domingo, 31 de dezembro de 2023
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
Júpiter Retrógrado: De 4 de Setembro a 31 de Dezembro de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Retrogradação de Júpiter
Reflexões Astrológicas
Retrogradação de Júpiter
Lisboa, 15h11min, 04/09/2023
Júpiter
Decanato: Lua
Termos: Júpiter
Monomoiria: Mercúrio
Júpiter
inicia a sua retrogradação no signo de Touro, no 16º grau (15º34΄), estando Sagitário
a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na VI, o lugar da Má
Fortuna (κάκη τύχη), no decanato da Lua, nos termos de Júpiter
e na monomoiria do Mercúrio. A retrogradação
começa assim de dia, abaixo do horizonte e depois do Sol passar a culminação. Em
2023, o movimento em que Júpiter nos concede a ilusão de estar a recuar
estender-se-á até 31 de Dezembro, onde estará no 6º grau (5º34΄), nos termos de
Vénus. Existirá pois um caminho de reintegração do potencial do bem entre os
termos de Júpiter e os de Vénus, oposto ao que se assistiu na retrogradação de
Vénus, quando o caminho se estendia entre os maléficos.
A
ligação entre os benéficos torna-se particularmente expressiva se pensarmos que
a retrogradação de Vénus termina quando vai começar a de Júpiter. A
potencialidade do bem afirma-se durante todo este período com uma qualidade
reflexiva, um meio de efectivação futura. Por outro lado, existe no fenómeno astrológico de
retrogradação uma certa forma de negação da acção planetária. Ora é neste
sentido que Hermann Melville, em Bartleby, o Escrivão (1853), expressou
uma categoria filosófica que pode também ser entendida como um modo último de
vida. A impotência, a não-potência, o acto de contrariar a acção impõe-se como
possibilidade, como uma permanência na possibilidade. O dizer “Prefiro não o fazer” é o baluarte
supremo da resistência, revelando que pode, mas prefere não o fazer.
Existe
aqui uma deliberação, uma escolha, que, embora impeça o acto, a realização, não
deixa de ser activa. No entanto, para a astrologia, a retrogradação vai
fixar-se entre a potencialidade, a impotência e a não-potência, não tanto por
liberdade ou negação, mas por ser uma condição sine qua non, um meio através do qual a criação e a acção geram as
suas raízes. Este processo de enraizamento contempla necessariamente a condição
nefasta ou desvantajosa, descrita por Doroteu (Carmen Astrologicum, I, 6) ou
por Paulo de Alexandria (Introdução, capítulo 14),
sem perder, todavia, o carácter de semente. Por exemplo, Hades/Plutão é tanto o
deus do submundo, dos mortos, como o deus da abundância, pois é sob a terra que
a semente germina, ou não. Na retrogradação de Vénus e Júpiter, temos de
considerar, desta forma, o enraizamento do bem e da justiça e, enquanto
semente, o seu potencial de dádiva ou bênção. Esta terá de ser, neste caso, a
matriz dos conceitos de δύναμις
e de ἐνέργεια quando aplicados à astrologia.
O
sentido da retrogradação de Júpiter pode ser apreendido, à semelhança do que
fizemos com Vénus, por uma análise
astro-mitológica. A passagem de Júpiter pelo signo de Touro está intimamente
associado ao Zeus cretense e à sua submissão à Grande Mãe, à deusa Reia.
Seguindo essa interpretação, a retrogradação de Júpiter em Touro pode ligar-se,
na teogonia cretense, ao momento em que os Curetes, os jovens guerreiros,
dançam e brandem os seus escudos em redor de Zeus recém-nascido, para que o
choro do jovem deus seja abafado e imperceptível para Cronos/Saturno, o pai
reinante que devorava os próprios filhos. A acção dos Curetes é um acto
iniciático, um que guarda o potencial de Zeus.
Por outro
lado, é a forma como Zeus se torna senhor do Olimpo, como adquire os seus
poderes (potencialidades), que melhor descreve e define a retrogradação de
Júpiter. O grande benéfico, seguindo as tradições matriarcais e matrilineares,
embora algo corrompidas pela literatura já androcêntrica, herda os seus poderes
de divindades femininas. Em termos astrológicos, este aspecto justifica, por
exemplo, o facto de Caranguejo ser o lugar de exaltação de Júpiter. A misoginia,
deliberada ou meramente ignorante, que ainda persiste em muita interpretação
astrológica pode ficar um pouco arrepiada, mas a leitura astro-mitológica
comprova esta raiz de sentido. As uniões de Zeus com outras divindades femininas
são a forma de este adquirir os seus poderes.
