segunda-feira, 20 de março de 2023
domingo, 19 de março de 2023
Mercúrio em Carneiro: De 19 de Março a 3 de Abril de 2023
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
Júpiter em Carneiro: De 20 de Dezembro de 2022 a 16 de Maio de 2023 (2º e Último Ingresso)
quinta-feira, 28 de julho de 2022
Júpiter Retrógrado: De 28 de Julho a 23 de Novembro de 2022
segunda-feira, 18 de julho de 2022
terça-feira, 21 de junho de 2022
quarta-feira, 25 de maio de 2022
terça-feira, 24 de maio de 2022
quarta-feira, 11 de maio de 2022
Júpiter em Carneiro: De 11 de Maio a 28 de Outubro de 2022 (1º Ingresso)
segunda-feira, 2 de maio de 2022
quarta-feira, 27 de abril de 2022
quinta-feira, 31 de março de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Lua Nova em Carneiro
Reflexões Astrológicas
Lua Nova em Carneiro
Lisboa, 07h24min, 01/04/2022
Sol-Lua
Decanato: Sol
Termos: Vénus
Monomoiria: Lua
A
Lua Nova de Abril, a primeira do novo ano astrológico, ocorre no signo de
Carneiro, com este a marcar também a hora, portanto no Leme da Vida (Horóscopo/Ascendente),
e ainda no Segmento de Luz (αἵρεσις)
da Lua, com os luminares abaixo do horizonte e a menos de dois minutos do
nascer-do-sol (hora de Lisboa), no decanato do Sol, nos termos de Vénus e na monomoiria da Lua. Um outro aspecto a
considerar é que todos os astros se encontram no hemisfério oriental, somente a
Cauda Draconis se fixa no hemisfério
ocidental, no Lugar da Morte (VIII), o que reforça o sentido profundo deste
novilúnio. O Outro é a morte do Eu e, caído o Eu, renasce o Si.
A
subida dos luminares junto ao horizonte, com a Primavera iniciada há menos de
duas semanas, traz consigo a imagem dos deuses ibéricos Atégina e Endovélico a
subirem do submundo para uma terra renascida, livre do peso, da gravidade
escura do Inverno. O Sombrio devolve, recém-consagrada com uma nova luz, a Senhora
do Renascimento. Da cornucópia de Amalteia, da cabra de Atégina, a abundância
da flor e do fruto são devolvidas à terra. Porém, como um segredo no centro
lar, no fogo que guarda a casa, Trebaruna relembra-nos que a morte participa da
vida e que a morte do fruto é a vida da semente.
Ora
é nessa esteira de vida, morte e renascimento, colhendo também as lições dos
mistérios de Mitra, que Fírmico Materno descreve o Thema Mundi: “[Nechepso e Petosíris] pretendiam que fosse assim a natividade do universo, seguindo Esculápio
e Anúbis, a quem o Poderosíssimo Deus Mercúrio concedeu os segredos desta
ciência. Estabeleceram o Sol no grau 15 de Leão, a Lua no grau 15 de
Caranguejo, Saturno no grau 15 de Capricórnio, Júpiter no grau 15 de Sagitário,
Marte no grau 15 de Escorpião, Vénus no grau 15 de Balança, Mercúrio no grau 15
de Virgem e a hora no grau 15 de Caranguejo.” (Mathesis, III,
I, 1, ed. W. Kroll, F. Skutsch & K.
Ziegler, 1968, vol. 1, 91: “Mundi itaque genituram hanc esse voluerunt secuti
Aesculapium et Hanubium, quibus potentissimum Mercurii numen istius scientiae
secreta commisit. Constituerunt Solem in Leonis parte XV., Lunam in Cancri
parte XV., Saturnum in Capricorni parte XV., <Iovem in Sagittarii parte XV.,
Martem in Scorpionis parte XV.>, Venerem in Librae parte XV., Mercurium in
Virginis parte XV., horam in Cancri parte XV.”). Segundo
esta descrição inaugural, Carneiro é o signo que se ergue no Lugar de
Culminação (X), regendo assim a práxis
do universo.
