sexta-feira, 12 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2022: Parte II - Citação 4
domingo, 7 de maio de 2023
sexta-feira, 5 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Lunar Penumbral (Lua Cheia: Touro-Escorpião)
Reflexões Astrológicas
Eclipse Lunar Penumbral
(Lua Cheia:
Touro-Escorpião)
Lisboa, 18h23min, 05/05/2023
Lua
Decanato: Sol
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Marte
Sol
Decanato: Lua
Termos: Júpiter
Monomoiria: Vénus
O Eclipse Lunar Penumbral de dia 5
de Maio ocorre com a Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Balança
a marcar a hora e a cerca de duas do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo no
Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do
horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver
(βιός).
A Lua encontra-se no decanato do Sol, nos termos de Mercúrio e monomoiria de Marte, enquanto o Sol encontra-se
no decanato da Lua, nos termos de Júpiter e monomoiria
de Vénus. Se pensarmos que, da Lua até ao Ponto de Culminação, não existe
nenhum astro, concluímos então que é o caminho luminar em que Sol se insere, e
que é por si dominado, que se torna mais significativo, pois de uma forma mais
abrangente é aquele que vai de Marte em Caranguejo a Júpiter em Carneiro ou, se
preferirmos uma maior simbólica cadente, dado que Marte está junto à
Culminação, será aquele que vai de Vénus em Gémeos a Júpiter em Carneiro. Este
é o caminho dos benéficos, ou do bem, rumo ao Poente, onde o Sol se encontra
obscurecido. Neste ocaso da realidade, a acção do bem vive na sombra.
Existe uma clara aproximação de
sentido entre este eclipse e o anterior eclipse solar, visto que, por um lado,
Balança marca a hora no actual eclipse e este é um dos signos que integra o
eixo para o qual avançará o eixo nodal e marcará a próxima fase de eclipses, iniciada
com o eclipse de dia 20 de Abril, e, por outro lado, a Lua recai nos dois
eclipses na II, no Lugar do Viver (βιός), exacerbando a sua significação
tópica. É igualmente assinalável o facto de em ambos os eclipses a Lua se
encontrar sob o horizonte. A ocultação luminar, seja pela sua visibilidade ou,
neste caso, também pela sombra do eclipse, adquire sempre um simbólica radical,
um valor que transmite uma representação profunda da realidade. Ora a ocultação
da Lua, da Deusa, do Espírito Santo ou do Divino Feminino, num lugar que
determina o valor do viver, assume um carácter primordial de transformação, ou
seja, diz-nos que, na sombra, sob o manto da nossa ignorância, se encontra
aquilo que nos falta, a fonte da nossa angústia, da nossa incompletude. Não
provimos aquilo verdadeiramente nos sustem.
A área geográfica do actual eclipse
é maior que a do eclipse solar, embora semelhante. A zona principal incide
sobre a Ásia e sobre a Oceânia, expandindo a influência do eclipse de dia 20 de
Abril. A segunda zona alcança, já de forma parcial, África e a Europa. No caso
de Portugal, este manto chega sensivelmente até ao Tejo, ou seja, cobre apenas
metade do país. Se seguirmos, porém, a tradição antiga, a Lua em Escorpião fornece-nos
um conjunto de informações adicionais. Valente diz-nos que Escorpião rege a Metagonitis
ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte
de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia,
Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio
Escorpião rege Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha (Astronomica IV, 777-82).
No entanto, devemos também
considerar o Sol em Touro, embora com uma menor expressão geográfica. Segundo Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão,
o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia
(Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia,
Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso,
da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão,
província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Para
Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817). No caso dos eclipses lunares, a
questão da influência geográfica é deveras importante, já que, no seu período
de influência, encontramos frequentemente a existência de fenómenos naturais
extremos, tais como sismos, erupções vulcânicas ou tempestades.
Em termos temporais, a acção deste
eclipse pode ser fixada entre perto dos dois meses até aos seis ou sete meses.