Ora é seguindo
essa tradição mitológica que Hesíodo afirma o seguinte: “Zeus, rei dos deuses, tomou por primeira esposa Métis,/ a que mais sabe sobre os deuses e os homens
mortais./ Mas, quando ela estava
prestes a dar à luz a deusa Atena de olhos garços,/nessa altura, ele enganou o seu espírito,/com palavras ardilosas, e engoliu-a no seu ventre,/ por conselho da Terra e do Céu coberto de
estrelas./ Ambos o aconselharam
assim, para que o poder régio/ não
pertencesse a nenhum outro dos deuses que vivem sempre, senão a Zeus./ Porque estava predestinado que dela
nascessem filhos muito inteligentes:/ a
primeira, a filha de olhos garços, a Tritogéneia,/ detentora de força e de
uma sábia vontade igual à do pai;/ depois,
seria a vez de um filho, rei dos deuses e dos homens,/ que ela daria à luz, um filho de coração soberbo./ Mas, antes, Zeus engoliu-a no seu ventre,/
para que a deusa lhe pudesse aconselhar o
que é bom e o que é mau.” (886-900, trad. A. Elias Pinheiro & J. Ribeiro
Ferreira. 2005: 74. Lisboa: IN-CM). Depois de Gaia e Reia, Métis é a primeira a
permitir a hegemonia de Zeus/Júpiter. Na verdade, Atena nasce posteriormente
com a condição de filha sem mãe, anulando o poder matrilinear. Este aspecto
determina a forma como Zeus/Júpiter adquire o seu poder através de uma
eliminação do poder feminino.
A sua segunda esposa é Témis, a mãe
das Horas e das Moiras. Esta concede ao deus o poder da justiça que, com o
intelecto de Métis, vai estabelecer a sua omnisciência. Depois segue-se
Eurínome, com quem teve as Graças e que, segundo a teogonia pelasga, foi a
primeira a reinar no Olimpo, num tempo anterior ao de Cronos e de Zeus. Com
Mnemósine tem as Musas, com Deméter, Perséfone, e com Latona, Apolo e Ártemis. Os
poderes da memória e poderes sobre a terra, o sol e a lua são adquiridos assim
através destas deusas e passados para a sua prole. A sua última esposa, aquela
que ficou mais marcada na tradição e mais adulterada pela misoginia dos tempos,
é Hera, com quem terá tido Hebe, Ares e Ilitia. Hera era uma grande deusa,
adorada em Argos, em Samos e na Argólida e venerada em Olímpia antes do próprio
Zeus, mas que a tradição descreve apenas como a esposa ciumenta e vingativa.
A passagem
do poder, das potencialidades radicais, das antigas divindades femininas para
Zeus firma astrologicamente esse movimento que vai da retrogradação ao estado
directo. Em 2023, retrogradação acontece não de forma isolada, mas como um
acorde da música das esferas. Primeiro, inicia-se após a retrogradação de
Vénus. Quando esta começou, Gémeos marcava a hora (tema de Lisboa) e agora
quando Júpiter nos ilude com o seu retrocesso, é Sagitário que marca a hora. O
eixo do conhecimento e da sabedoria fundam a interiorização da dádiva do bem.
Paralelamente, a retrogradação de Júpiter inicia-se com cinco planetas
retrógrados (Mercúrio, Saturno, Úrano, Neptuno e Plutão), acentuando-se assim a
já descrita qualidade do estádio.
No período em que
Júpiter estará retrógrado, ou seja, de 4 de Setembro a 31 de Dezembro de 2023, devemos
destacar os seguintes movimentos planetários: Mercúrio avançará de Virgem até
Carneiro, estando retrógrado de 23 de Agosto a 15 de Setembro e de 13 de
Dezembro a 2 de Janeiro de 2024, aqui já para além do período indicado; Vénus
passará pelos signos de Leão a Sagitário; Marte transitará pelos signos de
Balança, Escorpião e Sagitário; Saturno em Peixes ficará directo a 4 de
Novembro; Neptuno também em Peixes passará a directo a 6 de Dezembro; e Plutão
em Capricórnio terminará a retrogradação a 11 de Outubro, preparando agora o
seu derradeiro périplo por esta constelação. Por fim, é preciso destacar o
eclipse solar a 14 de Outubro e o eclipse lunar a 28 de Outubro. Estes são uma
parte dos acordes celestes que nos acompanharão nos próximos tempos.