A
raiz de sentido do princípio de actividade que rege Carneiro não se prende
tanto ao facto de ser o primeiro signo a contar do Equinócio da Primavera
(hemisfério norte), mas sim devido à regência primordial fixada pelo Thema Mundi. Esta práxis radical determina, neste novilúnio, a actividade da luz, a
força dos luminares. Assim sendo a luz do Sol e da Lua, ligeiramente abaixo do
Ascendente, logo antes do nascer-do-sol, coloca essa acção entre a bruma e a
alvorada. Existe um potencial, uma força que se quer efectivar, que tenta
rasgar o véu das trevas, da sua própria sombra, e criar um novo mundo. Essa
acção que traz a novidade ao mesmo coloca o peso da realidade sobre o Eu, mas
potencia também o dom da criação.
Sob os raios do Sol e conjunto aos
luminares, encontra-se Mercúrio. A palavra, nascida do Silêncio, da deusa
gnóstica Sige, torna-se uma força activa. Note-se que, no caso de Mercúrio,
este já se encontra acima do horizonte sem gozar porém do espírito fulgente dos
luminares, ou seja, brilha, mas não se expande, não alastra a sua influência. A
força da palavra iluminará alguns, mas enganará outros, tornará uns apaixonados
pela palavra e fará de outros virulentas vozes de conflito. É assim uma Estrela
da Manhã que chega apenas aos que estão despertos. Porém, a co-presença dos
luminares e de Mercúrio em Carneiro lança hexagonalmente e à esquerda os seus
raios até Vénus, Marte e Saturno em Aquário.
Na XI, o Lugar do Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων), a união dos dois maléficos a Vénus torna a deusa do amor refém.
O desejo de tornar o humano em humanidade (Aquário) é reprimido por duas
forças: a discórdia (Marte) e a retribuição (Saturno). A opressão e a guerra
são uma expressão dessas forças. O lugar deste encontro concede, todavia, uma
bênção velada: aquilo que está de passagem é uma dádiva no caminho. Esta é uma
afirmação do caminho do meio. A temperança é a via eleita.
Contudo, Carneiro odeia a polaridade.
Marte teme apenas, pois é ela que o derrota, a deusa Atena, a senhora da guerra
e da sabedoria, da justiça e da prudência. Do outro lado da sizígia, guardado
pelo Poente (VII), o númen de Balança aguarda a sua hora. A impossibilidade ser
o Outro, de ver ou compreender o que está para além de nós, é compensada pela
necessidade social, indicada pelos planetas na XI, de elevação espiritual,
reafirmando assim o conceito de δαίμων.
Essa elevação continua a não ser,
porém, uma via colectiva. O carácter pessoal e electivo do caminho espiritual
preserva o seu valor de excepção. Esse é o peso do encontro de Júpiter e
Neptuno na XII. No Lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), a Justiça e a Compaixão, a Expansão do Bem e o Amor de Deus
encontram o Mal, a corrupção do espírito, não por via da sua radicalidade, mas
sim pela banalidade, pela liquidez daquilo que fazemos e daquilo em que
acreditamos. No entanto, Júpiter e Neptuno em Peixes preservam os dons da
bondade e da empatia, do melhor do humano. Na verdade, esta é a dádiva que pode
vencer o poder da morte (sextil de Júpiter e Neptuno a Plutão em Capricórnio e
trígono à Cauda Draconis em
Escorpião) e trazer uma revolução ao modo de vida (sextil de Júpiter e Neptuno
a Úrano e à Caput Draconis em Touro).
Neste novilúnio, Plutão é o planeta
que brilha mais alto. Do cume do céu, o poder da morte e da via radical de
transformação encadeiam a realidade (Plutão em Capricórnio). A autoridade do
Senhor do Submundo une-se à mensagem do Dragão da Lua, daquele que estende o
seu corpo entre a luz e a sombra (trígono à Caput
em Touro e sextil à Cauda em
Escorpião), anunciando o primeiro eclipse de 2022. A via entre a morte
(Escorpião) e a vida (Touro) é, desta forma, uma proposta de sentido. É pelo
conhecimento da morte que se alcança o conhecimento da vida. O Et in Arcadia Ego é uma luz no caminho. O
Ego, o Eu que em Carneiro se afirma,
é aquele que diz que também ele vive na Arcádia, ou seja, o Eu (Carneiro) e a
Morte (Escorpião) são um e o mesmo.
A simbiose das mensagens de Plutão e
do Dragão da Lua (eixo nodal) é demonstrada pela tensão que ela provoca. A
quadratura dos luminares e de Mercúrio em Carneiro a Plutão em Capricórnio e de
Vénus, Marte e Saturno em Aquário ao Dragão da Lua (eixo Escorpião - Touro), e
a Úrano Touro, fixa o modo como a luz e o humano enfrentam a morte e a viver.