O período de cerca de dois meses pode ser estabelecido a partir da ascensão
recta, enquanto a linha temporal mais extensa é alcançada pela extensão
temporal dos contactos umbrais. No entanto, podemos afirmar que a sua
influência será mais intensa nos dois meses que se seguem ao eclipse. Existe,
porém, um outro factor a ter em consideração acerca desta influência, pois,
segundo a série Saros em que está inserido, este eclipse está intimamente
ligado ao eclipse da mesma série que acontecerá a 16 de Maio de 2041, também no
eixo Escorpião-Touro. Os sentidos propostos pelo actual eclipse criam uma ponte
significativa entre os dois eclipses, estendendo assim a sua proposta de representação
da realidade.
A série Saros 141 é uma série
relativamente recente que se iniciou a 27 de Agosto de 1608, com eclipse no
eixo Peixes-Virgem, e que terminará a 11 de Outubro de 2888, com um eclipse no
eixo Carneiro-Balança. O primeiro eclipse total só acontecerá em 2167 com um eclipse
no eixo Aquário-Leão. Nesta série, dado o primeiro e o último eclipse, existe
uma união de sentido entre o fim e o início, entre a significação dos dois
eixos. Esta ideia matriz serve, face ao actual eclipse, a consolidação, a
integração na consciência humana que a Natureza é um ser vivo, com alma, que
nasce, morre e renasce. O eixo Escorpião-Touro está a oferecer-nos uma profunda
lição acerca do valor da Terra, da Mãe-Terra. Marco Aurélio diz-nos o seguinte:
“Contempla o curso dos astros como se
levado foras nas suas revoluções, e considera de contínuo como os elementos se
transformam uns nos outros. Tal contemplação purifica-nos das nódoas da terra.”
(Pensamentos VII, 47, trad.
J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995).
Fomos nós que colocámos as “nódoas da terra” e somos nós que as temos de
tirar.
O início da série Saros 141 é
marcado por alguns acontecimentos em torno da fundação da colónia americana de
Jamestown. A 13 de Agosto de 1608 é submetida para publicação a história dos
primeiros dias da colónia de John Smith e, a 10 de Outubro, este é eleito
presidente do conselho colonial. A história de John Smith e de Pocahontas é um
exemplo de aceitação do outro, da diferença e de criar laços afectivos com
alguém que a maioria tende a rejeitar. Face à crise dos refugiados, da pobreza
e das desigualdades sociais, o simbolismo por detrás desta história torna-se imperativo.
Podemos encontrar astrologicamente esse sentido no trígono que, hoje, une os
astros nos três signos de água. A sua significação congrega a tensão e a possibilidade.
Séneca
afirma o seguinte: “Pensa bem como esse
homem que chamas teu escravo nasceu da mesma semente que tu, goza do mesmo céu,
respira, vive e morre como tu. Tanto direito tens tu a olhá-lo como homem livre
como ele a olhar-te como escravo” (Ep.47.10;
Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004:
Fundação Calouste Gulbenkian). Ora este é também o espírito da Saturnália
e de Saturno (e Neptuno) em Peixes.
A
refundação da justiça social e das estruturas políticas, económicas e sociais
estará intimamente relacionada com o medo de feminino que se apresenta com
Marte em Caranguejo. A respeito de Marte convém referir-se que é o astro mais
alto, em conjunção ao Ponto de Culminação. Este factor, aliado à posição de
Plutão retrógrado em Aquário, junto ao Ponto Subterrâneo, embora em posição
pós-polar e noutro signo, vai colocar sob pressão os fenómenos naturais
extremos. O trígono de Água apresenta, neste eclipse, um sentido profundo. O
medo de feminino é um sinal dos tempos, mas a forma abusiva como utilizamos os
recursos do planeta também o é, e sobre estes dois eixos de acção e reacção
vive a morte, a retribuição e a necessidade. A sombra do eclipse, com a Lua em
Escorpião, revela-nos que, face à gravidade da desmedida, será apenas sob a
terra queimada, sob as cinzas da história, que o renascimento acontecerá. O
tempo pede, novamente, que os escravos se ergam e se tornem senhores. Essa é,
como já observámos, a lição de Saturno em Peixes e que agora se une à do
eclipse lunar.
