domingo, 11 de abril de 2021

Lua Nova em Carneiro: Reflexões Astrológicas

 Reflexões Astrológicas

Lunações


Lua Nova em Carneiro


03h31min, 12/04/2021
Decanato: Vénus
Termos: Marte
Monomoiria: Sol

 
   A Lua Nova que inaugura o ano astrológico apresenta-se com quase todos os astros abaixo da linha do horizonte, somente Plutão e a Cauda Draconis escapam a esta condição. O Dragão da Lua, que nos continua a falar da passagem da sabedoria à palavra, mergulha também ele no submundo. A sizígia ocorre no decanato de Vénus, estando a Deusa do Amor conjunta a ela, e nos termos de Marte, com quem se relaciona de forma hexagonal. Existe aqui uma união dos opostos, uma harmonia dos contrários. O feminino e o masculino encerram o mistério da Câmara Nupcial e, do lugar que não tem lugar e que está por toda a parte, o Indeterminado nasce com a forma do Logos, com a forma do Amor.

   A monomoiria do Sol consubstancia a natureza do lugar onde se dá a união dos luminares. Da IV, do Lugar Sob a Terra (ὑπόγειον), do Tártaro profundo e da herança dos nossos ancestrais, a luz marca a sua presença. Quando algo se encontra no mais profundo dos abismos, o único olhar possível é aquele que fita o alto cume, as alturas longínquas do céu. A luz determina assim a viagem e, partindo do Ventre da Terra, esse ponto fulgente avança e cresce, alumia e torna-se chama e fogo. A sizígia em Carneiro fixa a potência e a possibilidade como momento inaugural do acto criativo e da acção teleológica.

   Neste novilúnio, a posição dos luminares, a partir do Lugar Subterrâneo, distribui os seus raios por presença e por aspecto de um modo que é tendencialmente benéfico. A luz cria uma harmonia dos opostos que, como já se referiu a respeito de Vénus (IV) e Marte (VI), mas que concerne também a Mercúrio (IV) e a Júpiter (II), permite a renovação do humano e um renascimento da humanidade. Esta harmonia surge da possibilidade de gerar, através do amor em acto (Vénus/Marte) e da palavra que cria e expande (Mercúrio/Júpiter), uma verdadeira relação entre o Eu (Carneiro, IV) e o Outro (Balança, X). A potência criadora de aqui se fala é a mesma que estava descrita na Lua Cheia de Março, porém, aqui a origem da luz encontra-se somente no Eu, não se estendendo portanto no eixo.

   O novilúnio em Carneiro traz consigo um potencial de luz que, pela consciência de si, pode levar o Eu ao Outro e, numa estrutura social aquariana, sugerida por Júpiter e Saturno, criar um Nós. No entanto, a imaturidade do primeiro signo pode agudizar o narcisismo social em que vivemos, anulando a empatia e a compaixão. Os sextis de Marte e de Júpiter aos luminares têm um carácter de acção e expansão cujo valor está ainda por estabelecer, até porque Marte e Júpiter unem-se triangularmente, firmando-se assim essa condição de possibilidade. Sobre o destino, o humano constrói-se, pois a dádiva (sextil de Vénus e Júpiter) precisa sempre de uma disponibilidade receptiva.

   Se, por um lado, a luz se encontra no ponto mais profundo (IV), a morte nasce no horizonte, surgindo, da noite, no lugar da vida (I). Plutão encontra-se no Horóscopo a ascender. Este é um dos benefícios do sistema de casas de signo inteiro ou casa-signo, pois, caso contrário, recairia na XII, anulando-se assim este sentido de nascimento e ascensão. Ora o nascimento de Plutão, aquando do novilúnio, relaciona-se tanto com os aspectos que com ele estabelece como anuncia o período de retrogradação (27/04 – 06/10). Este último ocorrerá entre os graus 27 e 25, ou seja, sairá dos termos de Marte e entrará nos de Saturno, cruzando-se respectivamente pelas monomoirias de Mercúrio, de Vénus e do Sol. É um período quase igual ao do ano anterior e semelhante ao dos últimos anos, daí a importância de se observar estes graus.

