, da Sabedoria, esse elemento de passagem que traz a luz das trevas, tornando-a a Iluminada e Iluminadora. Nesse sentido, é a Virgem Negra que carrega em si, qual gestante, a Luz da Sabedoria. Os eclipses, sob a égide do eixo nodal Sagitário-Gémeos, concedem o dom da viagem e da passagem, do caminho entre dois elementos.

            Da Sabedoria à Palavra, o Novo Humano nascerá, formando-se na nova senda, aquela vai da Morte ao Viver. Esta proposta de sentido e, sobretudo a transformação exigida pela mudança axial, vai vigorar, intensificando-se, desde este eclipse até ao eclipse solar parcial do dia 30 de Abril de 2022. A Luz, de uma forma de outra, fará o seu caminho, mas somos que escolhemos onde ela brilhará.      

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Eclipse Solar Anular - Lua Nova em Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Solar


Eclipse Solar Anular

Lua Nova em Gémeos

Lisboa, 11h52min37s, 10/06/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

            O Eclipse Solar Anular do dia 10 de Junho é o último eclipse do actual Eixo Nodal Gémeos-Sagitário que ocorre em Gémeos. Note-se que, neste segmento zodiacal do ciclo draconígena de cerca 19 anos, dos seis eclipses só dois se fixaram em Gémeos, existindo aqui uma predominância da Sabedoria (Sagitário) sobre a Palavra (Gémeos) na significação axial. Porém, este eclipse pelas suas características encerra um sentido profundo. Os eclipses solares anulares ou anelares, uma vez que a Lua está a uma distância maior da Terra e o seu tamanho aparente não é suficiente para cobrir a totalidade da projecção solar, apresentam-se como um anel de luz em torno da sombra lunar. Existe portanto, neste halo fulgente, uma representação luminosa que cinge a escuridão uterina original. É como diz Virgílio per amica silentia lunae, é como estar no meio do amistoso silêncio da Lua (Eneida II, 255). Em Gémeos, este anel de fogo indica o silêncio que é a mãe da palavra, a deusa Sige dos gnósticos, ou seja, a sabedoria antecede a palavra. Neste eclipse, a relação entre a luz e a sombra vem reforçar a ideia de que a viagem para a luz é também um regresso à escuridão, ou seja, a luz tem de integrar a sombra.

            O eclipse do dia 10 pertence à série Saros 147. Ora, utilizando o mesmo princípio de espacialidade electiva e tornando o lugar onde nasce o olhar o umbigo do mundo (ὁμφαλός), observar-se-á esta série a partir de Lisboa. O primeiro eclipse da série Saros foi a 12 de Outubro de 1624. Este eclipse solar parcial deu-se em Balança com o Ascendente em Escorpião, estando a sizígia em conjunção a Marte, Neptuno e Vénus e o Ascendente em conjunção a Mercúrio. Uns dias antes, a 3 de Outubro, ao largo da ilha de San Pietro (Sardenha), quinze galés do reino de Nápoles, do Grão-Ducado da Toscana e dos Estados Papais enfrentaram um esquadrão de navios argelianos de corsários da Barbária. Os europeus saíram vitoriosos e capturaram o comandante otomano. No mesmo ano, uns meses antes (13/08/1624), o Cardeal Richelieu tornou-se Primeiro-Ministro e consolidou, nos meses seguintes, um poder que se estenderá até 1642, e também em 1624, próximo do eclipse, a Companhia Holandesa das Índias Orientais invadiu a colónia portuguesa da Baía. O eclipse em Balança fixa-se na XII revelando que, no poder e na história, a tendência não é criar equilíbrios ou harmonia, mas sim gerir desequilíbrios, lutando pelo prato dominante.  

            A série Saros 147 é marcada pelo elemento Ar, visto que se inicia em Balança, com um eclipse parcial, e tem o seu primeiro eclipse anular em Gémeos. Este é o eclipse anterior ao de 10 de Junho e que ocorreu a 31 de Maio de 2003. Com a sizígia em Gémeos conjunta a Saturno, na III, e com Úrano em Peixes na XII, o Ascendente marca a hora em Carneiro. O regente da sizígia, Mercúrio, encontra-se na II em Touro e o regente do Ascendente, Marte, na XI em Aquário. Ora no dia 31 de Maio de 2003, Eric Rudolf, do Army of God, responsável pelo atentado bombista que matou uma pessoa e feriu onze no fim dos Jogos Olímpicos de Atlanta, foi capturado na Carolina do Norte. No dia 1 de Junho, Aung San Suu Suu Kyi (Sol natal em Gémeos), que vencera as eleições de 1988 em Myanmar, foi levada sob custódia pelos militares e, no dia 3, Morgan Tsvangirai, líder do movimento de oposição no Zimbabué, é detido por forças policiais.