A
quadratura de Plutão em Aquário aos luminares e ao Dragão da Lua, a partir do
lugar da Boa Fortuna, confirma a sua mensagem fundamental de que a morte paira
sobre o humano e de que a semente do amanhã repousa ainda sob a terra, oculta
no ventre da Grande Mãe. Não existe criação sem destruição. Essa é a ideia que
nos deve servir de guia e que contribuirá para nos redimensionarmos. Os
complexos humanos de super-homem deverão cair, pois a actividade humana tem
sido exacerbada por um narcisismo desenfreado que quer que esqueçamos a nossa
finitude, a nossa incompletude. É esvaziando-nos que nos tornámos plenos. O
trígono de Vénus em Gémeos, no lugar do Deus Sol, a Plutão em Aquário indica a
palavra do Amor que vence a dualidade, a separação. Porém, é sempre mais fácil
distinguir do que congregar. Se por vaidade dizemos que reunimos, estamos a
apenas a criar mais separação. A quadratura de Vénus a Saturno e Neptuno aponta
para essa dificuldade. A teia que une a necessidade e a compaixão, criando
possibilidade e redenção, exige esforço. Temos de primeiro nos perder, para
depois nos encontrarmos, renovados e renascidos.
Na
casa da Grande Mãe, da Mãe Natureza, que é o signo de Touro, o Sol, Mercúrio, Úrano
e a Caput Draconis expressam uma mensagem que se firma no ocaso da realidade.
Fundar um novo modo de vida quando tudo o que se vê é morte é o desafio dos nossos
tempos. A qualidade da morte alia-se aqui à noção de poente. O caminho de Júpiter
em Carneiro avança para o seu fim, o que, neste tema, assume literalmente esse término.
A acção do bem tornar-se-á a bondade da terra. Júpiter em Touro chegará com a dádiva
de Gaia. Porém, a actual quadratura entre Júpiter em Carneiro e Marte em Caranguejo
revela esse mesma dificuldade de acolher os dons da terra e do feminino. Neste eclipse
lunar, este choque entre o grande benéfico e o grande maléfico assume um carácter
de definição e prenúncio. A par do trígono de Água e do eixo do eclipse, este é
um símbolo do futuro que resume a mensagem da actual ocultação luminar.
O
eclipse lunar de dia 5 de Maio, como lhe é natural, mas aqui um pouco mais acentuado,
vai trazer consigo um conjunto de sentidos subliminares, como se sibilados pela
Senhora do Tempo e da Necessidade. Nem tudo é literal, directo ou evidente, existem
pois sentidos que preenchem a trama de um tear. A união de Júpiter em Touro e Saturno
em Peixes, bem como a longa travessia de Vénus em Leão, assinalam uma era do feminino
e o actual eclipse é a sombra que antecede a luz. Em suma, é sobre a sombra que
se guarda a luz e iluminado é aquele que guarda a centelha da sabedoria.
sexta-feira, 21 de abril de 2023
Lançamento: Obra Reunida - Centenário do Nascimento (1923-2023) de Margarida Figueiredo
Mercúrio Retrógrado: De 21 de Abril a 15 de Junho de 2023
quinta-feira, 20 de abril de 2023
quarta-feira, 19 de abril de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Eclipse Solar Híbrido - Lua Nova em Carneiro
Reflexões Astrológicas
Eclipse Solar Híbrido
(Lua Nova em Carneiro)
Lisboa, 05h16min, 20/04/2022
Sol-Lua
Decanato: Vénus
Termos: Saturno
Monomoiria: Sol
O
Eclipse Solar Híbrido, ou seja, um fenómeno que combina os eclipses anular e
total, de 20 de Abril ocorre no signo de Carneiro, com Peixes a marcar a hora,
no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua, com os luminares abaixo do
horizonte, na II, designada de lugar do Viver ou Modo de Vida (βιός),
e a cerca de uma hora e meia antes do orto solar (hora de Lisboa), no decanato de
Vénus, termos de Saturno e na monomoiria
do Sol. Ora, estando o Sol na sua exaltação e a Lua desfavorecida, o segmento
de luz dominante firma aqui o carácter de sombra, de ocultação da luz, próprio
de um eclipse. Por outro lado, o facto de acontecer no último grau de Carneiro,
com o corpo do Dragão da Lua estendido já a partir do signo seguinte (eixo
Touro-Escorpião), determina também uma certa debilidade luminar ou distensão de
sentido. Sob o horizonte, a sombra fere a luz.
