segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Lua Nova em Virgem: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações



Lua Nova em Virgem

Lisboa, 01h52min, 07/09/2021

 

Sol-Lua

Decanato: Vénus

Termos: Vénus

Monomoiria: Mercúrio

 

            A Lua Nova de Setembro é a lua da deusa Deméter. A deusa-mãe dos mistérios de Elêusis que rege o acto de semear e colher e que governa as estações de vida e morte. O hino órfico de Deméter designa-a de “divina mãe de todos” (παμμήτειρα θεά) e de “divina dadora de bênçãos, de riquezas” (ὀλβιοδῶτι, πλουτοδότειρα θεά). A sizígia do novilúnio ocorre no signo de Virgem, de noite e abaixo do horizonte, no Lugar da Deusa (III), junto ao Ponto Subterrâneo (IC), no decanato e termos de Vénus e monomoiria de Mercúrio e com Caranguejo a marcar a hora. Neste evento lunar, a luz expressa, por natureza e excelência, o feminino, a glória e a graça do Espírito Santo, a Divina Mãe. No entanto, esta é uma luz oculta, invisível, escondida sob a terra, no útero da Mãe Gaia e que, devido à conjunção da sizígia a Marte, faz a terra ranger e a lava borbulhar. Existe um grito feminino de revolta que eclode como uma tempestade.

            A dádiva dos luminares olha-nos desde o abismo da nossa vontade e fita o cume, a culminação (MC), onde Poseídon (Neptuno em Peixes), o senhor do mar, das águas primordiais do feminino, no Lugar de Deus (IX), colhe a tensão da distância (oposição de Marte a Neptuno), da separação e do desequilíbrio entre o Divino Pai e a Divina Mãe. Essa é a mensagem que se desenvolve na cruz das casas cadentes (mutáveis), onde os bons declínios se firmam em tensão (quadratura) contra os declínios fracos (φαῦλον). Ora sob o véu deste conceito de declínio (ἀπόκλιμα) encontramos os luminares e Marte na III, Neptuno na IX e o corpo do Dragão da Lua na VI e XII (cauda na VI, em Sagitário, e caput na XII, em Gémeos). O sentido de passagem da sabedoria à palavra, de um conhecimento tornado sabedoria, perde-se, esvai-se e é traído pelas mensagens disruptivas de negação, de deturpação e de ilusão. A ignorância - o maior dos males - vence a sabedoria e esta oculta-se assim sob o véu de Ísis. Ao deixar o comum, a sabedoria torna-se necessariamente eleição.

            Por outro lado, os raios dos luminares unem-se, a partir da III e em trígono, a Úrano em Touro (XI) e a Plutão em Capricórnio (VII). O triângulo da Terra funde-se num pedido de estrutura, numa exortação que clama pelo criar de um Novo Mundo. No Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων) e em Touro, Úrano insurge-se contra a apatia da tradição e contra a cristalização dos valores. Já Plutão, poente e em Capricórnio, faz cair sobre a vida, sobre a segurança da vaidade, o Poder da Morte. Estas uniões triangulares ganham força, adquirem um aumento ou reforço da sua própria dinâmica pelo facto de Marte também participar nesta ligação. De forma idêntica, Neptuno, pelos sextis a Plutão e a Úrano, contribui com os dons da compaixão, da empatia e da imaginação.

            Mercúrio e Vénus, no seu segmento de Luz, para além dos raios do Sol e como Estrelas da Tarde, no Lugar sob a Terra (IV), assumem o carácter comparativo da imaginação, do acto criativo, retraindo a razão, imposta pela natureza matutina. Enquanto canto de vésperas, passando pela constelação de Balança, Mercúrio e Vénus entoam a harmonia dos opostos. A mensagem deste signo não é o equilíbrio em si mesmo, mas sim a vontade e a necessidade de equilíbrio. Esse apelo da finalidade, mas também da incompletude, consiste na procura de um equilíbrio primordial entre o feminino e o masculino, entre o signo de Virgem e o signo de Escorpião. A beleza e o sublime irrompem desde do Hades (IV) como forma de renovar o mundo (Vénus em Balança no seu domicílio diurno). Existe uma tendência em colocar o carácter de transformação no bem e na justiça, mas a beleza também produz revoluções.

