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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Eclipse Lunar Parcial (Lua Cheia: Eixo Touro – Escorpião): Reflexões Astrológicas

Reflexões Astrológicas

Eclipses



Eclipse Lunar Parcial

 (Lua Cheia: Eixo Touro – Escorpião)

Lisboa, 08h 57min 26s, 19/11/2021

 

Lua

Decanato: Saturno

Termos: Marte

Monomoiria: Júpiter

 

Sol

Decanato: Vénus

Termos: Saturno

Monomoiria: Sol

 

            O eclipse lunar parcial de 4 de Novembro é o último eclipse lunar de 2021, o último eclipse lunar parcial de eixo nodal Gémeos-Sagitário, tendo o eclipse de 25 de Maio sido o último eclipse lunar total. Por outro lado, o eclipse de dia 4 de Novembro é o primeiro de um conjunto de eclipses no eixo Touro-Escorpião. Este eclipse pertence à série Saros 126 e nesta é o primeiro eclipse parcial da segunda fase, ou seja, daquela que se segue aos eclipses totais. Na série Saros 126, os eclipses principais, aqueles que marcam o início ou o fim de uma fase, indicam uma posição lunar que ocorre essencialmente em signos de Ar, Terra e Fogo. Existe uma ausência significativa da Água nas posições lunares dos principais eclipses desta série, revelando como o potencial criativo, imaginativo e artístico é menor. O princípio de vida encontra-se comprometido, porque a Água é condição de vida, daí que a fome e a guerra marquem esta série Saros.

            O primeiro eclipse da série ocorreu a 18 de Julho de 1228 (CJ), com a Lua em Aquário. Ora o último eclipse da série dá-se a 19 de Agosto de 2472, novamente com a Lua em Aquário. O signo do humano e da humanidade surge com uma luz eclipsada, ou seja, não colhe a luz solar, o espírito do intelecto agente. E, com a Lua em Aquário, não consegue colher a excelência (ἀρετή) da individualidade leonina. Se considerarmos o exemplo do primeiro eclipse da série Saros 126, compreendemos que, nesse momento, o mundo e, em especial, a Ásia passava por grandes transformações. Genghis Khan morrera no ano anterior (18/08/1227) e, no período que se segue, o império mongol será dividido em quatro canatos. Por outro lado, dois dias antes do eclipse de 1228, São Francisco de Assis é canonizado pelo Papa Gregório IX. Ora no tema deste eclipse, Neptuno em Touro está em trígono a Vénus e Plutão em Virgem. O voto de pobreza e a ligação à natureza e aos animais marcam a vida de São Francisco, bem como este aspecto. Convém também salientar-se, a respeito deste eclipse, que, em 1228, Saturno encontrava-se em Aquário tal como hoje se encontra, o que, juntamente com a posição lunar que fixa o início e o fim da série Saros, concede um sentido profundo ao potencial humano do aguadeiro.

            O fim da primeira fase penumbral da série Saros 126 ocorre com o eclipse de 13 de Março de 1607. Este eclipse, tal como o primeiro da primeira fase parcial, a 24 de Março de 1625, serve para mostrar como existe um denominador geográfico, que se estende até hoje, na extensão da sombra, ou seja, na visibilidade do eclipse. Em 1607, é criada, na Virgínia, a colónia britânica de Jamestown e, em 1625, é fundada a Nova Amesterdão, também na América do Norte, pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. De outro modo, na península malaia, em 1607, Iskandar Muda torna-se sultão de Achém e lança uma ofensiva naval pelo território indonésio, hostilizando, por exemplo, Malaca, controlada pelos portugueses. Já em 1625, o sultão Anyakrakusuma, conhecido por Agung, conquista Surabaya, a sua maior rival na Java Oriental. Existe portanto nestes eclipses um espírito invasor e de domínio da terra. 