O tema do início da retrogradação
Júpiter é também um importante meio de análise do período que agora se inicia.
Primeiramente é preciso considerar aqueles que estão co-presentes. Neste caso,
Júpiter faz-se acompanhar pela Lua e por Úrano e, estando entre eles, firma-se
um caminho de luz que se afunda sob o horizonte de Úrano à Lua. Esta é deveras
importante, pois Touro é o seu lugar de exaltação. Aqui a Lua é Métis e todas
as outras deusas que deram os poderes a Zeus. O caminho luminar agora descrito
assinala também a ascensão de Zeus, pois começa com a castração de Úrano e subida
de seu pai, Cronos/Saturno, ao trono do Olimpo e estende-se até às uniões com
as deusas antigas e que permitiram a assimilação dos seus poderes.
Por outro lado, a quadratura que se
estabelece entre os benéficos é bastante significativa, senão mesmo
estruturante e, por se dar em signos cardinais, vai fundar os movimentos
colectivos e pessoais de integração dos conceitos ou ideias de verdade, de bem
e de justiça. Por se estar a falar de Júpiter, os princípios vão adquirir um
valor espacial e, por confirmação ou negação, vão espalhar-se ou afastar-se de
tudo aquilo que nos rodeia. Se pensarmos que a retrogradação de Vénus terminou
quando a de Júpiter começou, esta quadratura vê expandido o seu sentido
profundo, aquele que, segundo Petosíris, nos diz que uma tensão quadrangular
entre os benéficos não é necessariamente má. Uma tensão do bem não cria o mal.
No entanto, devemos considerar sempre o seu valor reflexivo e estruturante. Vénus
em Leão, no lugar de deus (IX), vem dizer-nos que a nobreza da alma pode
triunfar sobre a má fortuna ou a suspensão da fortuna (Júpiter retrógrado em
Touro, na VI), mas o egocentrismo e a vaidade não triunfarão.
A posição de Júpiter em Touro, com a
Lua e Úrano, insere-se num triângulo, fundado no elemento Terra, com o Sol e
Mercúrio retrógrado em Virgem e com Plutão retrógrado em Capricórnio. A
retrogradação tem o sentido que já abordámos. O potencial do valor da Terra,
como elemento de estruturação da realidade, assume agora um sentido mais
profundo, tanto pela sua expressão mais negativa, e que é observável nas várias
formas de alienação que as estruturas materiais de valor produzem, como por
tudo aquilo que ainda se pode produzir e que pode transformar beneficamente a
humanidade. Esta posição triangular traz o destino para a integração do
elemento Terra. Para a humanidade, é difícil criar estruturas colectivas,
fundadas no elemento Terra, pois a partilha de riqueza, a igualdade, a
solidariedade e a justiça social têm sempre uma qualquer forma de resistência.
Se as considerarmos a partir dos elementos Água, Ar ou Fogo, como sentimentos,
ideias ou princípios espirituais, é mais fácil, mas quando mexe com a carteira
ou o estilo de vida, aí é que as coisas se complicam.
O sextil de Júpiter, da Lua e de
Úrano em Touro a Saturno e Neptuno em Peixes e destes últimos a Plutão em
Capricórnio vai obrigar a fluir, esses dons ou penas da Terra, por entre os
sentidos de necessidade e de solidariedade, nas águas universais. Estes
aspectos vão servir de fundação da realidade, de restruturação a partir de
valores antigos, de ideias que foram desenvolvidas, mas que aguardam uma
expressão renovada. A oposição do Sol e Mercúrio retrógrado em Virgem a Saturno
e Neptuno, ambos retrógrados, em Peixes aponta para esse caminho. Existem dois
exemplos que servem esse propósito de recriação conceptual. De um lado, temos o
hermetismo e o gnosticismo e, do outro, temos o estoicismo. Estes movimentos
filosóficos e espirituais trazem assim para o nosso tempo uma expressão
renovada e, na verdade, são todos muito próximos da astrologia, sendo até as
suas maiores matrizes filosóficas.