            Existe na dicotomia geminiana, sobretudo sob a influência do binómio luz-sombra de um eclipse solar, uma relação com o poder político que pode provocar um acentuar e demarcar de posições antagónicas. Esse conflito, que nasce de um discurso, de um interpretação da realidade, não é por essência valorativo, veja-se o caso de Aung San Suu Suu Kyi que, por um lado, vence o Nobel da Paz e, por outro, participa ou promove o genocídio dos roingas. Agora, nos dias próximos ao eclipse do dia 10, vemos, por exemplo, o caso da Bielorrússia e da prisão do jornalista Roman Protasevich. 

            Ptolomeu diz-nos que Gémeos rege a Hircânia (Irão e Turquemenistão), a Arménia (antiga), a Mantineia (Arcádia, Grécia), a Cirenaica (Líbia), a Mamarica (região na fronteira entre a Líbia e o Egipto) e o Egipto. Já para Vétio Valente rege a Índia, a Céltica, a Cilícia (Turquia), a Galácia (Turquia), a Trácia (Grécia, Bulgária e Turquia), o Beócia (Grécia), o Egipto, a Líbia, Roma, a Arábia e a Síria. Manílio afirma que a Índia, a Trácia e o Euxino (Turquia, Mar Negro) estão sob a influência de Gémeos. Quando o eclipse inicia a sua fase central (10h55min), o Ascendente encontra-se nos últimos graus do segundo decanato de Leão, mas, no momento da sizígia, indicado pelo tema que se apresenta, o Ascendente já se encontra em Virgem. Ora Virgem, segundo Valente, rege a Mesopotâmia, a Babilónia, a Grécia, a Acaia (Grécia), Creta, Cíclades (Grécia), Peloponeso, Arcádia, Cirene (Líbia), Dórida (Grécia), Sicília e Pérsis ou Parsa (Irão). Manílio, por seu lado, afirma que a Jónia (Turquia), a Cária (Turquia), Rodes e a Grécia estão sob a influência.

            A fixação do Ascendente em Virgem, para além de uma maior coerência nas regências astrológicas geográficas, permite que se apreenda o elemento de passagem do eclipse anterior, o eclipse lunar total de 26 de Maio, cujo Ascendente se fixava em Leão, e o actual que se encontra Virgem, pois se no anterior o elemento fogo sobressaía (Leão e Sagitário), no de dia 10, para além da elemento Ar da série Saros, é Mercúrio Retrógrado que exerce o seu domínio. O pensamento e a palavra obrigam à interiorização da realidade e do eu em si mesmo.       

            Os antigos egípcios fizerem de Aker a divindade que rege o horizonte e que é representada por dois leões de costas voltadas - o “ontem” (Duaj) e o “amanhã” (Sefer), o oriente e o ocidente - e entre os quais está colocado o disco solar. Ora o tema deste eclipse, com a sizígia na X, embora o MC recaia na IX (sistema de casa-signo ou signo inteiro), o que também encerra o seu sentido profundo (a Revolução da Terra, Úrano em Touro, lança os seus raios a partir da Casa de Deus, IX), lembra a divindade egípcia. Com Mercúrio Retrógrado junto ao Sol e à Lua na X, o seu significado, tanto como regente do Eclipse como do Horóscopo, sai reforçado. A Palavra voltada para Si como agente criador, como Logos da criação, exalta o seu significado, anunciando o próximo Eixo Nodal do ciclo do Dragão da Lua, pois Touro indica o valor (o viver ou o modo de vida, II) e Escorpião a morte (a sua acção e qualidade, VIII). No entanto, a Palavra faz ainda persistir a sua mensagem: a viagem que eleva a Sabedoria (Cauda Draconis em Sagitário) até à Palavra (Caput Draconis em Gémeos).

            Essa é uma via que exige uma maior consciência do poder do tempo e como ele impõe ao humano os seus ciclos (Saturno em Aquário). A partir da VI, o senhor do semear e colher, do observar, esperar e agir, unirá os seus raios benéficos com o Sol, a Lua, Mercúrio e a Caput Draconis (trígono) e com a Cauda Draconis (sextil). A luz e a sombra, a palavra e a sabedoria unem-se à consciência do tempo, à compreensão de que existe um tempo maior que transcende a efémera realidade da finitude humana. Somos a poeira de um grão areia na clepsidra do tempo universal. Naturalmente, e por Saturno estar na VI, essa consciência afectará a compreensão da pandemia, dos ciclos de vida e de que tudo é transitório.

