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Lua Cheia - Eixo Aquário/Leão: Reflexões Astrológicas
Reflexões Astrológica
Lisboa,
03h37min, 24/07/2021
Lua
Decanato:
Vénus
Termos:
Mercúrio
Monomoiria:
Júpiter
Sol
Decanato:
Saturno
Termos:
Júpiter
Monomoiria:
Vénus
O eixo da Lua Cheia de Julho coloca a Lua acima do
horizonte, no seu próprio segmento de luz, no Lugar de Deus (IX), no decanato
de Vénus, termos de Mercúrio e monomoiria
de Júpiter. Por seu lado, o Sol surge no Lugar da Deusa (III), abaixo do
horizonte, fora do seu segmento de luz, no decanato de Saturno, termos de
Júpiter e monomoiria de Vénus. Sendo
por natureza a Lua Cheia um fenómeno astrológico axial, esse carácter
estender-se-á e conjugar-se-á com outros eixos. Por um lado, a Lua Cheia ocorre
no eixo Aquário-Leão, trazendo à representação a dicotomia, também ela axial,
do individual e do colectivo, do pessoal e do social, por outro lado, essa
dinâmica axial surge no eixo dos lugares de Deus e da Deusa, do Deus-Sol e da
Deusa-Lua (IX-III). Ora o potencial axial coloca dois elementos, não numa
verdadeira oposição, mas a olharem-se de frente, a retesarem entre si uma linha,
um fio de Ariadne, que representa tanto uma tensão, própria da polaridade, como
uma harmonia, um encontro ou união amorosa dos opostos – algo que só se
concretiza ou se torna efectivo na Lua Nova ou numa qualquer conjugação.
Com este carácter axial a Lua Cheia de Julho coloca a
tensão na individualidade, no Sol que, na Noite Escura da Alma, perde a sua
luz. A individualidade leonina terá de enfrentar a sombra, terá de olhar-se ao
espelho e fitar a soma das suas vaidades. A presença de Marte no signo de Leão,
mas já fora do alcance dos raios solares, vai frisar e exacerbar a inquietude
radical desta dinâmica. No Lugar da Deusa, o Sol sente a orfandade do feminino
e a perda da palavra. Pelo contrário, a Lua, no Lugar de Deus, irradiando,
brilhando no seu segmento de luz, traz o feminino à espiritualidade, ao pensamento
e, por estar em Aquário, ao humano e à construção contínua da humanidade.
A Lua encontra-se, porém, junto a Saturno. Lembremo-nos
de uma tradição antiga, que contraria a correspondência comum de Ptolomeu (Apotelesmática I, 6, 1), e que nos diz
que Saturno é feminino. Essa é a tradição enunciada, primeiramente, por Doroteu
de Sídon (século I EC), no seu Carmen
Astrologicum (I, 10, 18-19), e que se encontra em harmonia com a doutrina
do segmento de luz (αἵρεσις), sobretudo se considerarmos que
existe um benéfico e um maléfico diurno (Júpiter e Saturno) e um benéfico e um
maléfico nocturno (Vénus e Marte), sendo um masculino e outro feminino. Esta
harmonia dos contrários só existe se Saturno for feminino. Como em todas as
tradições, tende a existir uma fundamentação cultural, filosófica ou
mitológica. Cronos derrota Úrano, castrando-o, com a ajuda de sua mãe, Gaia. É
uma divindade que reúne, também na sua forma romana, fortes elementos telúricos
e ctónicos, enraizando-se portanto na terra-mãe. Por outro lado, a sua
companheira é Reia, a deusa-mãe que se associará a Cíbele. Ora esta deusa,
Reia-Cíbele, a Mãe dos Deuses, é a mesma que Manílio coloca a reger o signo de
Leão, juntamente com Júpiter (Astronomica
II, 447). Existe portanto em Saturno uma subalternância de poder, uma certa
submissão ao feminino, à Necessidade e às Meras - as verdadeiras deusas do
tempo.
A Lua conjunta a Saturno, no Lugar de Deus, associa o
feminino ao tempo e à forma, pois se Júpiter concede a matéria, Saturno força a
forma na matéria. Essa é a tensão da criação. Por estarem em Aquário e no Lugar
de Deus, a Lua e Saturno, sobretudo se tivermos em conta que se opõem ao Sol e
a Marte, vão impor sobre o colectivo, sobre a dimensão social que procura a
revolução do humano, transformando-o e agregando-o numa verdadeira humanidade,
uma necessidade de forma, de construção de uma consciência de si, integrada no
tempo e no meio. A forma do colectivo, quando burilada com grande esforço pela
individualidade, exige sempre um espírito de serviço e uma vontade desapegada.