            A significação histórico-geográfica destes eclipses estende-se até ao primeiro eclipse total da série Saros, a 19 de Junho de 1769. Neste ano, os missionários espanhóis estabelecem vinte e uma missões na Califórnia e, em Bengala, inicia-se um período de fome que se estenderá até 1773 e matará um terço da população. Já os eclipses que na fase total merecem maior atenção, tanto em magnitude como extensão espacial, são os 1805, 1823, 1841 e 1859. Nestes devem ser assinalados os eventos ligados às guerras napoleónicas (a criação da Terceira Coligação e a Batalha de Austerlitz), às lutas liberais (rebelião do Conde de Amarante e a Vilafrancada), à independência do Brasil (tensão entre D. Pedro I do Brasil e a Assembleia Constituinte e a coroação de D. Pedro II como imperador do Brasil). Só o eclipse de 1859 é que revela uma tendência que não é tão político-militar, pois na véspera do eclipse é criada a Igreja Presbiteriana do Brasil e, nesse ano, é publicada a Origem das Espécies de Darwin e iniciada a construção do Canal do Suez. No entanto, a componente de tensão política e bélica é reforçada no último eclipse total da série, a 9 de Novembro de 2003. Nesse ano, o facto de maior relevo é a invasão do Iraque (19 de Março), iniciada na Cimeira das Lajes (16 de Março), e que culminará com a captura de Saddam Hussein a 13 de Dezembro.

            A Lua em Touro, segundo as lições de Vétio Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da Germânia. Já no que concerne ao Sol em Escorpião, Valente diz-nos que este rege Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria, Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom (Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Finalmente, com um olhar a partir de Lisboa - elegido aqui como ὁμφαλός, umbigo do mundo -, Sagitário marca a hora e rege a Etrúria (Itália), Gália (França), Espanha, Arabia Felix (Iémen e Omã), Cilícia, Creta, Sicília, Itália, Chipre, o Mar Vermelho, Casperia, as nações junto ao Eufrates, Mesopotâmia, Cartago, Mar da Líbia, o Adriático, o Atlântico, os Tribálios (povo ilírio ou trácio), a Báctria (Afeganistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Paquistão e China), o Egipto e as regiões circundantes. Estas áreas, juntamente com o mapa da visibilidade do eclipse, mostram-nos as regiões onde o eclipse exercerá uma maior influência.

            O eixo do eclipse lunar coloca a Lua sob o horizonte, fora do Segmento de Luz (αἵρεσις) dominante, no Lugar da Má Fortuna (κάκη τύχη), a VI, no decanato de Saturno, termos de Marte e monomoiria de Júpiter. Já o Sol, renascido após a hora de alba, surge no seu próprio Segmento de Luz, no Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), a XII, no decanato de Vénus, termos de Saturno e monomoiria do Sol. Convém ainda, a respeito dos luminares, destacar o facto de a Lua estar em conjunção com a estrela Algol. Ora esta é a estrela que os antigos consideravam a mais maléfica. Ptolomeu, na Syntaxis ou Almagesto (VII, 5), diz-nos que, na constelação de Perseu, esta é a estrela mais brilhante da cabeça da Górgona. Curiosamente, a estrela Algol que passou a representar o lado demoníaco do feminino – infelizmente não com raiz original do termo δαίμων – surge aqui, não no grau, mas no signo de exaltação da Lua (Touro).  

            A Medusa, bem como Lilith, é a persona mitológica que rege esta estrela, trazendo necessariamente consigo – e sem ser ainda um fenómeno psíquico, embora acabe por o ser – o medo do feminino. Aqui não estamos diante da Grande-Mãe, encontramos sim o feminino selvagem, guerreiro, independente, sexual. Note-se que a Medusa, a única das três Górgonas que era mortal, reconhecida pela sua beleza e o seu cabelo, é castigada por Atena, por ter copulado com Poseídon no templo da deusa. Contudo, o que nem sempre se diz é que a união sexual não foi consensual. Medusa foi violada pelo deus. E insultada pela cópula, Atena, a deusa sem mãe, torna Medusa num ser horrifico, com um cabelo serpentino e um olhar petrificante. Desta forma, quando Perseu vence o monstro feminino, decapitando-o, saem dele o cavalo alado Pégaso e Crisaor, o gigante de espada de ouro, ambos filhos de Posídon e Medusa. Este mito, aliás como aquele que descreve a primeira mulher de Adão, aquela que rejeita a submissão sexual, impõe, por força do paradigma dominante, uma certa hostilidade para com o feminino. A astrologia não se pode pois fixar no arquétipo dominante, negando ou ignorando a realidade que se oculta. As significações têm de evoluir e aceitar que muitos dos conceitos estão excessivamente masculinizados.

