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domingo, 16 de agosto de 2015

Em Defesa da Astrologia


Muito se tem escrito, ao longo dos séculos, sobre a astrologia. Os seus críticos recorrem sempre aos mesmo argumentos. O primeiro de todos é que a astrologia não é uma ciência, uma vez que os seus pressuposto não podem ser comprovados pelo método científico. Actualmente, os astrólogos recorrem a todo o tipo de justificações para que a astrologia sejam considerada ciência, ou, na pior das hipóteses, uma ciência esotérica. Outros, fogem dessa aspiração e consideram a astrologia uma arte. No entanto, a astrologia não é nem uma coisa, nem outra, é acima de tudo uma forma de linguagem. A etimologia aponta para esse caminho astro + logía. Uma das traduções para logos é palavra ou discurso, logo linguagem. 

Walter Benjamin, na sua doutrina das semelhanças, coloca a astrologia na génese da faculdade mimética. O mapa astrológico é considerado uma representação da natureza e do real, uma criação da linguagem, enquanto construção de sentido para o instante analisado. É, desta forma, que a astrologia se transforma em linguagem. O horóscopo capta a totalidade do instante e confere-lhe um sentido, uma razão. Essa acção não poderia ser feita pela astronomia, enquanto ciência, pois esta analisa o nómos dos astros, a regra ou a ordem. 

A astrologia enquanto linguagem revela também uma intima relação com o mythos. A sua posição, em termos de conhecimento, é a mesma que observamos em Platão: quando a razão encontra os seus limites, o mito apresenta-se como sugestão de sentido. Os mitos são uma das bases para a construção das interpretações astrológicas. A natureza profunda do significado das constelações e dos astros baseia-se em mitos. Assim, todo a mitologia referente à Afrodite grega ou à Vénus romana está incluída no sentido do planeta Vénus, bem como cada um dos doze trabalhos de Hércules pode ser atribuído a um dos doze signos do Zodíaco. Esse processo de linguagem é próprio da astrologia. 

Se cada um dos elementos analisados no mapa astrológico é construído através da linguagem, da atribuição de sentido, é na análise completa e integrada desses elementos que encontramos uma visão de totalidade, uma poiesis do real. É por isso que algumas das críticas à astrologia perdem o seu fundamento. Por exemplo, uma das críticas é que a passagem do Sol pelas constelações é fixa, ou seja, quando a astrologia diz que o Sol está em Carneiro, em termos siderais, ele está em Peixes; outra é que Zodíaco é constituído por treze constelações e não por doze, pois entre Escorpião e Sagitário está a constelação de Ofíuco. Ora, se considerarmos a astrologia uma forma de linguagem, essa crítica perde a sua razão de ser. Primeiro, a correspondência real da posição do Sol face às constelações é menos importante para a astrologia do que a estrutura temporal do início e fim da passagem do Sol em cada signo, pois nela encontramos uma atribuição de sentido constante na análise do ano solar; e, segundo, em termos simbólicos, a divisão dos 360 graus do Zodíaco Tropical em doze é mais significativa do que em treze. 

Outro aspecto que é constantemente criticado na astrologia é o facto da elaboração do mapa astrológico se basear no Zodíaco Tropical, o que lhe atribui uma carácter geocêntrico. Ora se partirmos da noção que a astrologia é uma forma de linguagem, então a distinção entre o modelo geocêntrico e heliocêntrico não se coloca. O mapa astrológico é por essência antropocêntrico. até porque quando se elabora o mapa, os critérios primordiais são o de Tempo e de Espaço; data e hora e local. A importância do local faz com que o instante analisado seja num determinando ponto do planeta do Terra, e não na Terra como um todo. É o ser humano que é o centro, que totaliza no Espaço e no Tempo o sentido que se procura. Naturalmente, se o ser humano habitasse outro planeta, o referencial era outro também,

O conceito de Tempo é considerado uma debilidade do sistema conceptual astrológico, porém, deve-se ter em conta que estas críticas vêm da comunidade científica: da física e da astronomia. Ora o conceito de Tempo em astrologia situa-se entre a filosofia, a mitologia e a literatura. O Tempo é tanto a seta que avança como o círculo que a ele mesmo retorna. É essa ambivalência conceptual que permite à astrologia ser um modelo interpretativo original.

Por fim, a grande crítica, que atravessa os séculos, é a que a astrologia restringe a liberdade e fomenta o fatalismo, ou seja, impõe o determinismo e anula o livre-arbítrio. Essa é a crítica que vemos em Cícero ou em Pico della Mirandola. De facto, encontramos períodos da história em que a astrologia foi meramente uma mântica. Porém, como qualquer outra área do saber, a astrologia evoluiu e é hoje um sistema conceptual completo, próximo de áreas como a filosofia prática, a psicanálise ou a psicologia analítica. Em qualquer uma dessas áreas encontramos ideias, conceitos e arquétipos que servem para identificar caminhos e possibilidades, e não para limitar a liberdade humana. O livre-arbítrio pode conviver plenamente com a astrologia, pois, mesmo no conceito de destino, encontramos liberdade. Os acontecimentos e as suas interpretações apontam mais para uma didáctica do que para um determinismo. Desta forma, o astrólogo pode, numa consulta, proporcionar ao consultante uma interpretação dos estados psicológicos, por um lado, e, por outro, proceder a uma análise do tempo, do kairos, do momento oportuno, sem que isso interfira com a liberdade individual.

Em suma, se considerarmos a astrologia como linguagem, podemos incluí-la como um vector de saber adequado ao conhecimento do humano na sua totalidade. A astrologia como linguagem pode pôr fim a séculos de preconceitos e juízos erróneos.