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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Lua Cheia - Eixo Peixes/Virgem: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas


Lunações


Lua Cheia: Eixo Peixes – Virgem

Lisboa, 00h55min, 21/09/2021

 

Lua

Decanato: Marte

Termos: Saturno

Monomoiria: Júpiter   

 

Sol

Decanato: Mercúrio

Termos: Saturno

Monomoiria: Mercúrio 

 

  O eixo da Lua Cheia de Setembro coloca a Lua em Peixes acima do horizonte, no seu Segmento de Luz, no Lugar de Deus (IX), no decanato de Marte, termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Por seu lado, o Sol em Virgem surge no Lugar da Deusa (III), abaixo do horizonte, fora do seu Segmento de Luz, no decanato de Mercúrio, termos de Saturno e monomoiria de Mercúrio. Quem quer que tenha observado o tema da Lua Nova de Setembro, concluirá que existe uma grande semelhança com o da Lua Cheia, firmando-se assim o sentido profundo proposto no novilúnio. À excepção da natural mudança da Lua, mudam de signo e de lugar somente Vénus (da IV para a V, de Balança para Escorpião) e Marte (de III para IV, de Virgem para Balança). Propõe-se, desta forma, uma releitura da reflexão anterior, visto que a maioria das posições e aspectos é igual.  


  A regência da deusa Deméter (Virgem) estende-se portanto da Lua Nova até à Lua Cheia, porém, pela natureza axial de um plenilúnio essa regência é partilhada. Poseídon (Peixes) assume o seu lugar no eixo. Porém, pelo facto de tanto o Sol como a Lua se encontrarem nos termos de Saturno e por este ser o maléfico que se encontra fora de seu segmento, o mito que melhor descreve esta relação é o da Deméter Negra.


  Pausânias, na sua Descrição da Grécia (VIII, 42, 1-13), conta-nos que no Monte Elaios, perto da Figália, na Arcádia, existia uma caverna sagrada, dedicada a Deméter Melaina (μέλαινα), a Negra. Segundo os locais, depois de Poseídon se ter unido a Deméter, ambos sob a forma de cavalos, pois o deus dos mares perseguira a deusa da agricultura quando esta procurava a filha, Cora ou Perséfone, raptada por Hades, e, para se esconder, a deusa transformara-se em égua e escondera-se no meio de uma manada, mas o deus, sob a forma de um garanhão, encontrou-a, da união nasceu um filha e não um cavalo. Essa é pelo menos a tradição local, pois segundo outros nasceu uma filha e um cavalo divino, Árion. O nome da filha está todavia reservado aos iniciados, sendo apenas conhecida por Despoina (δέσποινα), a Senhora.


  Ora Deméter, furiosa com Poseídon e pesarosa pela violação da filha Perséfone, refugia-se na referida caverna. Sem a sua presença, os frutos da terra pereceram e a espécie humana morria de fome. O deus Pã, ao visitar a Arcádia, encontrou a deusa na caverna e espiou-o, vendo-a vestida de negro, de um profundo luto. Avisou então Zeus que enviou as Moiras. As deusas do tempo e do destino - expressões femininas de Saturno - convenceram a deusa a moderar o seu lamento e a acalmar a sua ira. E assim a terra tornou-se, de novo, fértil e na caverna foi colocada uma imagem de madeira da deusa negra com cabeça de égua.


  Este mito representa na perfeição a mensagem da Lua Cheia de Setembro, a mesma que se estende desde a Lua Nova. A luz oculta do Divino Feminino terá de brilhar de novo. A fertilidade da terra, do corpo e do espírito é a bênção da sua presença. No entanto, o mito também nos avisa dos perigos da sua ausência. Na caverna escura, o feminino agrilhoado desequilibra o mundo. Não existe harmonia se a Mãe Divina não ocupar o seu lugar. Se a Sabedoria continuar a passar por entre nós e não for reconhecida, se a insultarem e dela abusarem, as trevas cairão sobre a terra e sobre todos nós. Essa é a mensagem de Júpiter e Saturno retrógrados no Lugar da Morte (VIII) e de Plutão poente (VII), bem como das relações que estes tecem (aspectos).