A retrogradação de Júpiter que domina sempre uma parte considerável do ano astrológico é um período fértil em oportunidades, mesmo que nem sempre de forma explícita. É preciso encontrar os dons da verdade, do bem e da justiça nesse processo necessário de ensimesmamento individual e colectivo. Não devemos portanto temer o voltar a si, esse retorno ao potencial, à raiz, da nossa existência.
terça-feira, 16 de maio de 2023
Reflexões Astrológicas 2023: Júpiter em Touro
Reflexões Astrológicas
Júpiter
em Touro
Lisboa,
18h20min, 16/05/2023
Júpiter
Decanato:
Mercúrio
Termos:
Vénus
Monomoiria:
Vénus
O ingresso de Júpiter em Touro ocorre
com Balança a marcar a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no
Lugar da Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato
de Mercúrio, nos termos e na monomoiria
de Vénus. O ingresso dá-se assim acima do horizonte e a duas horas e vinte e
cinco minutos do pôr-do-sol. Júpiter encontra-se, deste modo, favorecido por
estar no seu próprio segmento (αἵρεσις) e acima do horizonte. O estudo deste
ingresso e do seu tema é essencial para a compreensão dos tempos que se
avizinham. A análise relativa dos ingressos de Júpiter e Saturno em 2023
atribuirá uma qualificação estrutural dos elementos significativos que definem,
consequentemente, o ano em curso.
No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno Feminino tornar-se-á a dádiva da transformação. Esta é uma ideia que explorámos quando Saturno ingressou em Peixes e que agora, com entrada de Júpiter em Touro, é reafirmada. Partindo da premissa que é o planeta que transmite as suas qualidades ao lugar (signo) e não o contrário, podemos concluir que Júpiter chega à casa, ou ao templo, da Grande Mãe. Touro é, por excelência, o lugar da Mãe-Terra, da Mãe dos Deuses. A natureza criadora é particularmente activa neste lugar e, nesse sentido, será aí que Júpiter expressará as suas qualidades. A pergunta que se coloca é saber que Júpiter é que encontraremos neste lugar. E não, não pensemos, baseados no androcentrismo do pensamento astrológico comum, que vamos encontrar aqui o senhor do Olimpo, sentado no seu trono. A melhor imagem de Júpiter em Touro surge naturalmente da mitologia e da sua tradição. Zeus em Creta firmar-se-á como sentido profundo deste ingresso.
Em Creta, o mito do nascimento e da infância de Zeus são elementos mitológicos que tornam o deus dependente, ou subalternizado, face ao númen feminino. Reia é uma Grande Mãe, frequentemente desvalorizada. Antonino Liberal afirma o seguinte: “Conta-se que existe, em Creta, uma gruta sagrada cheia de abelhas. No seu interior, conforme afirmam os narradores, Reia deu à luz Zeus. Trata-se de um local sagrado de que ninguém deve aproximar-se, seja deus ou mortal. Numa certa altura de cada ano, diz-se que uma grande labareda emana da gruta. Na sequência da história, diz-se que isto acontece sempre que o sangue proveniente do nascimento de Zeus começa a fervilhar. As abelhas sagradas que eram amas de Zeus ocupam esta gruta.” (Metamorfoses, 19, ed. R. M. Troca Pereira. Coimbra, 2017: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017). As abelhas, o parto e a nutrição são elementos que estabelecem aqui uma hegemonia do Sagrado Feminino. Por outro lado, não em Creta, mas sim na Arcádia, Pausânias conta-nos que o Lymax, na Figália, um afluente do Neda, é um rio que teve a sua origem na limpeza de Reia após o parto, depois do nascimento de Zeus, pois a ninfas que a auxiliaram atiraram para o rio os restos da dequitação (placenta e membranas), também nos diz ainda que, perto da nascente do Alpheio, existia um templo sem telhado, com dois leões de pedra, dedicado à Mãe dos Deuses (Descrição da Grécia VIII.41.1 e VIII.44.5). Este é o poder do divino feminino.
Zeus/Júpiter nasce em Creta, quando Reia fugia de Cronos/Saturno que queria devorar o seu filho, tal como fizera com os seus irmãos. Reia dá à luz numa caverna, no Monte Dícti, e depois entrega a criança aos cuidados das ninfas Adrasteia e Ida e dos Curetes. O jovem Zeus será alimentado pela cabra Amalteia (Capricórnio) e por abelhas, ou seja, com leite e mel. Os elementos ou categorias ginocêntricas superiores a uma divindade masculina são aqui determinantes. Às deusas minóicas com serpentes, encontradas no Palácio de Cnosso, junta-se o culto do touro em Gotina, representado, por exemplo, pelo rapto de Europa, quando Zeus, sob a forma de touro, leva a filha do rei de Tiro, Agenor, para Creta. Por outro lado, temos, também de acordo com a tradição mitológica, a história de Pasífae, do Touro e do Minotauro, mas igualmente o trabalho de Hércules em que este terá de tomar o Touro de Creta. A relação entre a Grande Mãe, Zeus/Júpiter e o Touro são a matriz de sentido que define o ingresso de Júpiter em Touro. Zeus é aqui “o Touro de sua Mãe”. De um poder matriarcal, inaugura-se um poder matrilinear, tanto que Zeus/Júpiter só conseguirá desafiar e destronar o seu pai, Cronos/Saturno, com o auxílio de divindades femininas, nomeadamente a sua mãe (Reia) e a sua avó (Gaia).