            O medo do feminino, resultante aqui da conjunção da Lua em Touro eclipsada com a estrela Algol, mas também pela oposição de Mercúrio, Marte e naturalmente do Sol, todos no signo de Escorpião, firma um fenómeno que se expressa tanto no inconsciente pessoal como colectivo, e ainda nas relações pessoais, sociais, políticas e empresariais. A mulher e a Terra-Mãe continuarão a ser assim um alvo da brutalidade humana. A morte fixa assim o seu olhar sobre a vida. Num eclipse lunar, com Marte em Escorpião e a Lua em Touro, conjunta a Algol, o feminino selvagem, a feiticeira e a sedutora, bem como o lado mais violento da natureza, estarão potenciados e vão marcar um período de influência que vai dominar os próximos meses. Acerca do período da influência de um eclipse devemos relembrar a lição de Ptolomeu na sua Apotelesmática ou Tetrabiblos (II, 6), ou seja, até ao limite Abril ou Maio de próximo ano, variante consoante o lugar, este eclipse tornar-se-á presente e afectará assim lugares e gentes.

            Um outro aspecto que sobressai na análise do tema é o facto de não existir uma luz a culminar. Com a excepção do Sol, de Mercúrio e de Marte em Escorpião, na XII, todos os astros estão abaixo do horizonte, submersos na luz oculta. Ora esta situação faz de Marte a primeira luz a ascender. No entanto, pelo Segmento de Luz dominante ser o do Sol, Marte torna-se o maléfico fora de segmento, aquele cujo potencial maligno se encontra potenciado. Este, juntamente com o Sol e Mercúrio, une-se em quadratura a Júpiter e Saturno em Aquário, na III, no Lugar da Deusa. A discórdia ou tensão deste encontro leva a morte ao humano, corrompe a palavra e a comunicação. Mercúrio e Marte que são Estrelas da Manhã, tocados pelos raios do Sol, não conseguem colher o espírito ascendente do seu raiar na aurora, porque Júpiter e Saturno não lhes dão matéria e forma, espaço e tempo. O velho e o novo senhor do Olimpo criam uma tensão com o eixo do plenilúnio, com o eclipse lunar. No signo da humanidade, o humano não vê, nem com os olhos, nem com o espírito, a luz do Sol e da Lua.  

            É quando tudo parece escuro, indeterminando e incerto que temos de encontrar a dádiva, a bênção do céu e da terra. Júpiter, o benéfico potenciado pelo Segmento de Luz, embora esteja sobre tensão luminar, colhe a bênção de estar em conjunção com Sadalsuud, uma estrela fixa que, para a astrologia árabe, é um sinal de ventura e fortuna. Quando uma sombra se alonga, existe sempre no humano uma candeia que se ergue. O trígono de Júpiter à Caput Draconis e o sextil à Cauda une esse potencial de luz ao sentido profundo do Dragão da Lua, aquele que no eixo Gémeos-Sagitário leva, como se fosse uma mensagem, a Sabedoria à Palavra. Por outro lado, Vénus, fora do seu Segmento de Luz, constrói o seu poder no signo que lhe dá forma. A deusa do amor fixa-se em Capricórnio durante um longo período, até 6 de Março, passando por uma retrogradação de 19 de Dezembro até 29 de Janeiro de 2021. Vénus pedirá uma estruturação do desejo e um amor pela finalidade, algo que neste eclipse se une, primeiramente, à morte e à transformação, pela conjunção a Plutão, mas também à força do renascer (sextil a Marte em Escorpião) e à Revolução da Terra (trígono a Úrano em Touro). A dádiva de ver o outro leva-nos, por exemplo, para a fronteira da Bielorrússia com a Polónia e para uma percepção de mudança na consciência do que é a humanidade.

            A posição de Vénus em Capricórnio, no Lugar do Viver, onde se encontra o valor e o seu sentido, permite que se una em sextil ao Sol, a Mercúrio e Marte e em trígono à Lua, concedendo-lhe uma bênção, uma dádiva, que pede paciência na construção de um novo modo de vida que terá, por força da Necessidade, de destruir a matriz anterior. Ora, a partir do Lugar do Sob a Terra, onde se criam as fundações da realidade, Neptuno em Peixes faz brotar o Amor Universal como uma visão da totalidade, lançando os seus raios de empatia e compaixão sobre o Sol, Mercúrio e Marte (trígono) e a Lua (sextil) e levando à luz eclipsada e à luz ascendente o dom de ver o próximo, de levar a compaixão a quem sofre. A crise dos migrantes e dos refugiados desafia o valor da vida e do humano, daí que Vénus e Neptuno se unam em sextil, oferecendo o amor como finalidade. Esse terá, porém, de acolher o Poder da Morte e seu potencial de transformação (sextil de Plutão ao Sol, a Mercúrio e a Marte e trígono à Lua).

