sábado, 21 de agosto de 2021

Lua Cheia - Eixo Aquário/Leão: Reflexões Astrológicas

  Reflexões Astrológica

Lua Cheia


Lua Cheia: Eixo Aquário – Leão

Lisboa, 13h02min, 22/08/2021

 

Lua

Decanato: Lua

Termos: Saturno

Monomoiria: Júpiter  

 

Sol

Decanato: Marte

Termos: Marte

Monomoiria: Vénus

 

            O eixo da Lua Cheia de Agosto coloca a Lua sob o horizonte, fora do seu segmento de luz, no Lugar sob a Terra (IV), no decanato da Lua, termos de Saturno e monomoiria de Júpiter. Por seu lado, o Sol surge no Lugar de Culminação (X), acima do horizonte, no seu próprio segmento de luz, no decanato de Marte, termos de Marte e monomoiria de Vénus. Neste plenilúnio, é impossível não assinalar o facto de este marcar o fim de um ciclo iniciado na Lua de Cheia de Julho: a primeira no signo de Leão. Ora a 24 de Julho a Lua estava no segundo grau de Aquário e o Sol no segundo de Leão e agora, nesta Lua de Cheia de Agosto, encontram-se no grau trigésimo grau, percorrendo-se assim quase um signo. O sentido deste ciclo continuará, porém, até Lua Nova de Setembro, mas desta vez e progressivamente o simbolismo da colheita e do serviço ganhará a sua gravidade.   

            Este ciclo foi mediado pela Lua Nova de Agosto no décimo sétimo grau de Leão. Mais do que em qualquer outro período do ano este ciclo marca a relação entre a individualidade (Leão) e a humanidade (Aquário), ou seja, o humano terá de encontrar o lugar entre a consciência de si, a chama pura do intelecto, e a consciência social e colectiva. A necessidade de se encontrar um equilíbrio entre a criação individual e a partilha colectiva é imperiosa. Veja-se, por exemplo, o desequilíbrio mundial no processo de vacinação, entre países ricos e pobres, ou a forma como cada país responde aos desastres naturais, à intolerância, à misoginia, ao racismo e à guerra. A consciência de si terá de quebrar colectivamente a soma de todas as vaidades, pois só onde existir solidariedade, a humanidade persistirá.   

            Um outro elemento de análise deste ciclo, oferecido como uma pequena pista - a última das dignidades astrológicas -, é a monomoiria. Segundo a lição de Paulo de Alexandria (Introdução, cap. 5), ficamos a saber que tanto a Lua Cheia de Julho como a de Agosto ocorrem nas mesmas monomoirias, isto é, a Lua encontra-se na monomoiria de Júpiter e o Sol na de Vénus. O feminino e o masculino alternam assim as suas dádivas. E a mediar estas bênçãos encontra-se, na Lua Nova de Agosto, a monomoiria de Mercúrio. Hermes Trismegisto indica o caminho do Pai e o da Mãe, o da Vontade e o da Sabedoria, dizendo que são um e o mesmo. Por outro lado, calculados os eventos lunares para Lisboa, no tema da Lua Nova e da Lua Cheia de Agosto, Escorpião marca a hora, colocando assim o novilúnio e o plenilúnio junto ao eixo polar vertical. A segunda parte do ciclo estabelece, deste modo, uma relação entre a Morte (Escorpião), a Criação (Leão) e a Humanidade (Aquário). Nesta segunda fase do ciclo, a morte e a extinção será necessariamente uma ameaça à vaidade, pois o eu quando voltado apenas para si, criando apenas simulacros de si próprio, extingue-se com a morte, com a sua própria destruição.

            Com o eixo do plenilúnio sobre o de culminação, a ideia de cume e de acção efectiva recai sobre o Sol que expande a expressão leonina de criação e recebe a dádiva dos benéficos: de Vénus em Balança (sextil), a partir da XII, do Mau Espírito (κακός δαίμων), e de Júpiter em Aquário (oposição), junto da Lua, a partir da IV, do Lugar sob a Terra (ὑπόγειον). Ora os benéficos, unidos triangularmente entre si, trazem consigo os dons do bem, da beleza e da justiça, porém também a dádiva ocorre segundo a necessidade e a presença de Saturno, junto à Lua e a Júpiter, é a lembrança dessa lei divina. Ora esta relação entre a luz, a dádiva e a necessidade produz, se tivermos também em consideração a posição de Úrano em Touro na VII, muitas das transformações que temos assistido nos últimos dias ou semanas. A resposta da Terra à agressão humana e o modo como em humanidade reage são expressos por muitas destas posições.