O
centro do eclipse, onde a escuridão será maior, ocorre em Timor-Leste e na
Indonésia, todavia, a sombra alcança também a Austrália, sobretudo o norte, a
região à volta de Carnarvon, a Papua Nova-Guiné e ligeiramente a Nova Zelândia.
Toda esta área do Pacífico e do Índico encontra-se assim sob um manto de
escuridão. Por a sizígia ocorrer num signo de fogo, em Carneiro, podemos
assistir, nomeadamente em Timor-Leste, a uma séria instabilidade política, sobretudo
a nível do poder executivo ou presidencial. De um outro modo, e em consonância
com o eclipse lunar que se segue, a actividade vulcânica e sísmica pode
agravar-se sobretudo nesta área geográfica, o que, no caso da Indonésia, pode
vir a ser preocupante.
Em termos de regências geográficas,
devemos também considerar as que foram descritas na Antiguidade. Segundo
Vétio Valente (Antologia I, 2), as
seguintes regiões pertencem a Carneiro: a Babilónia, Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), a
Pérsia, a Palestina e as regiões circundantes, a Arménia, a Trácia, a
Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do Elão ou Susiana, hoje sudoeste do
Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto e o Oceano Índico. Para Manílio,
rege o Helesponto (Estreito de Dardanelos),
Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o Egipto (Astronomica, IV, 744-817). Por a Caput Draconis se encontrar em
Touro, junto à sizígia do eclipse temos de observar as regências deste signo. Segundo
as lições de Valente (Antologia I, 2), rege as regiões da Média (o actual
noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou
Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às
fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das
montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou
Elamais (Cuzistão, uma província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e
da Germânia.
As
regências antigas continuam a servir ainda hoje para situar muitos dos
acontecimentos que a astrologia tão bem traduz. Os eclipses são, para a astrologia
mundana ou global, um fenómeno em cujos sentidos da Providência electivamente
se enraízam. O jogo primordial e radical de luz e sombra marca, com o gesto das
Meras, não só o momento do eclipse como todo um hiato temporal, fundado num
processo de significação que se agrega como uma teia. Já quanto ao actual, a duração do
eclipse e do período umbral apontam para um período de influência que se
estende de um ano até quase três anos e meio. No entanto, face ao facto da área
central do eclipse ser um pouco circunscrita, a sua influência tenderá a ser
mais próxima de um ano do que dos três anos e meio.
Na análise astrológica de qualquer
eclipse, este aforismo deve servir toda e qualquer interpretação: o primeiro eclipse de uma série Saros e
o seu tema astrológico servem de matriz para toda a série, é o seu tema
genetlíaco. O eclipse de dia 20 pertence à série Saros 129 que se iniciou a 10
de Outubro de 1103. Este eclipse, no signo de Balança, torna-se particularmente
significativo para o nosso eclipse, dado que a sizígia original se encontra em
oposição à actual. No eclipse de 1103, o Sol, a Lua, Mercúrio, Vénus e Júpiter
encontravam-se em Balança. Existia, nesse momento, uma clara proposta de
sentido que apontava, como se a dádiva do bem indicasse o caminho, para a
harmonia dos contrários, para a criação de uma concórdia no seio da dualidade.
Este sentido opõe-se, como que olhando de frente com um semblante desafiador, ao
eclipse de dia 20.