  O eixo Peixes-Virgem neste plenilúnio entrega-nos, como uma dádiva no caminho, o serviço como via de salvação. “A solidariedade não é facultativa”, deixou-nos escrito o Presidente Jorge Sampaio pouco antes da sua partida. A empatia e a compaixão são uma visão de totalidade (Lua em Peixes conjunta a Neptuno em Peixes no Lugar de Deus, IX) e saber colher as suas dádivas é um esforço que transforma o mundo. O serviço alicerçado na solidariedade (Virgem) e na compaixão (Peixes) tem um enorme poder de mudança. Este último eixo zodiacal colhe a dádiva do fim e da finalidade e integra a unidade do humano na totalidade da humanidade e do divino. A necessidade coloca, para a hora de Lisboa, os dois eventos lunares (Lua Nova e Lua Cheia) no mesmo signo Ascendente. Caranguejo marca a hora. O signo da origem traz consigo o cuidado maternal, a Grande Mãe. E, culminando, com a luz da Lua e de Neptuno, Peixes colhe o olhar do cume que fita tanto o horizonte como o abismo.


  Face ao tema do novilúnio e agora ao tema do plenilúnio e à posição dos luminares, notamos primeiramente que o grande benéfico, que é uma vez mais Vénus, surge agora com ligações favoráveis ao Sol (sextil) e à Lua (trígono). A luz do feminino, embora ainda sob o véu de Ísis, torna-se mais forte. Por outro lado, Mercúrio, que antes colhia as bênçãos de Vénus, afirma-se agora com a força de Marte. A palavra não cria harmonia e as ideias antagónicas tornam-se uma fonte de hostilidade. A união de Mercúrio e Marte em Balança cria um elemento de passagem entre a harmonia e o conflito, entre a paz e a discórdia. Esse elemento é a força da palavra, o impulso radical do conhecimento, que pela informação eleva e pela desinformação destrói. No entanto, Mercúrio surge como Estrela da Tarde, para além dos raios solares, e anunciando a sua retrogradação, ou seja, a palavra torna-se pensamento e introspecção, sentimento e intuição.


  Marte, embora esteja num signo diferente, está sob os raios do sol. Porém, como é sabido, segundo a tradição antiga, Marte é o único que não se deixa afectar pelos raios fulgentes, abrasivos, do Sol. Ora, estando o Sol junto ao Ponto Subterrâneo (IC) e Marte no Lugar sob a Terra (IV), existe um carácter visceral e abissal nesta ligação. No útero da terra, a força da luz (Sol e Marte) surge como passagem, como proposta de sentido, entre o serviço e a harmonia. Contudo, esta é um elemento contido no interior da terra, no abismo da realidade. Esse carácter de luz oculta, de potencialidade não efectivada, pois Marte está em exílio, firma-se também, por um lado, na relação benéfica com o Dragão da Lua (trígono à Caput na XII e sextil à Cauda na VI), embora este esteja em lugares nocivos, e, por outro lado, nos trígonos a Júpiter e Saturno e na quadratura a Plutão.


  No que concerne a Júpiter e Saturno deve seguir-se a regra de Nechepso e Petosíris (F38 Riess), que diz nem todas as quadraturas são más, contrariamente, nem todos os trígonos são bons. No entanto, estes conservam o potencial do bem, dizendo-nos aqui que a força da luz (Marte e Sol) encontra a morte no espaço e no tempo, na justiça e na necessidade (Júpiter e Saturno na VIII), ou seja, o humano morre perante a afirmação do limite, do limiar e da limitação, e só na luz poderá renascer. Face à finitude, a vaidade torna-se serviço e a harmonia surge da integração do humano na humanidade.


  Vénus, a dádiva do bem e a bênção do feminino, surge aqui na sua queda, escalando o abismo. O amor entra assim no templo e conhece o mistério da morte. E, vencido o medo, agora em Escorpião e no Lugar da Boa Fortuna, (ἀγαθή τύχη), verte o néctar da Cornucópia da Abundância, não sobre o comum, mas sobre o eleito. Nesta posição, e apesar do ser o benéfico mais favorecido, por estar no seu Segmento de Luz, Vénus está em exílio, sob o horizonte, ou seja, a partir da noite escura, da origem da criação, o amor propõe uma via iniciática.