É preciso queimar no fogo da consciência a soma de todas as vaidades. Ora esse
esforço vai encontrar necessariamente Úrano em Touro (quadratura), no Mau
Espírito (κακός δαίμων), revelando que a sombra revoltada
da Terra paira sobre o mundo. A natureza está cansada dos seus opressores e,
como um animal ferido ou uma fêmea protegendo as suas crias, mostrará as suas
garras e o seu ferrão.
Paralelamente, temos Júpiter em conjugação quase exacta à
Culminação (MC), despedindo-se - até voltar - do signo de Peixes. Ora no Ponto
Subterrâneo, em posição diametral, temos Vénus, recém-chegada à constelação de
Virgem. Os benéficos estendem-se, desta forma, da fundação ao cume. Por estar
no seu próprio segmento de luz, embora abaixo do horizonte, Vénus é o benéfico
cuja luz é mais intensa. No entanto, Júpiter, apesar de estar fora do seu
segmento, acima do horizonte e retrógrado, colhe a luz de Vénus. A posição dos
benéficos, neste plenilúnio, é como um feixe de luz, um raio fulgente que
espalha o desejo (Vénus) de verdade (Júpiter), o Amor e a Justiça. Neste eixo
zodiacal, os benéficos pedem que não se perca o serviço ao próximo, o acto
desapegado de cuidar do corpo e da alma.
Com os benéficos a olharem-se de frente, a luz que se une
por distinção, e não por conjugação, não se limita a si própria, jorra como uma
dádiva, um dom do céu. Vénus (IV) une-se diametralmente a Neptuno (X) e
triangularmente a Úrano (XII) e a Plutão (VIII). Já Júpiter une-se por presença
a Neptuno (X) e hexagonalmente a Úrano (XII) e a Plutão (VIII). Estas uniões apresentam
também o modo como, neste momento, os planetas transpessoais se unem: Úrano em
Touro em sextil a Neptuno em Peixes; Neptuno em sextil a Plutão em Capricórnio;
e Plutão em trígono a Úrano. A tessitura ou a urdidura destas relações surgem
como uma síntese dos nossos tempos e como uma proposta de futuro. Com os
benéficos vigiando, concedendo a sua dádiva, a revolução da terra (Úrano em
Touro), a compaixão como unicidade (Neptuno em Peixes) e o poder da morte
(Plutão em Capricórnio) transformam a nossa realidade. Estas posições trazem
consigo o dom da possibilidade. Não obrigam a mudança, mas estão lá, umas vezes
discretas, sussurrando, outras vezes pujantes, clamando e gritando pelas
transformações necessárias.
Mercúrio em Caranguejo, no Lugar do Modo de Vida, do
Viver, resume o valor da origem enquanto palavra, enquanto instrumento criador.
A comunicação fixará na tradição, no passado, no valor da vida e da morte, a bênção
do conhecimento. Esse potencial da palavra como origem é particularmente
expressivo pelo facto de Mercúrio (II) se unir de forma benéfica a Vénus
(sextil) e a Júpiter (trígono), mas também a Úrano (sextil) e a Neptuno
(trígono). Com esta união, a palavra torna-se uma dádiva, um dom de transformação.
Nesta posição, o valor do conhecimento trará consigo a alegria de um despertar,
de um renascer. É como se encontrássemos um manuscrito perdido e ao lê-lo
descobríssemos um novo mundo, um novo humano. A descoberta dos manuscritos de
Nag Hammadi trouxe essa sensação. Esta é a origem como potencial de transformação.
Porém, a potência da criação carrega consigo, como um desígnio inaugural, a
potência da destruição. A morte é a sombra da vida. Com Mercúrio (II) em
oposição a Plutão (VIII), a palavra como valor da vida encontrará a qualidade
da morte, o seu poder. Plutão no Lugar da Morte é o deus Hades a subir à terra
e a raptar Perséfone. É o lamento de Deméter, o Inverno e a destruição sobre o
manto de Gaia, daí que seja o senhor de pestes e pandemias, de incêndios e
secas, de vulcões e erupções.
À semelhança daquilo a que assistimos na Lua Nova de
Julho, a oposição de Marte a Saturno e a quadratura destes a Úrano continua a
ser, por excelência, o principal elemento de tensão neste novilúnio. Porém, no
novilúnio, este posicionamento recaía sobre os pólos, os pontos cardeais (κέντρα), mas agora situa-se em casas
cadentes, o que naturalmente reduz a sua condição malévola. A acção destes
planetas continuará todavia e os seus efeitos trarão tensão e destruição,
externa e interna. No entanto, o corpo do Dragão estende-se sobre o horizonte, troando
a importância da viagem da palavra à sabedoria e da sabedoria à palavra. Essa continua
a ser uma mensagem para o futuro.