Os
maléficos, na análise comparada dos dois eclipses, também se opõem. Saturno
hoje em Peixes fita Marte outrora em Virgem. Se pensarmos que muitos dos
eclipses dos últimos anos pertencem a séries Saros que começaram em eclipses
coincidentes com a época das Cruzadas, compreendemos então a actualidade deste
eixo dos maléficos. Os falsos ideais que se mascaram das mais piedosas demandas
atendem, na verdade, os vícios do poder. Ontem ou hoje, a guerra só se serve a
si própria. Por outro lado, Plutão que agora se encontra em Aquário, aquando do
início da série Saros 129, encontrava-se em Carneiro, no lugar do actual
eclipse. O militarismo que domina hoje as narrativas internacionais, tal como
dominava no tempo das Cruzadas, protege os interesses de alguns, mas não os da
humanidade, mas, para nos opormos aos perigos dessa narrativa comum, precisamos
de espírito crítico. Séneca diz-nos o seguinte: “Procuremos, pois, aquilo que é o melhor e não o que é mais comum,
aquilo que nos colocará na posse de uma felicidade eterna e não o tem a
aprovação do vulgar, que é o pior intérprete da verdade” (Da Vida Feliz, 2;
Carta sobre a Felicidade de Epicuro e Da Vida Feliz de Séneca, trad. J.
Forte, 43. Lisboa: Relógio D’Água, 1994).
Essa é a lição dos tempos e de como humano pode encarar a realidade.
No
eclipse de 1103, Raimundo IV, conde de Toulouse, com os cruzados, lançou uma
ofensiva no vale de Beca (ou Beqaa), capturando Tortosa (Tartans), e para fortalecer
o cerco de Tripoli, constrói o imponente castelo de Mons Peregrinus (em árabe,
Quala’at Sangil). Os esforços de Raimundo de Saint-Gilles foram auxiliados pelo
imperador Aleixo I Comneno, com o envio da frota bizantina. Mais tarde, os
cruzados, liderados por Boemundo I de Antioquia e por Juscelino I de Edessa (e
II de Courtenay), avançam no território de Alepo e, com as suas ofensivas e
conquistas, forçam o sultão Fakr al-Mulk Radwan ao pagamento de um tributo. No
ano seguinte, a 26 de Maio, o rei Balduíno I captura Acre. O porto havia sido
cercado pelas frotas de Génova e Pisa. Balduíno promete, porém, conceder passagem
a quem queira seguir para Ascalão, mas os italianos pilham os migrantes muçulmanos
ricos e matam muitos deles. Por outro lado, os seljúcidas fixam-se em Damasco,
na Síria. Podemos facilmente observar a actualidade de todos estes movimentos
e, mesmo que se diga a história não se repete, o humano repete-se sem sombra de
dúvida.
Na
série Saros 129, o último eclipse penumbral (26/041446) e o primeiro eclipse
anular (06/05/1464) ocorrem no signo de Touro. Este elemento torna-se
significativo se pensarmos que o eixo nodal actual ainda se encontra neste
signo e o próximo eclipse lunar também aí ocorrerá. Cerca de dois meses após o
eclipse, a 16 de Julho de 1464, dá-se a batalha de Montlhéry, onde as forças de
rei Luís XI de França defrontam a Ligue du Bien Public, que reunia um conjunto
nobres que se opunha ao poder centralizado do rei. O conflito termina com o
regente a assinar três tratados de paz. Por outro lado, dois dias depois, o rei
deposto Henrique VI de Inglaterra é capturado pelas forças de York e colocado
na Torre de Londres. A rainha Margarida de Anjou e o príncipe Eduardo fogem
para França. A Guerra das Rosas opôs as dinastias de York e de Lancaster. O
caso francês lembra-nos hoje a forma como o presidente Macron tenta
implementar, de forma contrária à vontade popular, uma nova idade da reforma.
No Reino Unido, vemos claramente a queda de primeiros-ministros e o extremar de
posições, bem como alguma resistência republicana à coroação de Carlos III.