  Esta posição de Vénus em Escorpião, embora surja no tema plenilúnio de modo favorável, indica também o medo do feminino e a opressão da mulher. E não são os nossos dias um tempo de agressão para a mulher, quando já tudo deveria ser diferente? As quadraturas de Júpiter e Saturno a Vénus revelam a dificuldade social e colectiva, ainda dominante, de expressar os direitos da mulher e de pensar o feminino, em especial, o Sagrado Feminino. Já a oposição entre Úrano (XI) e Vénus (V), colocada entre Touro e Escorpião, entre o viver e a morte, entre o valor e a finitude, é mais um alerta sobre a vida do planeta que habitamos e de como as agressões à Mãe Terra condicionam os tempos futuros. 


  Por outro lado, o trígono de Vénus em Escorpião (V) a Neptuno em Peixes (IX), bem como o sextil de Vénus a Plutão em Capricórnio (VII), acentua o carácter de Vénus enquanto grande benéfico do plenilúnio. A dádiva do bem coloca o amor sobre a morte. A união das expressões do amor (Vénus e Neptuno) transmite sempre uma visão de totalidade e a capacidade de estar na parte como no todo. O vencer a morte consiste nessa acção libertadora de transformar o momento ou o instante em eternidade. Essa é uma das lições que podemos colher, sobre o olhar vigilante de Deméter, nesta Lua Cheia. 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Lua Nova em Peixes: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Aquário


10h21min, 13/03/2021

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Sol

 

   Esta é a primeira Lua Nova de 2021 que se fixa acima do horizonte. Uma mudança que começou a ser sentida, embora com menor intensidade, na Lua Cheia de Fevereiro. O Sol está no seu próprio segmento de luz (αἵρεσις), distribuindo, desde modo, a sua luz com Júpiter e Saturno, ambos no seu segmento. Existe, neste novilúnio, devido à posição que ocupa, um sentido profundo que o coloca entre a síntese de Peixes e a culminação partilhada de Aquário e Peixes. Esta é uma significação mediada pelo facto dos luminares (23º03’) se encontrarem já muito perto do lugar exacto da exaltação de Vénus (27º), para onde esta também se encaminha. Esse é o Amor que, como diria Dante, “move o Sol e as outras estrelas”.  


   O tema deste novilúnio apresenta dois elementos que evidenciam a escolha do sistema de divisão casas. O sistema de casa-signo ou de signo inteiro é o modelo mais antigo de divisão de casas, utilizado com alguma certeza a partir do século I AEC. Neste sistema, o signo em que recai o Horóscopo (Asc.) marca toda a primeira casa e, partir deste, a cada casa corresponde um signo. Por consequência, o Meio do Céu pode coincidir, ou não, com a Casa X. Este sistema possui uma simplicidade natural, firmada no valor do Horóscopo. No caso da Lua Nova de Março, o primeiro elemento concerne à posição de Marte. Noutro sistema de casas, Marte recairia na XII. No entanto, Marte é a “estrela” que está a ascender. Ptolomeu tentou conciliar o facto do eixo horizontal marcar a ascensão e o declínio das estrelas com o sistema anti-horário de casas ao iniciar a primeira casa cinco graus antes do Horóscopo. Ora esse critério tão discutido por historiadores e astrólogos acentua um dos benefícios do sistema casa-signo. O outro elemento é o facto do Meio do Céu cair na IX, a Casa de Deus como diriam os antigos. Esta posição contribui para a análise dos astros que se encerram entre Plutão em Capricórnio (26º19’) e a sizígia do Sol e a Lua em Peixes (23º03’), ou seja, em cerca de 60 graus encontramos todo um espaço de culminação.          


