Mostrar mensagens com a etiqueta Literatura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Literatura. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Livro: Esta Noite Sonhei com Dante e outras histórias

 



Esta Noite Sonhei com Dante e outras histórias


Este pequeno livro, iniciado pelo conto Esta Noite Sonhei com Dante e acompanhado por mais três pequenas histórias (O Homem que deu a Palavra ao Fogo, O Louco de um Livro Só e O Velho que Não Escutava o Riso dos Golfinhos), reúne textos escritos entre 2016 e 2017 e que apresentam uma unidade de sentido, consistente com o propósito de pensar o humano e de integrar a sua natureza na tradição literária e filosófica. Nestas quatro ficções, pretende-se que a palavra seja sugestão e que o pensamento se torne a mensagem do texto. De Hipátia a Dante, as referências filosóficas e poéticas pretendem fixar um sentido no humano, trazendo a origem, a fundação, para o tempo presente e transformando-a em revelação. Esse elemento de passagem não pretende servir de redenção, mas sim de catarse, de purificação do humano. 


ISBN: 9798758835968

Edição: Outubro de 2021

Páginas: 68 



À venda no Amazon




Para mais informações acerca deste e de outros livros consulte o nosso sítio


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Lançamento do Livro Digital: Esta Noite Sonhei com Dante e outras histórias

Título: Esta Noite Sonhei com Dante e outras histórias (Livro Digital)

Autor: Rodolfo Miguel de Figueiredo


Edição: Outubro de 2021


Páginas: 68


Sinopse: Este pequeno livro, iniciado pelo conto Esta Noite Sonhei com Dante e acompanhado por mais três pequenas histórias (O Homem que deu a Palavra ao Fogo, O Louco de um Livro Só e O Velho que Não Escutava o Riso dos Golfinhos), reúne textos escritos entre 2016 e 2017 e que apresentam uma unidade de sentido, consistente com o propósito de pensar o humano e de integrar a sua natureza na tradição literária e filosófica. Nestas quatro ficções, pretende-se que a palavra seja sugestão e que o pensamento se torne a mensagem do texto. De Hipátia a Dante, as referências filosóficas e poéticas pretendem fixar um sentido no humano, trazendo a origem, a fundação, para o tempo presente e transformando-a em revelação. Esse elemento de passagem não pretende servir de redenção, mas sim catarse, de purificação do humano.

Clique para Pré-visualizar e Comprar

terça-feira, 7 de setembro de 2021

O Resto Permanece Humano - Livro I (Livro Digital)


Título: O Resto Permanece Humano - Livro I

Autor: Rodolfo Miguel de Figueiredo

Edição: Setembro de 2021

Páginas: 152

Sinopse: O Resto Permanece Humano é um projecto editorial que procura reunir a obra poética dispersa no blogue com o mesmo nome, bem como nos outros sítios e redes sociais do autor, incluindo também muitos poemas inéditos. Os noventa e dois poemas que estão reunidos neste primeiro livro foram escritos em 2018 e 2019 e estão organizados de forma a permitir uma percepção dos vários vectores que sistematizam o pensamento do autor. A obra cujo título segue os versos de Ovídio, “cetera sunt hominis, partem damnatur in unam /induiturque aures lente gradientis aselli” (Metamorfoses, XI, 178-9), pretende mostrar que, quando a acção humana e a espuma dos dias colocam o humano em remissão, esvaziando o sentido de humanidade, existe sempre algo que resta, algo que conserva esse humano que se perde. A sabedoria continua a ser um caminho de redenção.  

Clique Pré-visualizar e Comprar

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Mimésis (Poesia)

Rembrandt, Harmenszoon van Rijin, Scribe sharpening his quill by candlelight, c.1635.
Weimar: Kunstsammlungen.
https://www.wga.hu/


Mimésis


Textualizada a viagem
Da palavra um êxtase
E de chegada o verbo
Corria da letra a sílaba


06/06/2020
RMdF

terça-feira, 20 de outubro de 2020

No Trono de Eurínome (Poesia)

Francken, Frans II, The Triumph of Neptune and Amphitrite. 
Private collection 
https://www.wga.hu/


No Trono de Eurínome



Arconte de espuma e voragem
Eleito senhor do mar sem rosto
Ó tridente servo da deusa ninfa
Rainha da água mãe do tempo
Libertai no nosso fim a origem
Memória longínqua da criação
Da senhora trono seu novo rei
Libertai no nosso fim a origem
Um uterino mar de nascimento
Ó equino servo da deusa sereia
Criadora do mundo do humano
Libertai no nosso fim a origem


04/06/2020
RMdF

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Da Clepsidra o Vendaval (Poesia)

 

Bellini, Giovanni, The Feast of the Gods, 1514. Washington: National Gallery of Art.

