terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Ibn Ezra, o Livro do Mundo e a Grande Conjunção: Exemplo Textual




Ibn Ezra, Abraão, Livro do Mundo: Primeira Versão (Sefer ha-'Olam), ed. S. Sela, 20-21:

20 (1) In a great conjunction, then, observe the sign of the ascendant at the moment of the luminaries’ conjunction or opposition, whichever of them occurs last before the Sun enters Aries. (2) Also observe the sign of the ascendant at the moment of the luminaries’ conjunction or opposition before the Sun enters the quadrant where the great conjunction will occur. (3) Also observe the sign of the ascendant at the moment of the luminaries’ conjunction or opposition, whichever takes place <last> before the great conjunction, during the month when the conjunction takes place. (4) Now, if the conjunction takes place in Aries, there is no need to observe another sign of the ascendant; only one <is necessary>. (5) But if <it takes place> in any of the other quadrants, sometimes it is necessary to observe another sign <of the ascendant> together with the first and sometimes it is necessary to observe two <more>. (6)This happens when the conjunction does not take place in the first sign of the quadrant.

21 (1) At the time of the conjunction observe the characteristics of Saturn and Jupiter. (2) Find out which of them is closer to apogee or perigee on their great circle, whose center is different from the center of the Earth. (3) Also observe which of them is closer to apogee on its epicycle, whether both are direct in their motion or retrograde, whether their latitude is southern or northern and how many <degrees> is its latitude, and observe which of them has lordship in its place. (4) So if you find that Saturn is closer to apogee than Jupiter, or that its latitude is northern whereas Jupiter’s is southern, or that it is on the ecliptic, or that Saturn’s northern latitude is greater than Jupiter’s northern latitude, or that Saturn is on the ecliptic whereas Jupiter’s latitude is southern, or that both are southern but Saturn’s latitude is less than Jupiter’s, or that Saturn is in a place where it has lordship, then it [Saturn] portends that an ancient nation, regardless of where it resides, will not be defeated and will not go into exile. (5) Due to Saturn’s nature, hate, jealousy, enmity, contention, hunger, and various illnesses will increase in the world. (6) But if Jupiter has all the power we have allotted to Saturn, it portends that a new people will overcome the ancient people and that royal authority will pass from one nation to another.



Fonte:

Sela, S., 2010, Abraham Ibn Ezra: The Book of World - A Parallel Hebrew-English Critical Edition of the Two Versions of the Text, 64-67.
Leiden/ Boston: Abraham Ibn Ezra’s AstrologicalWritings, Vol. 2, Brill.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Jung e a Astrologia: Exemplos Textuais



Carl Gustav Jung, CW 15, “Richard Wilhelm: In Memoriam” (1930), par. 81:

[81] Its value is obvious enough to the psychologist, since astrology represents the sum of all the psychological knowledge of antiquity.


Carl Gust Jung, Letters I, “To L. Oswald, 8 December 1928”:

You are quite right in supposing that I reckon astrology among those movements which, like theosophy, etc., seek to assuage an irrational thirst for knowledge but actually lead it into a sidetrack. Astrology is knocking at the gates of our universities: a Tübingen professor has switched over to astrology and a course on astrology was given at Cardiff University last year. Astrology is not mere superstition but contains some psychological facts (like theosophy) which are of considerable importance. Astrology has actually nothing to do with the stars but is the 5000-year-old psychology of antiquity and the Middle Ages. Unfortunately I cannot explain or prove this to you in a letter.


Carl Gustav Jung, Letters I, “To Sigmund Freud, 12 June 1911”:

My evenings are taken up very largely with astrology. I make horoscopic calculations in order to find a clue to the core of psychological truth. Some remarkable things have turned up which will certainly appear incredible to you. In the case of one lady, the calculation of the positions of the stars at her nativity produced a quite definite character picture, with several biographical details which did not belong to her but to her mother – and the characteristics fi tted the mother to a T. The lady suffers from an extraordinary mother complex. I dare say that we shall one day discover in astrology a good deal of knowledge that has been intuitively projected into the heavens. For instance, it appears that the signs of the zodiac are character pictures, in other words libido symbols which depict the typical qualities of the libido at a given moment.



