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terça-feira, 9 de maio de 2017

Giordano Bruno, a sua Obra e a sua Sentença

Estátua de Giordano Bruno, Campo di Fiori, Roma.

  Giordano Bruno, o filósofo que foi condenado à fogueira pela Inquisição e que morreu, em agonia, a 17 de Fevereiro de 1600, afirmou o seguinte perante os seus alcozes: "Maiori forsan cum timore sententiam in me furtis quam ego accipium" (Será maior o vosso temor em pronunciar esta sentença que o meu em aceitá-la). A acusação de Bruno sustentava-se em oito acusações de heresia: crença que a transubstanciação do pão em carne e do vinho em sangue era falsa; crença que o nascimento virginal era impossível; sustentar opiniões contrárias à fé católica e contestar os seus ministros; sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação; sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo; convicção que vivemos num universo infinito e que existem inúmeros mundos, nos quais criaturas como nós podem viver e venerar os seus próprios deuses; acreditar na metempsicose e na transmigração da alma humana para seres inferiores; e o envolvimento em magia e adivinhação.

  Não se pode dizer que as acusações tinham a mentira na sua génese, no entanto, a liberdade que Giordano Bruno atribuía à sua capacidade de inquirir e de indagar era a mesma liberdade que fluía nas suas teses, logo o seu pensamento não podia percorrer outra via que não fosse aquele de quem era inimigo do paradigma vigente. A oposição ao comum tem sempre um preço a pagar. Giordano Bruno, antes de morrer na fogueira, esteve preso de 23 de Maio de 1592 até 17 de Fevereiro de 1600, quase oito anos. Se o Renascimento começou com Nicolau de Cusa, terminou com Giordano Bruno. A sua filosofia dinâmica pode não ser genial, mas representa uma transformação no pensamento que se desenvolverá até ao Iluminismo e nalguns aspectos foi radicalmente inovadora. A sua concepção de um universo infinito e o seu esboço de uma teoria da relatividade, bem como a sua independência face à filosofia natural de Aristóteles, deixaram marcas que influenciaram os tempos que a ele se seguiram.

  O Nolano tornou-se um exemplo das consequências da intolerância e do quanto a liberdade de expressão é uma necessidade. A condenação de Giordano Bruno é hoje uma imagem do perigo das ruínas do pensamento, quando a fé se torna num incêndio que consome a humanidade. É também que salientar que um dos seus algozes, o mesmo que também esteve no julgamento de Galileu, Roberto Belarmino, tornou-se santo em 1930, pela mão de Pio XI. Quando a liberdade é ferida, Bruno é a memória do que deve ser um ponto de não retorno. A autoridade não pode nunca minar a liberdade de pensar e a liberdade de expressão.   

Obra em Italiano:
  • Candelaio, 1582;
  • La cena de le ceneri, 1584;
  • De la causa, principio e uno, 1584;
  • De l'infinito, universo e mondi, 1584;
  • Spacio de la bestia trionfante, 1584;
  • Cabala del cavallo Pegaseo con l'aggiunta dell'Asino Cillenico, 1585;
  • De gli eroici furori, 1585.                                                                                            
Obra em Latim:
  • De umbris idearum, 1582;
  • Cantus Circaeus ad memoriae praxim ordinatus, 1582;
  • De compendiosa architectura et complemento artis Lullii, 1582;
  • Explicatio triginta sigillorum et Sigilli sigillorum, 1583;
  • Figuratio aristotelici physci auditus, 1586;
  • Dialogi duo de Fabricii Mordentis Salernitani prope divina adinventione, 1586;
  • Dialogi. Idiota triumphans. De somnii interpretatione. Mordentius. De Mordentii circino, 1586;
  • Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus Peripateticos, 1586;
  • De lampade combinatoria lulliana, 1587;
  • De progressu et lampade venatoria logicorum, 1587;
  • Oratio valedictoria, 1588;
  • Camoeracensis Acrotismus seu rationes articulorum physicorum adversus Peripateticos, 1588;
  • De specierum scrutinio et lampade combinatoria Raymundi Lullii, 1588;
  • Articuli centum et sexaginta adversus huius tempestatis mathematicos atque philosophos, 1588;
  • Oratio consolatoria, 1589;
  • De triplici minimo et mensura, 1591;
  • De monade, numero et figura, 1591;
  • De innumerabilibus, immenso et infigurabili, 1591;
  • De imaginum, signorum et idearum compositione, 1591;
  • Summa terminorum metaphysicorum, 1609;
  • Artificium perorandi, 1612;
  • Animadversiones circa lampadem lullianam, 1586;
  • Lampas triginta statuaram, 1591;
  • Libri physicorum Aristotelis explanati, 1588;
  • De magia, 1589-1590;
  • Theses de magia, 1591;
  • De magia mathematica,1589-1590;
  • De rerum principiis, elementis et causis, 1589-1590;
  • Medicina lulliana, 1589-1590;
  • De vinculis in genere, 1591;
  • Praelectiones geometricae, 1591;
  • Ars deformationum, 1591.
Obra Completa de Giordano Bruno: http://bibliotecaideale.filosofia.sns.it/index.php

Obras Traduzidas para Português:
  • Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, 6ª Edição, 2011. Introdução de  Victor Matos e Sá e tradução, notas e bibliografia de Aura Montenegro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
  • Tratado de Magia, 2007. Introdução, tradução e notas de Rui Tavares. Lisboa: Tinta da China.