Da Clepsidra o Vendaval


Entram sem rosto denso
No antiquário da história
Na poeira das afinidades
Nos recantos da alegoria
Recuperando do passado
Das ruínas os estilhaços
Os fragmentos de um ser
Da memória resgatados


19 de Maio de 2020
RMdF

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Do Vazio um Haiku (Poesia)


Bril, Paul, Pan and Syrinx, 1620-24. Paris: Musée du Louvre.
Bril, Paul, Pan and Syrinx, 1620-24. Paris: Musée du Louvre.
https://www.wga.hu/



Do Vazio um Haiku


Sem as gentes mar imenso
A paz o grito desesperante
Da desumana e bela cidade


13 de Maio de 2020
RMdF

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Da Tempestade um Haiku (Poesia)

Rubens, Hero and Leander, c.1605.  New Haven: Yale University Art Gallery. https://www.wga.hu/
Rubens, Hero and Leander, c.1605. 
New Haven: Yale University Art Gallery. 
https://www.wga.hu/


Da Tempestade um Haiku


Crepitado o vento do norte
De um tempo a passagem
O agora fumegante do chá


9 de Maio de 2020
RMdF

quarta-feira, 22 de julho de 2020

O Castigo de Tirésias (Poesia)


Pietro della Vecchia, Tiresias transformed into a woman, 1626-1678.
Nantes: Musée d Arts de Nantes.

O Castigo de Tirésias


Do falo agora vulva
A ofídia desmedida
Cego o sábio gesto
De Hera a punição
Como mulher viveu
Tirésias o adivinho


26 de Abril de 2020
RMdF

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Criação (Poesia)

Boucher, François, The Birth of Venus, 1740. Estocolmo: 
Nationalmuseum. 
https://www.wga.hu/


Criação


Atrás do tempo___________
________ segue a madrugada
No humano a palavra vencida
Agora eleita imagem repetida
Traduzindo de Narciso a água
_______________________
Vence pois o autor a obra sua
Tornado ele relíquia a vaidade
________ e perdendo-se hoje
A obra-prima _____________
De liberdade origem a criação
_______________________
Segue solitário atrás do tempo
O autor a obra uma madrugada


3 de Maio de 2020
RMdF

domingo, 12 de julho de 2020

De Abril a Maio (Poesia)

Parlamento Português (Wikipédia)


De Abril a Maio


Confinado o Abril
Imenso é o nome
De ser Liberdade
Nas suas gentes
Ontem o amanhã
Mas na sua casa
Hoje p'ra sempre

De Maio primeiro
Esperança nossa
De labor um leme
Direito a trabalhar
Sem deixar de ser
A luta a dignidade
Em Abril em Maio


19 de Abril de 2020
RMdF

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Quietude (Poesia)

Vouet, Simon, St. Mary Magdalene, 1623-27. 
Rome: Galleria Nazionale d Arte Antica. 
https://www.wga.hu/

Quietude


Se viajar
No mundo
Já não podes
Habita apenas
Percorrendo
A imensidão
Do interior

Silencia-te
Concede a paz
Ao teu agora
Não lutes
Contrariado
Contra o tempo
Acolhe como tua
A sua passagem

Amanhã
Noutro mundo
Serás outro
Renovado
Renascido
O Novo Humano


23 de Março de 2020
RMdF

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Desfeita Ilusão (Poesia)

Delacroix, Eugène, Hamlet and Horatio in the Graveyard, 1839. 
Paris: Musée du Louvre. 
https://www.wga.hu/