  Sabemos que Plutão marcou a pandemia, mas também as erupções vulcânicas e os sismos. A acção de Plutão pode indicar um grito das profundezas da terra que afecta tanto o planeta e os seres que nele habitam como as estruturas que foram criadas, o que se torna evidente pelo facto de este estar em Capricórnio. Ao estar em conjunção ao Horóscopo, Plutão traz a união entre a vida e a morte, o conhecimento da morte e o absoluto que pertence à terra, o Et in Arcadia ego e o Momento mori de que já falamos. A morte torna-se o leme da vida e isso pode potenciar tanto um movimento social disruptivo como uma transformação espiritual e um renascimento iniciático e místico.

   Plutão forma com o Sol, a Lua e Vénus uma quadratura, ou seja, uma tensão que cria uma nova força que pode ser ora destruidora, ora criadora. As lições antigas de Nechepso e Petosíris dizem-nos que as quadraturas, sobretudo aquelas que ocorrem sobre os eixos cardinais, tendem a ser positivas. A ideia da morte tende a transformar a vida (sextil de Plutão e Neptuno), trazendo-lhe tanto o mistério como a ilusão. Resta-nos apenas decidir qual será a forma dessa transformação (sextil de Plutão e o Meio do Céu). Naturalmente, na análise dos eixos cardinais deve-se considerar, em especial neste caso, o sentido duplo da X e do eixo de culminação, visto que o Meio do Céu recai aqui na XI, o Bom Espírito, partilhando assim o significado que encerra com as duas casas.

    Saturno na II, com Júpiter, ergue uma ponte entre o valor e o viver. Os senhores do tempo e do espaço, da forma e da matéria, permitem que se renovem os modos de ser e estar. No entanto, por estarem em Aquário, vão negar o regresso ao normal, às formas anteriores e criarão tensões naqueles que não querem abdicar de hábitos visceralmente enraizados. A quadratura entre Saturno (II) e Úrano (V) firma esse conflito entre o viver e o criar, entre o valor e a fortuna. A densidade das formas taurinas impede um verdadeiro espírito de revolução. As estruturas de poder, e não apenas político, de Saturno em Capricórnio negam a novidade e forçam a ditadura do normal. Este perturba também o lugar das nossas vaidades, quebrando alguns dos espelhos embaciados onde julgávamos ver a realidade. Por outro lado, Saturno une-se a Mercúrio (sextil) e à Caput Draconis (trígono) colocando no tempo certo (καίρος) a palavra e a sabedoria.  

   Considerando-se a variação que, tal como é referida por Paulo de Alexandria (séc. IV EC) na sua Introdução (Cap. 30), pode ocorrer no lugar em que recai o Ponto de Culminação (MC), observa-se que, por estar no Bom Espírito (XI), o Meio do Céu acentua a sua condição de passagem, de intermediário, entre a práxis, aquilo que se faz, por meio de uma tensão ou conflito (quadraturas), com Júpiter (III), ou seja, a expansão da comunicação, da proliferação da palavra, não corresponde com as necessidades de acção, de harmonização das ideias fundamentais. A palavra torna-se ruído e não constrói a causalidade de uma actividade que transforme o mundo, pois é essa a proposta de Júpiter em Aquário. Por outro lado, Neptuno, o senhor da imaginação activa, mas também da ilusão, une-se triangularmente com o Meio do Céu e quadrangularmente com Marte. Existe na imagem que cria, no ideal, um potencial que se pode tornar tanto acção como corrupção.

   Em suma, este novilúnio coloca o seu peso, a sua gravidade, no valor da actividade e daquilo que a antecede, seja a luz que cria o mundo ou o sonho o move o humano.