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sexta-feira, 6 de março de 2020

O Enigma do Feminino (Poesia)

Carracci, Agostino, The Three Graces, sd,
Frankfurt: Städelsches Kunstinstitut.

O Enigma do Feminino


Estendida sobre um anel de fada
Em enigma a sombra da mulher
Oculta surge a ménade a vestal


25 de Janeiro de 2020
RMdF

segunda-feira, 2 de março de 2020

Erguido o Humano (Poesia)

Rubens, Peter Paul, The Triumph of Victory, c.1614.
Kassel: Staatliche Museen.
https://www.wga.hu/

Erguido o Humano


Erguei-vos etéreos sopros de revolta
Erguei-vos ígneas rochas de assalto
Tornai vosso o gume de uma palavra
A sombra férrea que só vós ergueis
E contra quem do alto ignora e nega
Sê o grito lançado de uma revolução

Erguei-vos cruzes anónimas sem rosto
De incautos e inocentes democratas
Contra as ditaduras de hoje e amanhã
Erguei-vos agora contra a fúria ébria
De vozes desumanamente intolerantes

Erguei-vos servos da impotente inacção
Erguei-vos ó desinteressado auditório
De sensibilidade vazia gelada e casta
De uma castrada conveniente empatia

Erguei-vos gente de caridade pregada
Sem alma ou espírito de transformação
Erguei-vos passivos e ocos cantadores

Erguei-vos crianças senhoras do futuro
Tomai como vossa a utopia do agora

Erguei-vos hoje esclarecidos humanos


25 de Janeiro de 2020
RMdF

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A Alma das Árvores (Poesia)

Andreescu, Ion, Edge of the Forest, c.1880. 
Bucharest: Muzeul National de Arta. 
https://www.wga.hu/
A Alma das Árvores


A alma humana __________
Antes de voltar a ser estrela 
Deseja regressar às árvores 
Ser raiz e tronco ramo e folha 
Ser da natureza a firmada torre 
Guardiã da terra senhora do ar
_________________________ 
E nos seus veios pulsar o tempo 
Registar em circundantes anéis 
A memória que o humano apaga 
__________ a alma das árvores 
Acaricia o vento e a brisa quente 
E pelo ar espalha-se e semeia-se 
Renascendo simples noutro lugar 
A serenidade habita a semente 
_________________________ 
E não podendo ser apenas etérea 
A alma das árvores é um corpo 
Sólido, vivente, que exala o sopro 
E verte a seiva _____________ 
Renova-se no sol novo de cada dia


10/12/ 2018
RMdF

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Virgem Mãe (Poesia)

Amigoni, Jacopo, Juno Receiving the Head of Argos, 1730-32. 
Rickmansworth, Hertfordshire: Moor Park. 
https://www.wga.hu/


Virgem Mãe


Banhada no Egeu
Em Samos e Argos 
Uma Hera Arcaica 
Das águas anciãs 
Retorna donzela 
Não do falo oferta 
Nem do virgo serva 
Mas do parto rainha


4 de Fevereiro de 2019 
RMdF

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Anima Mundi (Poesia)

Blake, William, The Book of Job: 
When the Morning Stars Sang Together, 1820 
New York: The Morgan Library and Museum. 
https://www.wga.hu/
Anima Mundi


__________Observas
Sob a luz do mundo
Com a profundidade da alma 
Não a minúcia da sua mecânica 
Não a teoria que te torna racional 
Nem o tautológico silogismo 
Que artificialmente te sustenta o entendimento 
Mas sim a ordem e a beleza 
Que fazem do universo uma obra de arte 
__________ Sozinho 
Como uma ínfima migalha de matéria 
Vês a poesia de uma constelação 
A arte pictórica de uma super nova 
A escultura torneada de um buraco negro 
A harmonia musical de uma galáxia 
__________ O Universo 
Orquestrado pela sua alma 
Deixa de ser conhecimento 
Para se tornar sentido 
Representação 
Primitiva Ideia 
__________ A Origem


3 de Dezembro de 2018 
RMdF

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O Daímon de uma Palavra (Poesia)

Rubens, Peter Paul, The Fall of Icarus, 1636.
Bruxelas: Musées Royaux des Beaux-Arts.


O Daímon de uma Palavra


Como podes não ser
Esse ser de passagem
Que sozinho persegue
A sagacidade do bem
E sozinho tenta e recua
Na condescendência
Do mal imenso



18 de Agosto de 2018
RMdF

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Revoltada a Rosa (Poesia)

Botticelli, Sandro, Retrato de Dante, c.1495.
Colecção Privada.