O
último eclipse anular da série ocorre no signo de Peixes, a 18 de Março de
1969. Lembremo-nos que a série Saros 129 termina com um eclipse também em
Peixes, a 21 de Fevereiro de 2528. É muito curiosa uma série que se inicia em
Balança e termina em Peixes e cujos principais eclipses ocorrem em Carneiro e
Touro. Existe um choque notório entre individualismo e comunidade. A proposta
de início e fim colide com os acontecimentos que, sobre esta linha de luz e
sombra, se estendem. Ora, aquando do eclipse de 1969 e no período de sua
influência, encontramos, por exemplo, os sismos na China e no Peru e a forte
tempestade tropical na Índia e no Bangladesh. Por outro lado, temos os
movimentos de independência em África e a Guerra Colonial Portuguesa, bem como
a Guerra do Vietname, a crise do petróleo de 1973 e um conjunto de intensas
alterações políticas e ideológicas, e das consequentes transformações sociais.
Ao
eclipse de 1969, em Peixes, seguem-se três eclipses híbridos em Carneiro, dos
quais o actual é o terceiro. O primeiro destes eclipses ocorreu a 29 de Março
de 1987. Uns dias depois, a 13 de Abril, celebra-se o acordo entre Portugal e a
China para a entrega de Macau. No final do ano, dá-se a Primeira Intifada e o agudizar
do conflito israelo-palestino e, no dia 30 de Dezembro, o Papa João Paulo II
publica a encíclica Sollicitudo rei
socialis, onde é desenvolvida a doutrina social da igreja. O segundo
eclipse dá-se a 8 de Abril de 2005 em pleno conclave, depois da morte de Papa
João Paulo II, a 2 de Abril. Bento XVI tornar-se-á papa a 19 de Abril. O eclipse
de dia 20 de Abril será também determinante para os destinos da igreja
católica. Todos estes factos, desde o início da série Saros, permitem que se
observe uma visão de conjunto e se alcance uma totalidade simbólica de
sentido.
Cícero, acerca da velhice, diz-nos algo
que é particularmente importante para esta análise: “Nisto assemelham-se aos que acusam o timoneiro de nada fazer durante a
viagem, enquanto uns trepam pelos mastros, outros correm por entre os bancos, e
outros esvaziam a sentina, segurando, porém, aquele o leme, sentado à popa
tranquilamente. Não faz ele aquilo que os mais jovens fazem, mas, o que faz
fá-lo com maior exigência e melhor. Não se realizam grandes feitos recorrendo à
força, à agilidade ou destreza físicas, antes, pelo conselho, pela autoridade,
pelo prestígio, dos quais a velhice não só não se encontra privada como ainda
os engrandece.” (Catão-o-Velho ou Da
Velhice,
6.17, trad. C. H. Gomes, 23. Lisboa: Biblioteca Independente, 2009). A experiência íntima do tempo
histórico, que aliás é própria da representação astrológica, faz do astrólogo
um timoneiro da demanda do sentido, da consciência plena de que tudo se une,
segundo os ditames da Providência, numa simpatia universal, numa harmonia dos
opostos.
Sob
o horizonte, na Porta do Hades (II), o Sol, a Lua e Júpiter vêm a sua acção
detida sob a sombra do eclipse. O manto de escuridão conduz a acção da luz aos
portões do submundo. Esta é uma posição significativa, pois Plutão (Hades), o
deus que rege o submundo, é o astro mais alto e Saturno apresenta-se como
lanceiro da sizígia e como Estrela da Manhã, com uma visibilidade pós-ascensão
(sextil de Plutão em Aquário ao Sol, Lua e Júpiter em Carneiro). A morte e a
necessidade são a acção que culmina, aqueles que ascende primeiramente até ao
Meio do Céu. Plutão em Aquário e Saturno Peixes marcam determinantemente os
acontecimentos actuais. A morte visita o humano e a justa retribuição será um
sinal do tempo. Porém, a empatia, a compaixão e a solidariedade ressurgem como
vias de ascensão. As lutas pelos direitos sociais e a necessidade de um Estado
Social reafirmam-se hoje, lamentavelmente para um certo pensamento astrológico,
mais por Saturno e Neptuno em Peixes do que por Plutão em Aquário. Lembremo-nos
sempre da máxima de que é o planeta que faz o lugar e não vice-versa. Essa
ideia evitaria muitas simplificações.