            Por fim, e depois do fracasso COP26 em Glasgow, é preciso destacar a posição de Úrano em Touro, que pede uma Revolução da Terra e uma desestruturação dos valores e dos modos de vida. Ora Úrano está em conjunção com a Lua eclipsada, em oposição ao Sol, a Mercúrio e Marte e em quadratura a Júpiter e Saturno. É portanto impossível não concluir aqui uma tensão profunda, uma raiz disruptiva. Úrano vai romper com tudo aquilo que se encontra cristalizado, mas pode também trazer consigo, devida à sua posição, uma resistência à mudança e uma persistência nos preconceitos e nos falsos valores. Sob o véu do patriotismo e do nacionalismo exercer-se-á violência. Sob a égide do conforto capitalista e consumista negar-se-á a mudança que o planeta precisa. E sob o falso poder dos medos e da vaidade, sob o medo do feminino, continuar-se-á a agredir, abusar e menosprezar a mulher. Se pensarmos no sentido imediato do eclipse lunar, na lua obscurecida, vemos o feminino oculto, a Sabedoria que anda entre nós, mas não é vista, que é denegrida e insultada. A ignorância, como expressão radical do mal, estende-se nesse manto escuro, na sombra que ameaça o humano e humanidade.


terça-feira, 25 de maio de 2021

Eclipse Lunar Total - Eixo Sagitário-Gémeos: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológica

Eclipse Lunar



Eclipse Lunar Total

Eixo Sagitário-Gémeos

(Lua Cheia)


Lua
Decanato: Mercúrio
Termos: Júpiter
Monomoiria: Lua

Sol
Decanato: Júpiter
Termos: Mercúrio
Monomoiria: Lua


O primeiro eclipse de 2021 é um Eclipse Lunar Total, o último eclipse lunar do eixo nodal Gémeos-Sagitário e o último eclipse total da série Saros 121. Este é quiçá o primeiro aspecto que se deve ter em consideração na análise deste eclipse. As séries Saros, a par dos ciclos metónicos, representando estes uma continuidade dos primeiros, são os dois maiores contributos da Antiguidade para a análise cíclica dos eclipses. As séries Saros têm origem babilónica e apresentam cada uma cerca de 70 eclipses que ocorrem a cada 18 anos, começando por serem parciais e à medida que se aproximam do Equador passam a totais, para voltarem depois a parciais. Ora a série Saros 121 iniciou-se a 6 de Outubro de 1047. Três dias depois morreu o Papa Clemente II e Bento IX, que já havia sido papa em dois momentos anteriores, reassume o poder. Este foi o papa que excomungou o Patriarca de Constantinopla que, por sua vez, excomungou Bento IX, tendo-se criado assim as condições para o Grande Cisma.

Se elaborarmos o tema deste eclipse, que ocorreu em Carneiro, e Ptolomeu diz-nos que este rege a Germânia, ora Clemente II era germânico e tinha relações estreitas e preferenciais com o Sacro-Império, compreendemos então que quer a morte e a mudança do poder papal, quer os indícios do Cisma são astrologicamente evidentes (e.g. o regente do Asc. poente e em conjugação com Marte; e Plutão em conjugação com MC). Naturalmente, o tema deverá ser colocado em Roma. A localização nos temas astrológicos mundanos - sejam lunações, eclipses ou outros - tem, por um lado, um valor de ὁμφαλός, de umbigo do mundo, de lugar electivo, e, por outro, do potencial indicado pela expressão urbi et orbi, ou seja, o valor que se encontra, por exemplo, em Lisboa estende-se, enquanto lugar electivo, ao resto do mundo. A parte infere o todo e o tempo e o espaço fixam assim o sentido.