Revoltada a Rosa


E não o albo dissidente
Da áurea cidade exilado
O nobre poeta universal
Não cai como corpo morto cai
Cai vivo inteiro na morte sua
Praguejando e pelejando
Revoltado voraz e triste
Consciente do que se perdera
Cai vivo inteiro na morte sua
Para uma cidade em queda
E uma divina amada já caída


8 de Outubro de 2019
RMdF

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O Sentido do Céu (Poesia)

Gogh, Vincent van, Starry Night, June 1889.
Nova Iorque: Museum of Modern Art.


O Sentido do Céu


Astro mudo
Ideia falante
É profunda
A divindade
Das estrelas


1 de Fevereiro de 2019
RMdF

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Acreditar (Poesia)

Friedrich, Caspar David, Woman before the Rising Sun (Woman before the Setting Sun), 1818-20.
Essen: Museum Folkwang.
https://www.wga.hu/

Acreditar 


Crepitava na alma a incandescência de cada oração 
E abandonada às preces do amanhã fúlgida esperava


11 de Agosto de 2019
RMdF

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Voar (Poesia)

Troy, Jean-François de, An Allegory of Time Unveiling Truth, 1733.
Londres: National Gallery.
Voar

Se rasante
Voas
Sobre as coisas
Pairando
Vendo
Desconhecendo
Em nada encontrarás
A profundidade
Íntima
E electiva
Voa antes a pique
Falcão peregrino
Rasgando
Conhecendo
O abismo
Da realidade

27 de Setembro de 2019
RMdF

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A Sombra da Vida (Poesia)

Caravaggio, Narciso, 1598-99.
Roma: Galleria Nazionale d'Arte Antica.
A Sombra da Vida


Como setas e dardos
                                     O vento nas folhas

Como espada e gume
                                     A onda no areal

Como sangue e ferida
                                     O fogo no madeiro

Como guerra e morte
                                     A ignorância no humano

Essa é a sombra da vida
                                     A sabedoria ausente


3 de Setembro de 2019
RMdF

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Uma Ferida no Ar (Poesia)

Gérard, François, Cupido e Psyche, 1798.
Paris:Museu do Louvre.
Uma Ferida no Ar


Não Não ______________
Nem o mar é rude e crespo
Nem as ondas ferem o ar
Violentos são os rochedos
Os cumes em alta escarpa
E os promontórios afiados

Não Não ______________
Nem a terra é mansa e triste
Nem as árvores ferem o ar
Belicosas são as montanhas
E ainda as pedras do ocaso
Do destino firmes contendas

Não Não ______________
Nem o vento é revoltado e só
Nem as aves do céu ferem o ar
Cortante é o grito de uma brisa
A ira dançarina de um tornado
E o vendaval numa madrugada

Não Não ______________
Nem o Sol é solitário e ardente
Nem os seus lumes ferem o ar
Cruel é o céu sem luz ou estrela
O astro errante do olhar ocultado
É a vida que sobrevivente recua

_____________ perdida a alma
Da sabedoria é uma ferida no ar


6 de Julho de 2019
RMdF

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Missão (Poesia)

Coli, Giovanni, The Triumph of Wisdom, 1671.
Veneza: Convento de San Giorgio Maggiore.
Missão


Se para a tua vida
queres uma missão
Outra não terás tu
Que tudo aprender
E no fim nada saber
Não te prendas pois
Em doces ilusões
De vã grandeza
Pois no mundo
És somente
Uma partícula
De estelar
Poeira


4 de Fevereiro de 2019
RMdF


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Orar ao Inevitável (Poesia)

Mantegna, Andrea, Introdução do Culto de Cibele em Roma, 1505-06.
Londres: National Gallery.

Orar ao Inevitável


Ó Adrasteia ninfa
Arcaica deusa
Do Inevitável fado
Para Reia, Cibele
Ou a Necessidade
Do númen o nome
De epíteto sagrado
Segue ó deusa antiga
O moderno humano
Concede à memória
Da vida e da morte
A feliz fortuna e a sorte
De um bom demiurgo


28 de Outubro de 2018
RMdF

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Obra ao Negro (Poesia)

Holbein, Hans o Jovem, Estudo das Mãos de 
Erasmo de Roterdão, c.1523. 
Paris: Museu do Louvre.

Obra ao Negro


De cinzel
A tinta
Núbia
A marca
Que fere
O papel
Texto
Escrito
Lavrado
No alvor
Solitário
Traçado


26 de Maio de 2019
RMdF




Fonte da Imagem: https://www.wga.hu/cgi-bin/highlight.cgi?file=html/h/holbein/hans_y/2drawing/1530/07studie.html&find=writing

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Entre a Vida e a Morte (Poesia)

Baldung Grien, Hans, Death and the Maiden, 1518-20.
Basel: Öffentliche Kunstsammlung.