Um outro aspecto que marca o tempo
do eclipse e aquele que rege a sua influência é o que liga o Sol, a Lua e
Júpiter em Carneiro, em sextil, a Vénus (e ao Ponto Subterrâneo) em Gémeos e,
em quadratura, a Marte em Caranguejo. Esta conjugação de aspectos, potenciada
pela própria posição de Marte, vai revelar o medo do feminino e um aumento da
misoginia, da violência contra as mulheres e um retrocesso nos seus direitos.
Veja-se, por exemplo, a tentativa de um tribunal norte-americano proibir a
pílula abortiva, disponível e certificado pela FDA há cerca de vinte anos. De
um outro modo, a quadratura de Vénus em Gémeos a Saturno e Neptuno em Peixes e
o trígono de Vénus a Plutão em Aquário transmite-nos a dificuldade de levar ao
outro a mensagem do amor do que move o sol e as estrelas, como diria Dante,
aquele que conduz o herói até à casa da Grande Mãe, da Deusa que é a vida na
morte e a morte na vida. Quando a morte visita o humano (Plutão em Aquário), o
rosto que surge é o de Perséfone, a rainha do submundo que é também a donzela
da Primavera. As estruturas vigentes e as ilusões de um patriarcalismo que
teima em persistir resistem a esta mensagem, mas a palavra do amor terá de ser
a acção do bem (sextil de Vénus a Júpiter).
A posição de Mercúrio, de Úrano e da
Caput Draconis em Touro é especialmente significativa: primeiro, porque Úrano
também se encontrava em Touro no tema do eclipse de 1103, o que iniciou a série
Saros 129; depois, devido à quadratura destes a Plutão em Aquário e deste à
Cauda Draconis em Escorpião. O eixo do valor, ou seja, do viver ao morrer, onde
se estende o Dragão da Lua, a par destas ligações, é um notório sinal dos
tempos. Aqui encontramos o resultado da negação da mensagem que a Mãe Terra nos
transmitia, durante décadas, e que, por teimosia e indiferença, preferimos
rejeitar. O planeta está mudar, quer queiramos, quer não. O deus da morte (Plutão)
não vai espalhar a superficialidade de uma espiritualidade líquida, aquela que
nas últimas décadas do século XX permitiu mudar mentalidades, mas que hoje é
insuficiente. A mensagem anuncia a iminência de uma nova extinção: a extinção
do humano. Ora a forma dessa extinção oculta-se na Natureza e é sibilada pela
Providência. Nós estamos assim perante o enigma esfíngico de renovar o
viver.
Os sextis de Mercúrio e Úrano em
Touro a Marte em Caranguejo e a Saturno e Neptuno em Peixes concedem a
liberdade de agir que pode, se assim o quisermos, ser tanto o leme da vida como
a dádiva da fortuna. Podemos, se encontrarmos o lugar da Deusa, se acolhermos
os dons da Terra, transformar a realidade e aprender a viver conscientemente o
planeta que é a nossa casa. Contrariamente, Marte em Caranguejo une-se
quadrangularmente a Júpiter em Carneiro e triangularmente a Saturno em Peixes.
O medo do feminino contamina, ferindo e dilacerando, o espaço e o tempo. A Era
do Espírito Santo, do Sagrado Feminino, anuncia-se, o tambor na noite marca a
dança e o ritual, mas a maioria teima em renegar esse tempo que se proclama.
Existe uma resistência persistente em aceitar a Deusa que se ergue no céu
estrelado.
Neste eclipse solar, a sombra vai-se
estender sobre a acção, obrigando a redefinir o sentido e o valor. A luz e o
bem terão assim de se firmar e restabelecer a harmonia dos contrários. Com o
eixo nodal a avançar para o eixo Carneiro-Balança, a escuridão cairá sobre a
identidade, obrigando ao esforço de concórdia entre a unidade e a dualidade. A
luz e a sombra são enigma da morte sobre o humano e, perante a inquietação
radical de saber quem somos, é preciso escolher e marcar o caminho.