Desfeita Ilusão

Por terra a sebe alta
Os castelos de vidro 
De etéreos demónios 
Os firmados artífices 
Pastores de ilusões 
Por hora esquecidos 


11 de Março de 2020 
RMdF

terça-feira, 28 de abril de 2020

Solitude (Poesia)

Bassetti, Marcantonio, St Antony Reading, s/d. 
Verona: Museo di Castelvecchio. 
https://www.wga.hu/



Solitude

Não encontrás caminhando
Fora de ti nas vastas terras 
O que ausente permanece 
Busca sem o passo inquieto 
Centrado no eixo de Sophia 
E ensimesmado descobrirás 
Como se fosse um tesouro 
O silêncio que tanto evitaste 


14 de Março de 2020
RMdF

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Cisne (Poesia)

Cignaroli, Giambettino, Leda and the Swan, s/d.
Colecção Privada
https://www.wga.hu/




Cisne


Arensado o lago a regina ave
De asas erguidas a natureza


30 de Janeiro de 2020 
RMdF

terça-feira, 21 de abril de 2020

Consciência (Poesia)

Boucher, François, The Rising of the Sun, 1753. 
London: Wallace Collection. 
https://www.wga.hu/



Consciência 


Vento e vertigem 
Vislumbre de hoje 
Abismo de ontem 
De Cintereia lume 
De Sileno sombra 
Humana margem 


24 de Fevereiro de 2020 
RMdF

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Kaíros (Poesia)

Bor, Paulus, Ariadne, 1630-35,
Pznan, Muzeum Narodowe
https://www.wga.hu/



Kaíros


Ancorado o ser no tempo
Da humana possibilidade
Seguindo a electiva hora


16/02/2020
RMdF

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Cavalo de Tróia (Poesia)

Tiepolo, Domenico, The Procession of the Trojan Horse in Troy, 1773.

Cavalo de Tróia


Arrastada a equina perdição
Recebia a cidade o seu fado
Findo o choque de falanges
E esgotado o bélico embate
Sai de cena a Divina Andreia
E entra a Astúcia a Quimera
Segue pois Príamo pesaroso
Da morte caído nobre Heitor
Esse divino logro de Odisseu
Oferta deles ao deus tridente
Funesta dádiva d'outro cheia
Que por o pórtico convidada
Traz da desmedida a queda

12/02/2020
RMdF

quarta-feira, 4 de março de 2020

Esta Noite Sonhei com Dante - Um Conto (Excerto)

Blake, William, The Lovers' Whirlwind,
Francesca da Rimini and Paolo Malatesta
, 1824-27.
Birmingham: Birmingham Museum and Art Gallery.
https://www.wga.hu/


Esta Noite Sonhei com Dante 

- Um Conto -


I


   Maria Clara, inquieta e angustiada, dava voltas na cama. Como uma tempestade revirava os lençóis. Tornava a areia lisa do tecido em dunas íngremes de cobertores e mantas. O seu sono era o de quem leva a bordo a dor no inconsciente e a veleja no mar agitado do sonho e da fantasia. As gotas de suor e lágrimas eram o rio que corria até ao seu corpo, desaguando em tormenta e memória. Com os olhos fechados e a respiração ofegante, a jovem mulher rodava de um lado para o outro. A realidade de quem apenas vê permanecia de pálpebras deitadas e tudo quanto existia era sonho e imaginação, dádiva e desgraça. Maria Clara sonhava com Dante. 

   O segundo círculo do Inferno, mais pequeno que o primeiro, mas maior em sofrimento, era um abismo de dor e um vórtice de expiação. Porém, naquele lugar não existia perdão, nem absolvição. A pena do pecador estendia-se na eternidade. Maria Clara estava encolhida sobre si mesma, de braços cruzados, envolvendo o peito, e levemente curvada, devido à gravidade do espaço. Olhou em frente e viu, não muito longe, o horrível soberano de cauda rodante, o juiz e o carrasco, o senhor que pune, sem compaixão, aqueles que foram entregues ao círculo dos luxuriosos. Os condenados por amor faltoso, por erro do coração, colocados diante da justiça de Minos, desconheciam o seu fado. A sua sentença era volverem-se, girarem sobre si mesmos, num tornado de agonia, juntos, mas sem união, até desesperarem na roda do tempo que não pára. 