Entre a Vida e a Morte


Se viúva a vida chora
Só à morte dizeis vós
Esta não é a tua hora
Recua já ó cruel algoz


Se leda se nega a vida
Sombria a morte vem
E dizeis A toda a brida
Dai o corcel a alguém


Se em fio vai a gadanha
Escapar é célere gesto
Dizeis vós Se ela ganha
Nada vale o passo lesto


6 de Maio de 2019
RMdF










terça-feira, 28 de maio de 2019

Crepúsculo do Feminino (Poesia)

Botticelli, Sandro, Pallas, c.1490.
Florença: Galleria degli Uffizi.

Crepúsculo do Feminino


De sangue e leite Reia cretense
Ou do eterno fluxo Magna Mãe
A placenta de um deus menino
Na Figália corrente rio se torna
Onde na rude e silvestre Arcádia
Outra divina destronada deusa
Num templo perdido permanece
Dando apenas o dia ao ano todo
Eclipsada está a antiga deidade
Esquecida está a materna rainha
Da terra e do ar da água e do fogo
Perdemos pois o divino feminino
E do novo homem tudo se tornou
Sombra e imagem representação


29 de Janeiro de 2019
RMdF

terça-feira, 14 de maio de 2019

Morrente o Tempo (Poesia)

Vouet, Simon, Saturn, Conquered by Amor,
Venus and Hope
, 1645-46. Burges: Musée du Berry.

Morrente o Tempo


Moribundo clama o tempo
Esse agora sempre perdido
O oportuno momento seu
Que não é nem o passado
Funesto saudoso e iludido
Nem do futuro a sombra
Estendida fiel e prometida
Severa saturnina é a lição
Do tempo fiado ora tecido
Ora cortado das sapientes
Rubras deusas de outrora
Moribundo clama o Tempo
Divino eterno mas morrente


21 de Março de 2019

RMdF

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Esse elástico em pés de menina (Poesia)

Gauguin, Paul, Breton Girls Dancing, 1888. Washington: National Gallery of Art.


Esse elástico em pés de menina

Se escapares da rotina
Da autocarro atrasado
Do dinheiro que não estica
Das pessoas malignas
Que sem autorização 
Te invadem a vida
E pensares em Deus e no Tempo
Não com o cálculo do físico
Nem com a razão do filósofo 
Mas com o espírito livre de um poeta
Compreenderás não como metáfora
Mas como realidade vibrante
Visão primordial da totalidade 
Que Deus e o Tempo
São três meninas a jogar ao elástico
Qual feminina trindade
Deusa tríplice e fiandeira
Nesse jogo de criança
Ouvirás as meninas a cantar
Batendo as palmas
Dando som ao universo
E as três trauteando dirão
Salta pisa e cruza
Pisa cruza e salta
E a gravidade o espaço e o tempo
Comprimindo-se e estendendo-se
Tornar-se-ão a unidade
De uma relativa verdade
E tu do quotidiano liberto humano
Observarás o elástico sob os pés da menina
Aquela que dança entre as irmãs
E então o tempo 
Esse elástico em pés de criança
Saltado será a oportunidade 
Pisado o momento 
E cruzado e estendido 
Toda uma vida
Agora longe da rotina 
Da autocarro atrasado
Do dinheiro que não estica
Das pessoas malignas
Que sem autorização 
Te invadem a vida
Quando procurares 
A divina imagem
Não vejas pois o velho barbudo 
Vê antes três meninas a brincar
Três mulheres que voltam a jogar


25 de Março de 2019
RMdF

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Do Eu ao Todo (Poesia)

Curradi, Francesco, Narcissus, s/d.
Florença: Galleria Palatina (Palazzo Pitti).


Do Eu ao Todo


Se na vida 
Algo queres ser
Perde o eu
A que tanto te agarras
Para abraçares o todo
Que tudo te dá

Não sejas pois a repetição 
Desse eu que tudo detém 
Sem nada conseguir ser
Sê antes a profundidade 
De um poço vazio
Que paciente espera
A água as chuvas
Encher-se 
Tornar-se outro 
Cheio renovar-se

Perde pois esse eu
Que em tudo se inclui
Como Narciso 
Dizendo
Fiz sou apareci
Dilui-te na obra do agora
Na sabedoria que é semente
E sê antes a árvore
Que vê e ouve
O rio que corre 
Sem ter de ser

Se na vida 
Ou além da morte
Algo queres ser
Perde esse eu
Que só a ilusão te dá
Para vivo puderes ser
Não uma parte no todo
Mas o todo por toda a parte


24 de Março de 2019

RMdF