Estas posições e estes aspectos são porventura a matriz de sentido do novilúnio
de Carneiro. A guerra, os extremismos, os nacionalismos, a ganância, a
indiferença, a vaidade e o perigo do pensamento único colocam a humanidade
sobre o gume de uma espada. Os tempos que nos esperam vão ser difíceis e será a
força dos nossos princípios, determinando a nossa práxis, que iluminará a Roda do Tempo e da Necessidade.
A transformação só acontece depois
de uma crise profunda e desengane-se quem pensar que uma espiritualidade,
defumada e de mãos dadas, líquida e fotogénica, pode trazer a mudança
necessária. O caminho da sabedoria é árduo e solitário e exige um esforço que não
coincide com a fama. A humanidade terá de refundar a sua matriz e, no centro, como
Mãe do Mundo, o Eterno Feminino será a glória e a graça de um novo humano.
domingo, 27 de março de 2022
Mercúrio em Carneiro: De 27 de Março a 11 de Abril de 2022
domingo, 20 de março de 2022
sábado, 19 de março de 2022
Reflexões Astrológicas 2022: Equinócio da Primavera (Ano Novo Astrológico)
Reflexões Astrológicas
Estações
Equinócio da Primavera
(Ano Novo Astrológico)
Lisboa, 15h34min, 20/03/2022
Sol
Decanato: Marte
Termos: Júpiter
Monomoiria: Marte
O retorno da Primavera traz sempre
consigo um potencial de renovação. Essa é de facto a palavra que melhor
descreve a raiz de sentido do ingresso anual do Sol em Carneiro e de um novo
ano astrológico. O termo renovação constrói-se a partir de uma simbiose de
repetição e novidade. Existe pois uma recuperação antagónica do novo, ou seja,
repete-se o ciclo sem anular a novidade e que é, na verdade, um Eterno Retorno
que conserva o carácter inaugural da consciência da vida e do tempo. O ciclo
zodiacal que se inicia com a Primavera não é assim nem uma repetição, nem uma
novidade, mas sim uma renovação. É a Perséfone que sobe do Hades, da semente
guardada na terra, e renova a natureza, traz à mesma árvore, uma nova flor, um
novo fruto.
Desta forma, existe no fim de um
ciclo em Peixes e de um novo ciclo em Carneiro uma passagem hermética da
contemplação à acção. A sabedoria da totalidade torna-se a acção sobre a
realidade. No entanto, sem o registo sobre a Roda da Necessidade do ciclo
anterior, Carneiro age sozinho e, centrado no eu – e não no si –, inicia a
experiência de cada estágio de vida, de cada tempo e lugar. Este é Hércules,
realizando sozinho, como exigência de Euristeu, cada um dos doze trabalhos. Existe,
porém, uma excepção. Para matar a Hidra (o trabalho que representa o signo de
Escorpião), Hércules precisa da ajuda de Iolau para cauterizar as cabeças
decepadas, impedindo-as assim de voltar a crescer. Curiosamente, é precisamente
o veneno da Hidra que, mais tarde, mata o herói.
O planeta Marte, que coloca a viagem
iniciática em acção (Carneiro, dia), é o mesmo que conduz ao veneno que mata o
herói (Escorpião, noite) e ao único trabalho em que Hércules é efectivamente
ajudado, onde o eu recorre ao outro para vencer o pior dos monstros, o temor da
morte certa. Este é o trabalho que se segue ao que é diametralmente oposto ao
primeiro (eixo Carneiro-Balança). Depois do eu e do outro, do que nasce e do
que se põe, apreende-se a experiência da morte, do limiar.
Paralelamente, como segunda viagem
iniciática, a que que parte de um Carneiro que viaja a partir de Peixes e renova
a sua demanda, temos a busca de Jasão e dos Argonautas pelo velo de ouro.
Note-se que o aríete imortal que possuía o tosão dourado (Carneiro como
exaltação do Sol) era filho de Posídon (Peixes). Nesta viagem, Jasão não vai
sozinho. As suas aventuras são partilhadas. No entanto, após a demanda, Jasão
abandona Medeia, com quem tinha dois filhos e que o ajudara a conseguir o velo,
por Creúsa, sua prima. Furiosa, Medeia envenena o vestido de noiva de Creúsa,
matando-a, e assassina os filhos que tivera com Jasão. Medeia é então levada
para Atenas por um carro puxado por dragões, ou serpentes, oferecido pelo seu
avô, o deus Hélios (Sol). Os deuses estão do lado de Medeia e Jasão, perdendo
os favores de Hera, morre sozinho.