   Maria Clara seguiu, a passo tardio, o caminho que temia encontrar. Olhava à sua volta, detinha-se nos casais em pranto, procurando chegar a quem há muito perdera. Aproximou-se mais um pouco, até que, junto dela, estavam duas sombras, as quais observavam e nomeavam o mesmo que a jovem queria ver. Ouviu, da boca do guia, os nomes dos danados. Primeiro as mulheres, a quem o pecado da luxúria é gravemente sancionado e a quem, por norma, se atribui uma pena superior e mais didáctica. Com as palavras do mestre e do seu discípulo, pode identificar Semíramis da Assíria, Dido de Cartago e Helena de Tróia. As três mulheres que em diferentes formas de amar se perderam eram penitentes sem perdão. Os amorosos companheiros também não escaparam da punição que no tempo se arrastava. Aquiles, Páris e Tristão a outros mil se juntaram, seguindo o séquito de luxuriosos a quem o amor fendeu o fio da vida severa. Maria Clara, assistindo à procissão da turba dolorosa, procurava, sem cessar, um casal de amantes que só ali podiam estar, mas as lágrimas que o choro estendia impediam-na de olhar com vagar e pormenor. Diante de si e dos outros viajantes, dois amantes se colocaram, rodando em sofrimento e pesar. Francesca da Polenta e Paolo Malatesta morreram por amar, foram assassinados pelo marido e irmão. Maria Clara perguntava-se que amor era aquele que não permitia amar quem fora amado, mas, sem resposta, sentiu o fraquejar das pernas, o peso sobre os ombros, a queda que ameaçava. A tragédia dos amantes era idêntica à dos seus pais que também foram mortos por amar e, sem perdão, somente no Inferno podiam estar. 

   Maria Clara fixou os olhos daquele que seguia o mestre latino e viu as lágrimas que o tomavam. A dor de Francesca era a sua própria dor, dor essa que era idêntica ao quebranto que a jovem sentia. O sofrimento tomou o corpo e nele se fez raiz. O poeta descrevia o texto como vida, como mestre no caminho, pois indicava e sugeria, por sibilinos oráculos e por sinais de símbolo, analogia e metáfora, o destino que não se podia evitar. A página que ditou o fim de Francesca e Paolo foi a mesma, ou pelo menos um cópia ou adaptação, da que marcou a morte dos seus pais. Maria Clara procurou a memória, o sentido e o valor, mas tudo o que levava consigo era a proximidade da queda, do abismo que inauguralmente se apresentava. A dor dominou a fraqueza de quem via os amorosos em tamanha agonia e pranto e, na impossibilidade de libertar o amor dos seus algozes, a morte tolhia-lhes os membros. O fiorentino escrevente quebrou-se em queda certa e chorou o amor alheio como se o seu próprio coração tivesse sido apartado, arrancado do peito sem bebida forte ou pancada rude. Maria Clara, tal como Dante, caiu no sonho e na vida como um corpo morto cai. A jovem mulher tinha a consciência cristalina que um amor que não nos ergue ao sol e às estrelas só ao Inferno nos pode conduzir e, embora não tivesse visto os seus pais, sabia que seguiriam no séquito dos defuntos do amor.

   Maria Clara acordou do seu sonho como se se estivesse a afogar no mar profundo e fosse resgatada, puxada para cima, por um velho marinheiro que a furtou à morte escrita. Os pulmões negavam o sopro que era dádiva e feriam o peito quando inspirava. A jovem sentou-se na cama, desapertando os botões da camisa de dormir, soltando o pescoço que sufocava. Deixou os seios expostos à noite que fora uma cruel conselheira. O suor corria da testa à foz, humedecendo a roupa e pingando do cabelo. Não fora apenas o que vira que a deixara em sofrimento, foi também o que não vira, o que não disse, o que não pode expressar. A memória implorava por transformação, por justiça ou entendimento. A jovem levantou-se, caminhou para a bacia de água e despejou as conchas das mãos no rosto quente. Molhou o pano bordado e banhou-se de lua e esquecimento.


..... continua 



RMdF