A viagem de Júpiter pela constelação de Touro inicia-se a 16 de Maio de 2023 e termina a 26 de Maio de 2024, tendo um período de retrogradação de 4 de Setembro a 31 de Dezembro de 2023. É portanto um trânsito consistente, sem saídas e reingressos como aquele que observamos em Carneiro ou em Peixes. Essa afirmar-se também como significação estrutural de Touro, um signo de Terra. Existe, durante o período deste ingresso, uma relação íntima com a retrogradação, em especial, com a de Vénus (23/07 a 04/09/2023) que termina quando a de Júpiter começa, mas também com a Saturno (17/06 a 04/11/2023), ou seja, a matriz primordial das potencialidades planetárias pede uma renovada efectivação, o processo inaugural de passagem de sentido entre a potência e o acto traz até nós uma nova proposta criativa. Paralela ao estado relativo de retrogradação planetária, encontramos a relação elemental, aquela que une harmoniosamente Júpiter (Touro/Terra), Saturno (Peixes/Água), Úrano (Touro/Terra), Neptuno (Peixes/Água) e, por algum tempo, Plutão (Capricórnio/Terra). Na verdade, só este último, ao encontrar-se em Aquário (Ar), vai criar uma tensão elemental. A harmonia em torno de elementos femininos (Terra e Água) reafirma tudo aquilo que já foi mitologicamente referido.
A análise do tema de ingresso apresenta, para além da assinalável concentração de luz no signo de Touro, a semelhança do eixo de culminação com aquele que regeu o eclipse lunar. Marte e Plutão continuam, respectivamente, no cume e no abismo, estendendo, entre si e os pólos os que definem, uma promessa de destruição que surge como aviso ou lembrança. Este marco na estrada diz-nos que o criar e o destruir são duas faces de uma mesma realidade. No entanto, se compararmos com o tema do eclipse lunar, Marte afasta-se da culminação, encontrando-se no signo seguinte. A ausência de planetas entre a ascensão e a culminação vem retirar alguma firmeza ou aspereza a esta posição. O trígono entre os maléficos (Marte em Caranguejo e Saturno em Peixes) diz-nos que esta destruição não acontece por acidente, não é fruto do acaso, ela surge porque faz parte do destino, resulta da necessidade, de uma causalidade natural. Tudo está de acordo com a natureza.
A forma como a luz se reúne em Touro confirma a superioridade do poder da natureza sobre a realidade humana. Gaia impõe a sua vontade. A vingança de Gaia é hoje tão real como a soberba humana. A natureza está recriar as suas estruturas, mesmo que isso produza destruição. Em Touro, existe um caminho de luz do Sol a Júpiter, passando por Úrano, Mercúrio e a Caput Draconis e avançado até ao Poente, a seguir ao qual se encontra a Lua, em Carneiro e já sob o horizonte. Esta é uma posição onde a Lua se encontra enfraquecida e subjugado ao poder masculino e que conduz, sobretudo se considerarmos a posição de Marte em Caranguejo e consequente quadratura à Lua, àquilo que anteriormente se referiu como o medo do feminino. Este tende a gerar formas de violência contra as mulheres e reservas na adopção espiritual do Sagrado Feminino. No entanto, o facto de Vénus e Marte se encontrarem juntos, em Caranguejo, mostra que o medo não esconde ou anula a atracção. Com Vénus e Marte em Caranguejo, o herói quer obter o amor da Grande Mãe, quer regressar a casa, à origem.