Embora a tradição nos diga que o primeiro eclipse de uma série Saros nos dá alguns indicadores de toda a série, o primeiro eclipse total tende a reforçar e aumentar esses indicadores. Na série Saros 121, o primeiro eclipse total foi a 13 de Julho de 1516. Ora a 24 de Agosto de 1516, dá-se a Batalha de Marj Dabiq, na qual os Otomanos, chefiados pelo Selim I, derrotam os Mamelucos e ganham o controlo do Egipto, da Arábia e do Levante. Se fizermos o tema do eclipse para Alepo, dado que Dabiq ficava próximo, compreendemos a importância do eclipse e da série Saros em que se insere para um conjunto de mudanças políticas e civilizacionais que ainda hoje se sentem. O eclipse ocorre em Capricórnio que, segundo Heféstion de Tebas, rege, entre outros, parte do Egipto, a Síria e a Cária. Por exemplo, o Horóscopo (Asc.) em Carneiro, conjunto a Marte, é um forte indicador de uma guerra iminente e, já no primeiro grau de Leão, a conjunção do Sol a Júpiter sugere também uma nova ordem, um novo poder.

No Eclipse de 26 de Maio, que ocorre em Sagitário, o Horóscopo recai em Leão, isto para Lisboa, o lugar a partir do qual se está a olhar o mundo. Entre outros, Sagitário rege, segundo Ptolomeu, a Espanha e a Arabia Felix (Iémen e Omã), já segundo Hiparco, também a Sicília e, segundo Odapso, ainda a Mesopotâmia (Médio Oriente), o Mar Vermelho, a Síria, o Egipto e Cartago (Norte de África). Por seu lado, Leão rege, segundo Vétio Valente, a Gália (França), o Proponto (Turquia, Mar de Mármara), a Galácia (Turquia, Ancara), a Trácia (Grécia, Macedónia, Bulgária e Turquia Europeia), a Fenícia (Palestina, Israel e Líbano), a Líbia, a Frígia (Turquia), a Síria e Pessino (Turquia). Como é facilmente compreensível pelos lugares enunciados, estas são regiões de conflitos e tensões nos nossos dias, sejam pela guerra como no caso da Síria, da Palestina e de Israel e do Iémen, sejam pela crise dos migrantes e dos direitos humanos como nos casos da Síria, da Turquia, da Grécia, do Norte de África, de Itália, de França e agora de Espanha (Ceuta). A Humanidade para subsistir terá de olhar para o Humano, não com um conjunto de lugares comuns pseudo-espirituais, reproduzidos vezes conta, mas sim com um pensamento estruturado e um intelecto agente que dê um sentido profundo à vontade e à acção. Enquanto persistir a ideia de que existem humanos de primeira e humanos de segunda e que existe um direito natural de uns a uma determinada terra ou lugar, a Humanidade como princípio e realidade agregadora está condenada.

A tradição astrológica diz-nos que os eclipses têm uma maior intensidade quando ocorrem acima do horizonte, excepto o caso de se darem no Lugar do Sob a Terra (IV), o que não é o caso do nosso eclipse de 26 de Maio. Porém, fixa-se na V, na Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη), o que lhe confere um poder criativo potencial, mas não ainda efectivo. Esse princípio é confirmado pelo facto do seu regente, Júpiter, se encontrar no Lugar da Morte, na VIII, todavia, está em Peixes. A partilha de Sagitário e Peixes da regência de Júpiter aponta aqui para um caminho. Se Sagitário indica a Sabedoria e Peixes a Fé, podemos construir como ponte para futuro, essa proposta humana de conciliar a Sabedoria e a Fé. A Deusa Pistis-Sophia (Fé-Sabedoria) expande, de acordo com o poder de Júpiter, o seu potencial criador e renovador. Note-se, por exemplo, que a Lua está nos termos de Júpiter e o Sol no decanato de Júpiter. Deve-se também ter em consideração o facto do último eclipse da série Saros 121 ocorrer em Peixes, a 18 de Março de 2508. Existe aqui uma anunciação das forças benéficas e expansivas (Júpiter) da Deusa Pistis-Sophia (Peixes-Sagitário). Esta é proclamação da Idade do Espírito Santo, do regresso do Eterno Feminino.