Fonte:

Jung, C. G., 2018, Jung on Astrology,
Selected and Introduced by S. Rossi and K. Le Grice, 23-25.
Londres/ Nova Iorque: Routledge.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O Daímon de uma Palavra (Poesia)

Rubens, Peter Paul, The Fall of Icarus, 1636.
Bruxelas: Musées Royaux des Beaux-Arts.


O Daímon de uma Palavra


Como podes não ser
Esse ser de passagem
Que sozinho persegue
A sagacidade do bem
E sozinho tenta e recua
Na condescendência
Do mal imenso



18 de Agosto de 2018
RMdF

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Revoltada a Rosa (Poesia)

Botticelli, Sandro, Retrato de Dante, c.1495.
Colecção Privada.

Revoltada a Rosa


E não o albo dissidente
Da áurea cidade exilado
O nobre poeta universal
Não cai como corpo morto cai
Cai vivo inteiro na morte sua
Praguejando e pelejando
Revoltado voraz e triste
Consciente do que se perdera
Cai vivo inteiro na morte sua
Para uma cidade em queda
E uma divina amada já caída


8 de Outubro de 2019
RMdF

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Astrologia Electiva: Consulta


Astrologia Electiva

A Procura da Hora Certa


CONSULTA



Esteja onde estiver, agende uma consulta de Astrologia Electiva e conheça o momento ideal para uma qualquer acção ou evento. Com recurso às mais antigas técnicas astrológicas, por telefone, video-chamada, e-mail ou presencialmente, pode eleger o tempo certo para os principais acontecimentos da sua vida.

Com o recurso à Astrologia Electiva, pode, por exemplo, marcar a melhor data para um casamento, escolher o período ideal para engravidar, para criar uma empresa no momento mais favorável ou para  lançar um projecto no hora mais propícia.

Numa consulta de Astrologia Electiva, podemos ainda relacionar, se necessário, a procura da hora certa com o seu tema natal (Astrologia Natal ou Genetliacal) ou com o estudo do lugar do em se encontra ou onde um determinado acontecimento vai ocorrer (Astrocartografia).

Basta indicar-nos o que pretende saber, qual o momento ideal que quer conhecer, que nós apresentar-lhe-mos a informação astrológica necessária para um escolha esclarecida.  

Se precisar de alguma informação adicional, estou à vossa disposição. 


#rmdfastrologiaelectiva #rmdfastrologia #rmdfconsultas #rmdfastrologiaetarot

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Velho que Não Escutava o Riso dos Golfinhos (Um Pequeno Conto)

Raffaello, Sanzio, The Voyage of Galatea, 1511.
Roma: Villa Farnesina.

O Velho que Não Escutava o Riso dos Golfinhos

(Um Pequeno Conto)


  Um velho quase cego, sentado em frente ao mundo, tentava resgatar o sonho da memória. Simplício não procurava rememorar uma outra vida. Queria sim recuperar o riso perdido. Queria deslumbrar-se com aquela inocência singular, com aquele doce despertar. Queria fitar e esconder para si a paleta da realidade, as matizes que se estendiam sem esforço sobre o seu olhar, mas a doença que a fere a vida deixou-lhe apenas vultos e sombras, formas ocultas e memórias disformes. Simplício perdera o horizonte.

  Naquele dia, depois de tentar tornar nítido o fumo espesso, Simplício percebeu, sem necessidade de recorrer aos sentidos, que existia, mesmo diante de si, uma novidade, uma expressão inaugural que colhia o bater de asas de um anjo. Um demiurgo estava de passagem. Porém, o som da origem foi suspenso por um acorde demoníaco. Na harmonia delicada das asas ondulantes, existia agora uma dissonante tensão, um melodioso conflito que surgia porque algo estava para nascer. Simplício que perdera a cor acreditava que nada podia nascer, que não existia nada para criar. Era tudo sombra. Contudo, o homem caíra no seu próprio erro. O nevoeiro era mera ilusão.

  A nuvem tornava-se mar e os vultos ganhavam a forma de ondas. O velho pensou que o Sol brincava com ele, que a sua luz gerava uma desejada fantasia. Foi então que a maré lhe ofertou o perfume da maresia. O aroma tornava-se memória e Simplício regressava a si. O tempo já não se alongava em fio de tecedeira, era um aro num jogo de criança. Tudo regressava à origem. Simplício voltava à casa que nunca conhecera. Aquele areal, aquele mar, aquele vento eram o lugar da memória, pois o que permanece é o que se lembra e o que se imagina. O homem estava sentado, com as mãos apoiadas na bengala, ceifando aqueles raios de luz e, sem que desse conta, uma forma furtou-lhe a imagem. Diante de si, contornado pelo Sol, um menino quebrara-lhe a memória, o sonho e a ilusão.