            O trígono de Mercúrio e Vénus (IV) a Júpiter e Saturno (VIII) concede tanto a dádiva como a retribuição. No entanto, a dádiva dos benéficos mostra uma qualidade diferente, pois Vénus está no seu segmento de luz e Júpiter não. Esta qualidade de luz é partilhada com Saturno, o que faz deste o maléfico cujos raios são mais abrasivos. Saturno corromperá Mercúrio, já Vénus vencerá o carácter maligno de Saturno fora do seu segmento. Essa vitória é também ela sugerida pela facto do novilúnio se dar no decanato e termos de Vénus. A luz do feminino brilhará desde o ventre da Terra (IV) e estenderá o seu manto até ao Dragão da Lua (trígono à caput e sextil à cauda) e à sua mensagem, debilitada pelos lugares que ocupa (VI e XII). Contudo Vénus colidirá (quadratura) com Plutão, sem que todavia se deixe afectar. O Amor vencerá a Morte, mas não evitará a sua passagem.

            Os senhores do Espaço e do Tempo, Júpiter e Saturno, permanecem retrógrados em Aquário, agora no Lugar da Morte (VIII). A expansão, agora retrotensa, da verdade jupiteriana produz, no interior do sentido colectivo de humanidade, um ensimesmamento com carácter de revelação, o que está em harmonia com a consciência da necessidade e da retribuição. A Némesis saturnina adquire nesta posição um valor de redenção que só alcançará um verdadeiro sentido de perdão e purificação quando ficar directo e a caminhar rumo ao signo de Peixes. No Lugar da Morte, Júpiter e Saturno em Aquário trazem ao humano a gravidade da ceifeira, as lapidares verdades do Et in Arcadio ego e do Memento Mori.

            Devido ao facto estar fora do seu segmento, Saturno adquirirá uma expressão maléfica que suplantará a dádiva de Júpiter, também ele com a sua luz diminuída. Como um arco em tensão e com uma corda estendida desde o Lugar da Morte (VIII) até a Lugar do Viver (II), Úrano será a seta cuja necessidade malfazeja de Saturno forçará a ser lançada. Júpiter conseguirá ser apenas a dádiva da verdade oculta. Desta quadratura, a revolução da terra será retribuição e actuará com a causalidade natural que é própria da providência. O humano agiu e terra reagiu. É impossível, mesmo para aquele que está em negação, não sentir algo entre o reconhecimento e o temor face a resposta da Mãe-Terra a décadas de abuso. O mundo que o humano construiu sobre a liquidez da vaidade e a efemeridade de vigas, metal e betão, de alcatrão, tijolo e madeira-morta, é absurdamente frágil. E, face ao grito de revolta de Gaia, ora negamos a sua mensagem, ora nos iludimos com teorias rocambolescas de chips em vacinas e de conspirações delirantes. É mais fácil atirar a sombra para longe que olhá-la de frente em nós. No humano, repousa tanto o daímon (δαίμων) como o demónio e nós somos o nosso próprio demiurgo.

            Neste novilúnio, onde a espiga é salvação e a videira revelação, o Divino Feminino será a luz de eleição. Sem os luminares sobre o horizonte, a Lua Nova traz a luz sob o véu, a candeia escondida. A Grande Mãe, a Alma do Mundo, coloca no céu uma mensagem que se estenderá, de forma muito expressiva e astrologicamente evidente, da Lua Nova à Lua Cheia. No Evangelho de Tomé, Jesus diz: “A colheita certamente é grande; mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao senhor que me mande trabalhadores” (logion 73). E Deméter espera em Setembro pela sua colheita.   

Sem comentários:

Enviar um comentário