O Dragão da Lua continua a marcar, até ao fim do actual ciclo no eixo Gémeos-Sagitário, uma mensagem que está em harmonia com a anunciação da Deusa Pistis-Sophia. A sabedoria da palavra (Sagitário-Gémeos) e a palavra da sabedoria (Gémeos-Sagitário) cingem o caminho de revelação que culminará no Eclipse Solar Total de 4 de Dezembro deste ano, ou seja, a partir da sabedoria a palavra transformará o humano. Esta ideia é também particularmente expressiva neste Eclipse Lunar de 26 Maio. A luz concentra a sua emanação na XI, no Lugar do Bom Espírito (ἁγαθόν δαίμων). Em Gémeos, o Sol, a Caput Draconis, Vénus e Mercúrio brilham em conjunto. Note-se que Vénus e Mercúrio estão para além dos raios fulgentes do Sol (+15º), fugindo da combustão e brilhando como Estrelas da Manhã, candeias da palavra, do intelecto e do amor à sabedoria. Porém, a necessidade de uma palavra que transforme colide aqui com Júpiter em Peixes (quadratura), ou seja, a palavra deixa-se corromper pela ilusão e pela intolerância e torna-se uma via para o racismo, para a xenofobia, para a misoginia, para o negacionismo, para populismo e para o totalitarismo. A palavra (Gémeos) rejeita a dádiva e a fé (Júpiter em Peixes) e também a compaixão e o amor universal (Neptuno em Peixes) e, por outro lado, não acolhe a sabedoria como finalidade (Sagitário), nem eleva a alma até à consciência de si (Lua). A quadratura de Júpiter - e de Neptuno- aos luminares não representa aqui uma tensão ou conflito, mas sim uma dúvida quanto a efectivação de uma possibilidade.

Se Júpiter e Neptuno mostram que a luz da palavra e da sabedoria pode, por rejeição, afastar-se da fé e da dádiva, da compaixão e do amor universal, Saturno Retrógrado, a partir do Poente (VII), partilha tanto a necessidade de reestruturação social, trazendo a igualdade onde existe desigualdade e injustiça, e de pensamento crítico como a lição do tempo, do eterno retorno (trígono ao Sol, Mercúrio e Vénus, sextil à Lua). Por estar junto ao Poente, já abaixo da linha do horizonte, o Velho Cronos fala-nos do fim de uma era, de um tempo que se eclipsa e, por estar em Aquário, de um humano que terá de morrer para inauguralmente renascer. O novo humano, como o antigo herói, terá de descer ao submundo para emergir renovado. Essa descida aos infernos é expressa também pelo medo do feminino. Marte em Caranguejo, na XII, no Mau Espírito (κακός δαίμων), em oposição a Plutão na VI, na Má Fortuna (κάκη τύχη), colocam o humano no abismo da sua sombra em frente de Perséfone, a Senhora do Submundo. Devemos lembrar-nos que a maioria das representações astrológicas estão exageradamente masculinizadas, assim quando, por exemplo, olhamos para Plutão devemos ver tanto Hades como Perséfone. O medo do feminino, expresso por Marte em Caranguejo, tem como contraponto a relação benéfica com Júpiter e Neptuno em Peixes (trígono) e com Úrano (sextil). Este é o Rei Pescador, o homem ferido, que guarda o Graal, representado pela vesica piscis. Desta forma, vencido o medo e chegados ao castelo do Graal, a deusa tenebrosa torna-se benevolente.

Por outro lado, Úrano em Touro surge na X, junto à Culminação (MC), trazendo uma vez mais a mensagem da revolução da terra. As manifestações climáticas serão mais frequentes - e também necessariamente mais radicais (sextil a Plutão em Capricórnio) - e uma parte dos jovens vão mostrar cada mais como a passividade das gerações anteriores, com o seu aburguesamento consumista, supérfluo e politicamente engajado, condenou o planeta. A utopia, que, nos últimos anos, muitos teimaram em condenar, renascerá com um propósito simples, mas determinado: salvar o planeta terra (sextil de Úrano a Júpiter e a Neptuno). Naturalmente, como noutros tempos, as ideias terão de cerrar fileiras e, se uns se colocam do lado da igualdade, promovendo uma sociedade mais justa, outros vão vender a divisão como garantia de um destino providencial (Saturno em quadratura com Úrano). De uma forma ou de outra, o desejo de mudança colide com a cristalização das estruturas de poder e o futuro ou trará uma sociedade melhor, ou a aurora dos novos totalitarismos. E a pandemia pode tornar-se uma lição e ser uma luz no caminho, avaliando-se o que está mal e quebrando as teias da desigualdade, ou a vontade de voltar a esse normal perdido pode imperar, agudizando-se assim as assimetrias sociais. Um tempo de crise profunda pode, porém, renovar a fé na humanidade e trazer, pelo menos a alguns, um processo de transformação (Plutão em sextil a Júpiter e Neptuno).

Este Eclipse Lunar vai tornar evidente a realidade última da interpretação astrológica é que, na verdade, tudo é luz e sombra. Ler o céu é simplesmente colher a luz certa, fitando a sua própria sombra.