quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Lua Nova em Aquário: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Aquário

19h05min, 11/02/2021

Decanato: Lua

Termos: Marte

Monomoiria: Marte

 

            O encontro dos luminares dá-se depois do ocaso, estando portanto a luz sob o horizonte e na sexta a contar do Horóscopo. Ora, na Astrologia Antiga, a VI é comummente designada de Má Fortuna (κάκη τύχη) e forma com a XII um eixo que Manílio define do seguinte modo: “porta laboriis erit: scandendum est atque cadendum” (Astronomica II, 870: “a porta do trabalho serão: por uma se sobe e pela outra se desce”). Existe neste lugar uma tensão de incumprimento que é, em certa medida, a mais intensa de toda a estrutura de casas, pois não só não se une ao Horóscopo, como está sob o horizonte. A sua posição é, todavia, compensada pela união benéfica com o Ponto de Culminação (MC), mostrando que a dinâmica do esforço pode torná-la efectiva, desde que a sua passividade se transforme em trabalho, em actividade.

            O novilúnio de Fevereiro ocorre, deste modo, no lugar de Virgem, o mesmo signo que se encontra no Horóscopo e que na lunação anterior se encontrava na Culminação. Se Virgem é o signo do cuidar e Aquário é o signo do transformar, compreendemos pois como uma potencialidade de acção continua a marcar um caminho, sem contudo se efectivar. O facto da Lua Nova dar-se na VI mostra que esta via ainda está por cumprir. Paulo de Alexandria dizia que este era um ἀπόκλιμα φαῦλον, ou seja, um declínio débil, definindo-a igualmente como ποινέ, retribuição, castigo ou vingança (Introdução, cap. 24). Já Fírmico Materno define esta casa como infelix regio (região funesta) ou rebusque inimica futuris (inimiga das acções futuras), dizendo que é vitio fecunda nimis (demasiado fecunda em maldade). Por tudo isto designa a VI de locus piger, de lugar passivo (Mathesis, II, 19, 7).

            A razão pela qual se deve acentuar o valor da casa em que se dá este novilúnio prende-se sobretudo ao enorme potencial que ele encerra. No entanto, é a qualidade da casa que permite que se veja nesse potencial uma acção por efectivar. De igual modo, o facto dos planetas que se encontram em Aquário, junto dos luminares, estarem quase todos sob os raios do Sol confirma essa qualidade primordial, pois estar sob os raios implica sempre uma ocultação. Quando estamos muito perto da luz, não conseguimos ver o que a rodeia. Saturno é único que está para além dos raios, tornando assim a sua acção mais dinâmica. Essa será particularmente intensa na quadratura que faz com Úrano. Não podemos nós ver aqui todas as dificuldades em torno das vacinas? O processo será mais longo que o esperado? A sua eficácia perante as mutações do vírus pode torná-las sazonais? Os países mais pobres continuarão a não ter acesso? E a natureza humana, no seu desejo desmedido de sobrevivência, continuará a corromper todo o processo? Mais uma vez a sabedoria (IX) não está ao serviço da humanidade (VI). Isto é algo que podemos encontrar também na presença de Neptuno em Peixes na VII. A necessidade de empatia e compaixão continua a ser um imperativo e as várias formas de ilusão – os negacionismos – impedem que se preste uma verdadeira atenção ao outro. A negação tem sempre uma agenda de anulação e essa anulação passa por um desvalorizar do outro.   

            Por outro lado, aquilo que se esconde sob raios do Sol - e da Lua - encerra todo um potencial de transformação. A luz do Sol e da Lua, embora sob o manto do horizonte, une-se à dádiva do bem (Vénus e Júpiter). A luz e a dádiva têm entre si, como elemento de passagem, o silêncio, a palavra guardada (Mercúrio Retrógrado). E é a palavra, no ventre do silêncio, cingindo a luz e a dádiva, que se estende até corpo do Dragão da Lua, aquele que vai da sabedoria (Sagitário) ao conhecimento, à expressão dessa mesma palavra (Gémeos). Esse Dragão alonga-se da cabeça à cauda, ladeando o eixo da fundação (IV) ao cume (X), o que reforça o valor do caminho. A sabedoria da palavra torna-se, desta forma, a dádiva da luz. Algo que é confirmado pelo facto da conjunção Vénus-Júpiter se encontrar no decanato de Mercúrio, nas termos de Vénus e na monomoiria de Mercúrio. Existe uma mensagem que está por cumprir e essa mensagem pode ser encontrada tanto no silêncio como na palavra ignorada e rejeitada.

