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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Uma Oração a Ísis: O Burro de Ouro de Apuleio



- Rainha do céu - sejas tu a Ceres nutriz, mãe e criadora dos cereais, que, transbordante de alegria por teres encontrado a tu filha, puseste fim ao antigo e selvagem costume de comer bolotas, mostrando-nos como desfrutar de um tenro alimento, e agora cultivar os campos de Elêusis; sejas tu a Vénus celestial, que nos primeiros tempos do mundo uniste os sexos opostos, ao conceber o Amor, e garantiste a propagação do género humano através de um eterna renovação da sua descendência, sendo agora objecto de culto em Pafos, num templo circundando por ondas; sejas tu a irmã de Febo, que alivias com remédios calmantes as dores de parto, ajudando assim a criar multidões de povos, e és agora alvo de veneração nos ilustres santuários de Éfeso; sejas tu Prosérpina, que inspiras terror com os lamentos nocturnos e cuja face triforme detém o avanço dos espectros, ao manter encerrada a passagem para os superiores domínios terrestres, tu que andas errante por bosques diversos e és propiciada através de cultos vários. Com essa tua luz feminina, alumias todas as muralhas, e com esse calor húmido alimentas as férteis sementes e, em tuas solitárias circunvoluções, dispensas uma luminosidade incerta - seja qual for o nome, o rito, a aparência com que for lícito invocar-te: vem tu agora em meu auxílio, na meta extrema das minhas provações, fortalece tu a minha desfalecida fortuna, concede-me tu a paz e o sossego, no termo de tão cruéis desventuras; já basta de canseiras; já basta de perigos!  

Apuleio, O Burro de Ouro, 11, 2. Tradução de Delfim Leão. Lisboa: Livros Cotovia. 2007.