Estas duas variações do ciclo
zodiacal e vernal têm um elemento em comum: a relação entre o eu e o outro e o Sagrado
Feminino. A mitologia olímpica, demasiado masculinizada e a que mais
influenciou os modelos astrológicos elementares, faz de Hera a esposa ciumenta
e vingativa. Porém, Hera é uma Grande Mãe, sucessora de Reia-Cíbele. E,
esquecido quiçá por os leitores de Os
Trabalhos de Hércules de Alice Bailey (1957-8), Hércules é o grego Herácles (Ἡρακλῆς) que significa glória de Hera (Ἥρα+κλέος). A inimiga patriarcal é, na verdade,
a deusa benévola. De uma forma ou de outra, tanto Hércules como Jasão rejeitam
o Feminino e sofrem o seu castigo. Se nos focarmos em demasia no simbolismo
masculino do signo de Carneiro e ignorarmos a exaltação do Feminino que é o
início da Primavera, perdemos o valor primordial da transformação, da passagem
da noite escura invernal à natureza em flor, dádiva do Feminino.
A Perséfone, renascida no Equinócio
da Primavera é, segundo o hino órfico que lhe é dedicado (hino 29), tanto “a rainha sob a terra” (ὑποχθονίων βασίλεια, hino órfico a Perséfone 29.6) como “a donzela
abundante em frutos” (κόρη καρποῖσι βρύουσα, hino órfico a
Perséfone 29.10). É a mãe
das Erínias e a filha de Démeter. É a luz e a sombra. A Primavera implica
sempre essa passagem da sombra do Inverno à luz que brota da cornucópia
primaveril e que atinge a sua plenitude no Solstício de Verão. Ora, neste
equinócio, a luz do Sol no início de Carneiro estende-se até à Lua no final de
Balança e, tal como nos exemplos astro-mitológicos, a projecção do eu no outro
e do outro em nós determinam os tempos difíceis que vivemos em que Marte brande
o gume e o escudo, a lança e o elmo.
O regente de Carneiro encontra-se em
Aquário, no signo da humanidade, e, com ele, Vénus e Saturno constroem essa
potência concentrada de força, desejo e necessidade. A guerra não surge como
sinal dos tempos, mas como consequência do humano. E, nessa ponte entre o eu e
o outro, a solidariedade e a bondade (Júpiter e Neptuno) colidem com a
impossibilidade dessa relação. A apreensão do outro torna-se apenas imagem de
nós. A caridade líquida e fotogénica (Mercúrio em Peixes), que não é uma
verdadeira solidariedade e que nasce da corrupção do espírito da Era de Peixes
e que se acentua no trânsito de Júpiter e Neptuno, serve mais quem a pratica do
quem recebe, pois não tem por objectivo transformar a realidade. Confortar quem
sofre não é o mesmo que impedir o sofrimento.
Devemos então trazer até nós a
questão e a dúvida. Porque conseguimos mostrar mais empatia porque sofre na
Ucrânia do que por quem sofre no Iémen, na Somália, na Palestina ou em Myanmar,
só para dar alguns exemplos? Será que esse outro que sofre mais longe permanece
o outro, o estranho, e não serve a projecção do eu no imediatismo dos media e na vaidade das redes sociais? As
crianças que morrem de fome, por exemplo, no Iémen e por quem a ONU e a UNICEF
têm clamado não merecem a nossa atenção e compaixão? Ou que ajuda humanitária entregámos
colectivamente nos campos de refugiados de Calais ou Mória? Neptuno e Júpiter
em Peixes são tanto a empatia e a justiça social como a ilusão e o fanatismo. A
necessidade de totalidade não se efectiva e a parcialidade permanece.