   A X e o Meio do Céu representam, no sistema antigo, a Práxis, aquilo que se faz, a efectivação da potencialidade. Ora a união dos luminares com Neptuno e Vénus na X consubstanciam a prática do Amor Universal e a necessidade de cultivar e expandir a compaixão e a empatia. A Vénus em Peixes tem sido associada à sereia, porém, a origem desta significação vai para além da figura mítica da tentadora de marinheiros. Pausânias, na sua Descrição da Grécia (VIII, 41, 1-6), diz-nos que Eurínome, a deusa-mãe dos pelasgos, aquela que governou o Olimpo com Ofíon, a grande serpente, antes de Cronos e Reia e Zeus e Hera, era adorada num santuário perto de onde os rios Neda e Límax confluem. Na Figália, na agreste Arcádia, o lugar exacto do santuário é desconhecido, mas sabe-se que, uma vez por ano, uma imagem de madeira, presa por correntes de ouro, de uma figura metade mulher, mulher peixe era exibida. Vénus em Peixes representa Eurínome, uma deusa da origem, a senhora que emergiu das águas primordiais e criou o mundo e os humanos.     


   Por outro lado, junto ao Meio do Céu, a cinco graus, à esquerda e à direita, estão Saturno e Júpiter. O tempo e o espaço unem-se ao eixo de culminação, na Casa de Deus, no signo de Aquário, para apresentar a proposta de um novo mundo, um mundo unido ao Amor que com eles também culmina. Por fim, na Casa da Morte, a VIII, a caminhar lentamente para o fim da sua viagem por Capricórnio, está Plutão. O Rei do Hades, senhor de pestes e vulcões, traz consigo, gravado no pórtico da vida, o Et in Arcadia Ego, a lembrança permanente de que a morte também vive na Arcádia. A finitude deve ser para a humanidade um sentido de finalidade. A proposta de todo este espaço de culminação anuncia assim, cantando ao som de Hermes e Pã, a chegada da Idade do Espírito do Santo, aquela que une o Amor de Deus ao Amor da Humanidade, e iluminando, a partir do cume do céu, está a Senhora do Mundo, a Mãe da Humanidade.


   Do Horóscopo em Gémeos, firmando uma mensagem que se tem acentuado desde o início do ano, nasce a viagem da palavra à sabedoria e da sabedoria à palavra. O corpo do Dragão da Lua, enrolado no eixo horizontal, potencia a necessidade dessa viagem circular. Porém, a presença de Marte faz da palavra, como da cantiga, uma arma que vence os opressores, aqueles que impedem a viagem, ou que se torna opressão. Devemos nos lembrar, porém, que a sabedoria difere do conhecimento por causa da sua visão de totalidade e a sabedoria não pode imperar no mundo se nele existir injustiça e desigualdade, daí que a Cauda do Dragão (termos de Vénus, decanato da Lua) e o Ocaso (Desc.) se unam, em sextil, à Casa de Deus e àqueles que nela habitam. A sabedoria só culmina se integrar toda a humanidade. Essa é a visão de totalidade da Mãe do Mundo. Por outro lado, Úrano na XII, na Casa do Mau Espírito, do lugar que se oculta, assombra a Mansão de Deus. Esta quadratura coloca em tensão aquilo que une e desune a humanidade no seu próprio tempo, mas também a sua apreensão do tempo passado e a projecção no tempo futuro. Para servir um humano em remissão, nega-se o tempo e a história, validando ditadores e totalitarismos e tornando criminosos em heróis.


   Os laços de aspecto que se constroem entre o Horóscopo e a X e o Horóscopo e a IX obrigam a relembrar um fragmento (F38) de Petosíris (150-50 AEC), aquele sacerdote que, depois de Hermes e junto de Nechepso, ajudou a criar a astrologia tal como a conhecemos. Este antigo astrólogo diz-nos que as quadraturas não são necessariamente más, podendo existir nelas uma grande força activa (μεγίστην ἐνέργειαν) que indica um carácter operativo e actual, ou seja, pode existir nelas um poder de efectivação que as torna benéficos. Ora isto existe em particular nas quadraturas que se fixam junto aos κέντρα (pontos cardeais ou angulares). Neste novilúnio, existe uma unidade que, mesmo com aspectos de suposta tensão, torna activa toda uma proposta de transformação do mundo e do humano. O Eterno Feminino eleva-se assim sobre o mar.