            Já em contraste com a ponte que separa as margens do narcisismo e da genialidade leonina, estão Mercúrio e Marte em Virgem, na XI, no Bom Espírito (ἀγαθόν δαίμων) e, olhando-os de frente, está Neptuno em Peixes, na V, no Boa Fortuna (ἀγαθή τύχη). No eixo dos lugares benéficos de Vénus (a V) e Júpiter (a XI), a força da palavra, que poderá estender-se da opressão e da desinformação até à transformação radical pelo espírito do serviço colectivo ao próximo, recebe a compaixão e o amor universal como a face da verdadeira fortuna ou colhe a ilusão e constrói, sob uma mente tolhida pela ignorância, o negacionismo e o populismo. De facto, estando Marte fora do seu segmento de luz, o seu brilho espalhará uma energia maléfica que, pela proximidade, corromperá primeiramente a palavra e o pensamento (Mercúrio) e, por estar na XI, conduzirá, por força da necessidade, à intolerância e ao extremismo, às propostas colectivas disruptivas.

            Nesta Lua Cheia, o Sol em Leão terá de se esforçar por fazer da criação uma dádiva e ser um arauto da luz, caso contrário, o perigo do egocentrismo, pessoal e social, poderá tornar a luz num incêndio. Contudo, a posição, aparentemente maligna, de Marte conjunto a Mercúrio é equilibrada, forçada a uma harmonia, pelo trígono destes a Úrano em Touro, na VI, e a Plutão em Capricórnio, na III. Esta ligação coloca em destaque a Revolução da Terra, o Poder da Morte e a Força da Palavra, unindo-se num sentido que expressa, por exemplo, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas que, face às suas conclusões, terá de ser discutido na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas que vai começar a 14 de Setembro.

            Desta forma, este trígono dos signos de Terra é um sinal no caminho que se funde com o sextil de Úrano e Plutão a Neptuno em Peixes. A percepção de que o planeta Terra é um organismo vivo - o corpo da Deusa Mãe - será no tempo em que vivemos uma realidade indiscutível, sobretudo por força de uma causalidade natural que traz, como reacção, a resposta da Mãe Terra à agressão humana. Colhemos assim o fruto das nossas acções.

            Com Vénus em Balança, na XII, no Mau Espírito, o pensamento e as ideias oprimem o feminino e criam uma discórdia na sua dádiva de beleza e bondade. O mal cinge o feminino e a igualdade pede a sua presença. O trígono entre a Deusa do Amor na XII e Saturno na IV, lançando, a partir das profundezas da terra, o jugo do tempo sobre a Vénus dignificada, que surge aqui como uma forma de repressão. A consciência dos direitos da mulher avança, por um lado, mas é reprimida por outro. A ameaça dos talibãs sobre a mulher e o feminino é disso exemplo. Ora esse sentido é reforçado pela quadratura de Vénus a Plutão em Capricórnio, na III, no Lugar da Deusa da Lua. O poder sobre o feminino afirma-se como domínio, submissão e abuso. A possibilidade de destruição, enquanto expressão física da ignorância, ganha uma força que obrigará a pensar a vida e a morte, o valor e a tradição. Essa é a mensagem que encontramos na posição relativa do Dragão da Lua.

            Vénus em Balança, na XII, une-se em trígono à Caput Draconis em Gémeos, na VIII, e em sextil à Cauda Draconis em Sagitário, na II. A harmonia da dádiva do feminino (Vénus), reprimida pelo lugar que ocupa (XII), pelo olhar opressivo da Necessidade (Saturno) e da Morte (Plutão), mas obrigada a expandir-se (trígono a Júpiter), une-se à sabedoria da palavra e à palavra da sabedoria. A proposta de futuro, a mensagem de eterno retorno, indicada até ao Natal pelo eixo nodal Sagitário-Gémeos do Dragão da Lua, sugere uma passagem, um caminho de sentido, que conduz a sabedoria à palavra, ao discurso e ao conhecimento.

            A nossa estrutura de pensamento, centrada na razão, no Logos, ignorou a sabedoria. Ora a Sabedoria, a deusa Sophia, é também o Eterno Feminino, o Espírito Santo. Porém, nesta Lua Cheia, com a Lua sob o horizonte, no Tártaro abismal, com Vénus sob o véu demoníaco de um Mau Espírito e o Sol reinando no alto cume, o feminino não só é temido como pode até ser rejeitado. Se a luz leonina aluminar o colectivo, então a Mãe Eterna deixará o seu santuário secreto e abençoará o mundo.