            Se temos, por um lado, uma concentração em Aquário que uns chamam de Stellium e outros, mais antigos, falam de co-presença, pois estar presente implica uma partilha de ser que é temporal e espacial, temos então, por outro lado, o trígono entre de Plutão em Capricórnio (V) e Marte em Touro (IX), mediado por Neptuno em Peixes (VII) e que forma, com cada um deles, um sextil. A partir da V, da Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), a Morte adquire um valor de criação, pois o conhecimento de si transforma a morte em renascimento, e transmite-a para a uma vontade de crescer, para o desejo ardente de ser Deus (a IX, θέος), de resgatar o absoluto que pertence à terra. Esse caminho do valor da morte para o desejo indomável de estabilizar a paixão e vencer o desumano, tornando-se deus, é construído pela via do amor universal (Neptuno). No entanto, para trilhar esse caminho, para passar do amor universal e chegar ao divino, temos de ultrapassar a bênção, que é também um desafio, que se encontra na VI, naquela concentração astrológica que une luz, silêncio e dádiva. Esse é a proposta desta Lua Nova que se estenderá para além da lunação.  

Lua em Aquário: De 10 a 12 de Fevereiro de 2021


Lua em Aquário: das 01h20min de hoje às 07h23min do dia 12.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Tarot - O Liber Mundi: Arcanos Menores - Ouros/Terra

 


Textos acerca de cada dos Arcanos Menores de Ouros, Elemento Terra.

 #tarot #arcano #arcanosmenores #copas #terra #RMdFConsultas 
#RMdFAstrologiaeTarot #RodolfoMigueldeFigueiredo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O Cosmos como Espaço Sagrado e os Atributos Solares de Apolo: Exemplo Textual


Boutsikas , E., 2020,The Cosmos in Ancient Greek Religious Experience: Sacred Space, Memory, and Cognition,71-2.

   Apollo’s strong solar and calendric attributes make him a particularly suitable deity for an investigation concerning astronomical links in religious spaces. This relationship, which continues well into the Roman period, appears in a number of texts from the fifth century BCE. Many of Apollo’s epikleses associate him with the sun: Phoebus, Lykeios, Aigletes (god of light or sun, with a temple on the Aegean island of Anafi), and Apollo Eos (of the Dawn). In literature, the identification of Apollo as Helios (Sun) is widely attested, as are a number of cults linking the two divinities, such as Apollo Helios in Rhodes and Athens and the Boeotian Daphnephoria. We will explore in this chapter how a number of Apollo’s other cults employed solar associations for timekeeping purposes and for shaping the cognitive ecology of the cults, triggering the senses within the religious experience. The sun’s fundamental importance in human existence stands as testimony to Apollo’s cosmic significance. His importance in the Greek pantheon is well known, but the god’s cosmic role is, in addition, palpable in his position as the god of music, which also carried cosmological significance through the sixth-century-BCE Pythagorean ideas of the music of the spheres. Plato, in particular, explains how Apollo directs celestial and musical harmony. Of particular relevance to this study is a third association of Apollo with the cosmos, his relationship with the land of the Hyperboreans, the people of the far north: a place associated, at least in the late sources, with eternal spring and light, where days were of extreme length and nights very short – an ideal ambiance for the god of light.

   In the Homeric Hymn, Apollo, disguised as a dolphin, guides the Cretan ship first to Krissa and then to Delphi, where he founds his cult. This narrative offers an additional layer to Apollo’s cosmic significance. The sea is the primary element from which all gods sprang in the main Greek cosmogonies (Homeric, Hesiodic, and Orphic). The Delphic oracle of Apollo, as the centre of the world, matches the god’s cosmic connotations; a new world order is established by Apollo upon founding the oracle and taking over from the old primeval, chthonic, and destructive powers of the previous occupier. The cosmic significance of Delphi is confirmed in the characteristics of its two divine occupiers (Apollo and Dionysos), according to Plutarch: Dionysos’ presence in Delphi was seen as symbolic of the division of the cosmos into elements, with each god representing different expressions of the ever-changing cosmos. In Plutarch’s analysis, the elements, characteristics, and attributes of the two gods contain cosmic referents. In the example of Delphi, we revisit the idea that places of cosmic significance act as effective carriers of memory. Delphi, as the centre of the world – a notion made explicit in myth but also in the display of the omphalos (navel) – was a focal place of the ancient Greek cosmic structure. 


Boutsikas , E., 2020,The Cosmos in Ancient Greek Religious Experience: Sacred Space, Memory, and Cognition. Cambridge: Cambridge University Press