   Por outro lado, o Sol, a Lua e Mercúrio Retrógrado em Gémeos (X) colidem rectilineamente (quadratura) com Júpiter e Neptuno em Peixes (VII). A Palavra como Revelação, sob o véu da luz e da sombra, oculta-se e, tal como a sabedoria, caminha entre nós e não é vista, o que impede a sua expansão (Júpiter) e comunhão (Neptuno). O discurso não vê o outro, não o inclui no processo comunicativo, e a palavra fecha-se em si própria, nas suas idiossincrasias, na ignorância das suas certezas. A comunicação sem o outro é a génese da intolerância. Porém, por Júpiter - e Neptuno - estar numa posição particularmente benéfica, esta não é uma tensão disruptiva, pelo contrário, surge como aviso, como marco no caminho e, não sendo exclusiva, alguns vão mostrar que a empatia e compaixão podem gerar um discurso de tolerância que une em vez de separar.

            A dádiva da excepção é observável pelas bênçãos que resultam da união venturosa dos benéficos (Vénus em Caranguejo, na XI, em trígono a Júpiter em Peixes, na VII). Esta união, se seguirmos a lição do Thema Mundi, une o sentido de origem à comunhão com o divino, pois nessa representação Caranguejo ocupa o Horóscopo (Asc.) e Peixes o Lugar de Deus (IX). Ora com a presença de Vénus em Caranguejo e de Júpiter em Peixes essa ligação natural é intensificada pelos conceitos de Amor e Expansão. Os raios dos benéficos estendem ainda as suas dádivas para além da sua união, visto que Vénus (XI) se une em trígono a Neptuno (VII) – o Amor e a Compaixão revelam que só a empatia nos salvará – e em sextil a Úrano (IX) – o Amor alimenta a Revolução da Terra –, já Júpiter (VII) une-se em sextil a Plutão em Capricórnio (V) e a Úrano em Touro (IX) – existe uma Comunhão do Poder da Morte e uma Expansão da Revolução da Terra. A dádiva surge como luz no caminho, indicando qual será a via da bem-aventurança.

            Na análise deste eclipse, deve-se dar também uma especial atenção ao posicionamento de Vénus e Marte em Caranguejo. Se acerca de Marte já antes se fez notar que indica o herói que desce ao ventre da terra, ao lugar de Perséfone (oposição a Plutão em Capricórnio), com Vénus, sobretudo por estar em Caranguejo e por ser Estrela da Manhã (posição anterior ao Sol e para além dos seus raios) encontramos a deusa protectora, a senhora da guerra. Com a união de Vénus e Marte em Caranguejo, o herói é agora guardião do feminino, da deusa armada. Este é o mito de Palas, a filha de Tritão que combateu na Gigantomaquia e que, quando lutava com Atena e estava prestes a desferir-lhe um golpe, foi morta pela deusa, porque Zeus interveio e protegeu a filha com a Égide, uma protecção invencível feita com a pele da cabra Aix (cf. com a mitologia de Capricórnio). Atena, por lamentar a morte injusta de Palas, criou o Paládio, uma estátua de madeira em sua homenagem (v. Ps.Apolodoro, Biblioteca, 3.12.3).

            Ora existe aqui a ideia de que a vontade ou a força (Marte) do amor (Vénus) pode acerca-se da morte (Plutão) e juntos caminharem. É como o soneto de Antero de Quental “Mors-Amor”. Se um é o cavalo, o outro é o cavaleiro. O facto da sizígia se encontrar no decanato e nos termos de Marte intensifica essa mensagem. A ligação de Marte em Caranguejo com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano em Touro (sextil) faz do Deus da Guerra um dos principais elementos de análise neste eclipse. Existe assim uma forte vontade de transformação ambiental, social e espiritual e resultará em acções concretas sejam elas partidárias e legislativas ou sindicais e populares (Úrano em sextil a Neptuno e em trígono a Plutão; Neptuno em sextil a Plutão). Poderão até existir manifestações mais expressivas que resultarão em cargas policiais (Saturno em quadratura a Úrano). Marte e Plutão, unidos em eixo, levará a um extremar de posições e note-se que basta que um lado vá para além da democracia, ou permaneça no limiar, para se extremarem as posições. Os democratas terão de cerrar as fileiras e defender a democracia, pois, uma vez perdida, é difícil de recuperar.

            O eclipse solar anular do dia 10 de Junho, sob o véu da luz e da sombra, do anel de fogo, dar-nos-á a capacidade de integrar no nosso caminho a escuridão e o silêncio. Existe um poder imenso na possibilidade da palavra, no não-dito que é o gérmen da criação. A sombra e a ocultação devem lembrar-nos que a sabedoria caminha entre nós, mas não é vista, é insultada e agredida e nós aceitamos. A luz é a revelação e o Eterno Feminino é a luz no caminho.