  - Saí da frente, fedelho! Não vês que me tiras o Sol.
  - Como lhe posso tirar o Sol se o Sol é todos?
  - Criatura insolente! Já não há educação. Os pais não educam as crianças. No meu tempo, levava uma galheta que ficava logo em sentido.
  - Desculpe, não o queria ofender, só lhe tentei dizer que não lhe posso tirar o que não é seu, mas não se zangue que eu desvio-me. O senhor estava a ver o quê?
  - Nada que te diga respeito.
  - É que o senhor olhava em frente quando estão todos a olhar para a sua esquerda. Toda a gente quer ver os golfinhos.
  - Miúdo, tu não vês que eu sou cego.
  - Não tem de ver, basta ouvir o riso dos golfinhos.
  - Eu não oiço nada.
  - Esteja atento. Parecem gargalhadas.
  - Não oiço nada. Ora esta, não é que o raio do miúdo não me deixa em paz. Vai para ao pé dos teus pais. O teu lugar não é aqui.
  - Eu gosto deste lugar. É tão bom ouvir o riso dos golfinhos. Eles falam a rir.

  Simplício estava incomodado com a presença da criança. O velho sabia que só via sombras, mas sempre ouvira bem. Diziam-lhe até que tinha ouvidos de tísico. Como podia não ouvir o riso golfinhos? A questão inquietava o homem.

  - Ó miúdo, diz-me para onde me devo virar. Onde estão os tais golfinhos?
  - Para este lado, eu ajudo-o – menino, levando o velho pela mão, sentou-o em frente aos golfinhos.
  - Aqui estou bem?
  - Sim, está. Oiça agora. Os golfinhos estão a gargalhar. Riem como se ouvissem uma piada. Sabe como aquelas que nos fazem chorar de tanto rir.
  - Não oiço nada. Estás a enganar-me. Estás a gozar comigo. Sai, sai já daqui ou dou-te umas bengaladas!

  A criança desapareceu, deixando o velho na sua própria angústia. Simplício não conseguia escutar o riso dos golfinhos. A ausência condenara-lhe a possibilidade. A audição sempre lhe compensara o limiar da cegueira, todavia a dúvida cercara-lhe a certeza. Se não podia confiar no que ouvia, tinha de se firmar nos vultos e deixar-se assombrar pela confusão das coisas. No entanto, não se dera por derrotado. Simplício, já que não conseguia ouvir o riso dos golfinhos, queria afastar a poeira do olhar e deter-se nas suas próprias sombras. Focava-se no horizonte perdido e procurava aqueles seres de passagem, todavia, nenhuma forma esfumada cavalgava as ondas da sua imaginação. O seu mar era apenas o tempo que avança e recua, o perfume de sal espesso que lhe tocava o sopro e o desalento. Nada existia naquele oceano revolto. O Sol sulcava-lhe as rugas e a penumbra de luz ferida vertia-se numa única lágrima. Nos vultos serpentinos, os golfinhos permaneciam indeterminados. Simplício desistiu. Deixou que o rosto cobrisse a escuridão. Colocou as mãos na bengala e baixou a cabeça.

  Passados alguns minutos, que se assemelhavam a horas de mergulho profundo, o homem ergueu a face tombada. Não havia nem mar, nem ondas. Simplício estava num banco de jardim, observando as sombras de passagem, gente que corria, gente que, sem mar, se afogava. Aquele era o seu lugar. Numa quietude sem espanto, o velho observava a vida dos outros. Porém, aquela outra viagem esvaziara-lhe o interesse. Simplício levantou-se e, apoiado na sua bengala, caminhou até casa. Subiu as escadas estreitas, baixou a cabeça para entrar e suspirou. Sem qualquer alento, deu desprezo ao Sol do crepúsculo e correu as cortinas. Puxou as orelhas da cama, para lá do seu próprio rosto, e dormiu. Nessa noite, Simplício sonhou com golfinhos. 


RMdF