A ligação hexagonal que se
estabelece entre o Sol em Carneiro com Vénus, Marte e Saturno em Aquário ou
triangular destes com Lua colide com a relação diametral dos luminares e com o
aspecto quadrangular do Sol a Plutão em Capricórnio. Os instintos primários do
humano são aqueles fazem transparecer a impossibilidade filosófica da relação
sujeito-objecto, do eu com o outro. E, por outro lado, tanto o Dragão da Lua
como Úrano em Touro pedem uma reavaliação (ou mesmo revolução) dos valores e
uma refundação necessária que estende da morte ao viver (eixo nodal
Escorpião-Touro). A configuração do equinócio vernal alerta também, em
consequência destas posições ou aspectos, aliadas a Mercúrio, Júpiter e Neptuno
em Peixes, para os perigos do pensamento único e dos nacionalismos.
Quando Marte e Júpiter estiverem
co-presentes em Carneiro no Solstício de Verão, a guerra e os nacionalismos que
estão na origem de regimes totalitários podem não só persistir como agravar-se.
Natália Correia escreveu, num
papel avulso, conservado no seu espólio: “Consumada
que é a Pátria, falta dizer Mátria para que no tempo os amantes escrevam o nome
da realidade unificante: Frátria.” (Franco, J. E. & J. A. Mourão, 2005, A Influência de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa: Escritos de
Natália Correia sobre a Utopia da Idade Feminina do Espírito Santo, 229.
Lisboa: Roma Editora). Uma Mátria não tem fronteiras, nem nacionalidades, tem terra e
gentes. E uma Frátria só tem um planeta e uma humanidade. Essa a verdadeira
promessa aquariana. E o Sagrado Feminino é o elemento de passagem. O destino
por cumprir não é de um país é sim de uma “Mãe
que é Deus também”, uma proposta de sentido explorada no meu romance A Casa da Torre Velha (2022).
Marte
em Gémeos no Equinócio de Outono e no Solstício de Inverno podem trazer hostilidade
às negociações e extremismo aos media,
mas pelo menos existirão verdadeiras negociações. O movimento ao longo do ano
de Marte e Júpiter serão fundamentais para compreender o que nos espera num
mundo que pede mudança, mas permanece no mesmo. Por outro lado, o regresso dos movimentos
de retrogradação retomará a difícil lição que vai da desmedida à retribuição,
trazendo até nós o imperativo da Necessidade. Neste ano em que infelizmente os
conflitos serão o gérmen dos dias, será fundamental compreender a primeira de
todas as lições da astrologia antiga: a luz e a sombra.
A
doutrina do segmento de luz (αἵρεσις) permite-nos
compreender essa harmonia dos opostos. No ingresso das estações e com um olhar
a partir de Lisboa, os luminares estarão em acima do horizonte nos dois
primeiros e de dia (Primavera e Verão) e nos outros dois abaixo e de noite
(Outono e Inverno), cumprindo o significado radical. Existe, deste modo, e como
sempre, uma necessidade de integrar a luz na sombra e a sombra na luz. De um
ponto de vista astrológico, é preciso sobretudo não ler o mundo com os olhos do
nosso próprio tema, pois se o fizermos, rejeitarem-nos a parte que a sombra
guarda em nós e no mundo e revelaremos apenas a dimensão inabitada dos nossos temores.
Liz
Greene resume na perfeição esta dificuldade quando diz que "Se
nos identificamos muito fortemente com um determinado conjunto de qualidades na
nossa própria natureza, quando o oposto vem à superfície ou aparece em outra
pessoa, o resultado em geral é a repulsa. Trata-se de uma profunda repulsa
moral, uma verdadeira aversão pelo que a outra pessoa representa. Não é apenas
um desinteresse ou um desagrado casual. A sombra desperta em nós uma raiva
totalmente desproporcional à situação." (Greene, Liz, 1994, "A Sombra na
Astrologia" in Ao Encontro da
Sombra: O Potencial Oculto do Lado Escuro da Natureza Humana, org. C. Zweig
& J. Abrams, 177 [175-8]. São Paulo: Editora Cultrix). É portanto necessário integrar a sombra na
luz e compreender que nem nós, nem o mundo somos o sentido absoluto da parte,
mas devemos sim aspirar a ser o todo, um verdadeiro microcosmos. O ciclo anual das
estações e do Zodíaco é uma imagem dessa totalidade.
Em suma, quer-se que esta Primavera
reforce o espírito de renovação que a natureza nos transmite e que o humano tende
a rejeitar. A serenidade da compaixão, tornada uma natureza em acto, deve ser o
caminho e a humanidade precisa dessa renovação. O Sagrado Feminino é luz no
caminho.