A posição relativa de Júpiter estabelece a qualidade do seu ingresso. Se, por um lado, temos a conjunção em Touro que agrega uma qualidade que confere luz, intelecto, razão, inovação e necessidade à dádiva do bem, por outro lado, a forma como estes raios se unem aos demais vai intensificar a sua qualidade. Primeiro, não existe nenhuma outra relação com o elemento Terra. Com a Água, temos os dois sextis: o primeiro com Vénus e Marte em Caranguejo e o segundo com Saturno e Neptuno. Com o Fogo, também não existe uma ligação, exceptuando a quadratura ao Ponto de Culminação. E com o Ar, temos a quadratura com Plutão em Aquário e com o Ponto Subterrâneo. Estas são ligações que se estabelecem com Júpiter e com aqueles que estão co-presentes no signo de Touro e que confirmam astrologicamente tudo aquilo que já se explorou. Existe pois uma união entre o sentido mitológico e a significação astrológica e esta aprofunda uma mensagem que anuncia a aurora de uma Nova Era.
O ingresso de Júpiter em Touro reúne o sentido de dádiva, que é próprio de qualquer benéfico, neste caso, a bênção do bem e da justiça, com a Natureza e com a Grande Mãe. Esta é uma significação que não devemos perder de vista e pode ser conciliada, colocada em harmonia e concórdia, com qualquer outra que se possa apresentar. A beleza do pensamento é a sua pluralidade e astrologia deve ser plural como o universo.
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
Júpiter em Carneiro: De 20 de Dezembro de 2022 a 16 de Maio de 2023 (2º e Último Ingresso)
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Júpiter em Peixes: De 28 de Outubro a 20 de Dezembro de 2022 (3º e Último Ingresso)
quinta-feira, 28 de julho de 2022
Júpiter Retrógrado: De 28 de Julho a 23 de Novembro de 2022
quarta-feira, 11 de maio de 2022
Júpiter em Carneiro: De 11 de Maio a 28 de Outubro de 2022 (1º Ingresso)
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
Júpiter em Peixes: De 29 de Dezembro de 2021 a 11 de Maio de 2022 (2º Ingresso)
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
domingo, 20 de junho de 2021
Júpiter Retrógrado: De 20 de Junho a 18 de Outubro de 2021
quinta-feira, 13 de maio de 2021
Júpiter em Peixes: De 13 de Maio a 28 de Julho de 2021 (1º Ingresso)
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
As Órbitas de Júpiter e Saturno e os Ciclos de Vida
As órbitas de Júpiter e de Saturno, tanto na astrologia tradicional como na astrologia moderna ou contemporânea, são porventura as que melhor definem o ser humano e os seus ciclos de vida, pois numa análise do tempo são aquelas que melhor se relacionam com a extensão da vida. As órbitas de Mercúrio, de Vénus e Marte determinam mais o quotidiano que os ciclos de vida e as órbitas de Úrano, de Neptuno e Plutão apontam para uma análise que ultrapassa os limites de uma vida, sendo portanto mais relevantes para uma astrologia aplicada à história que a uma astrologia individual. Porém, estes planetas contribuem de forma parcelar para ideia de ciclos de vida.
segunda-feira, 10 de abril de 2017
O Número de Casamentos segundo Doroteu de Sidon
Pingree, David (Ed.), Dorothei Sidonii Carmen Astrologicum, p. 50. |
Se se desejar saber com quantas mulheres vai um homem casar, então deve-se marcar do Meio do Céu até Vénus, o número de planetas que estiver entre os dois indica o número de mulheres com quem irá casar, porém, sempre que se encontrar Saturno, deve-se esperar frieza e tensão, e se se encontrar Marte, deve-se esperar a morte, a menos que sobre ele existam aspectos benéficos. Nas natividades das mulheres, se se desejar saber com quantos homens vai casar, então deve-se contar do Meio do Céu até Marte, mas se Marte estiver no Meio do Céu, deve-se contar do Meio do Céu até Júpiter, o número de planetas que estiver entre os dois indica o número de homens com quem vai casar. Se, a partir do Meio do Céu, Vénus estiver cadente, pode-se dizer que existirá pouca constância do homem para com as mulheres, o mesmo se pode afirmar em relação às mulheres se Marte estiver na sétima.
Em suma, a obra de Doroteu de Sidon merece ser lida e pode contribuir para uma fundamentação da linguagem astrológica, que hoje tem uma natureza líquida, dispersa e sem um sistema de sentido que lhe dê forma. A astrologia clássica permite um rigor que na astrologia contemporânea nem sempre existe e a análise ao número de casamentos de Doroteu de Sidon fornece-nos um indicador de estudo que não deve ser desprezado. A sabedoria está em quem procura.