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terça-feira, 8 de março de 2022

Lançamento: A Casa da Torre Velha

 

Romance

A Casa da Torre Velha



"A Casa da Torre Velha era o lugar do feminino e Arabela era a última de uma linhagem de mulheres." Esta é a frase inaugural e o mote de todo o romance.

A Casa da Torre Velha é a sede de um reino imaginário, o Vale da Torre, localizado no centro de Portugal e governado por uma mulher, a Senhora da Torre. Este reino cuja estória se cruza com a história da humanidade recria a presença da mulher e do feminino, tanto no universo temporal como na dimensão espiritual.

Os acontecimentos iniciam-se na primeira metade do século XIX. Magdalena, a Senhora da Torre e a avó de Arabela, ciosa do despotismo de Narciso, escondeu a sua fortuna e decidiu a sua sucessão. Para Narciso e Jacinta, os pais de Arabela, a família estava à beira da falência, mas para Magdalena era apenas o governo da Necessidade.

Neste romance-ensaio ou romance filosófico, a Casa da Torre Velha apresenta-se como o lugar do Sagrado Feminino, um espaço consagrado de regeneração espiritual e de esperança para a humanidade.


Edição: Março de 2022

Páginas: 574

ISBN: 978404333398


Clique na Imagem para Comprar

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Lançamento do romance "A Casa da Torre Velha"


Lançamento do romance A Casa da Torre Velha


O romance A Casa da Torre Velha será lançado no dia 8 de Março 
(Dia Internacional da Mulher).


O ebook está em pré-venda exclusiva na Kindle Store do Amazon.


Sinopse da Obra

A Casa da Torre Velha era o lugar do feminino e Arabela era a última de uma linhagem de mulheres. Esta é a frase inaugural e o mote de todo o romance.

A Casa da Torre Velha é a sede de um reino imaginário, o Vale da Torre, localizado no centro de Portugal e governado por uma mulher, a Senhora da Torre. Este reino cuja estória se cruza com a história da humanidade recria a presença da mulher e do feminino, tanto no universo temporal como na dimensão espiritual.

Os acontecimentos iniciam-se na primeira metade do século XIX. Magdalena, a Senhora da Torre e a avó de Arabela, ciosa do despotismo de Narciso, escondeu a sua fortuna e decidiu a sua sucessão. Para Narciso e Jacinta, os pais de Arabela, a família estava à beira da falência, mas para Magdalena era apenas o governo da Necessidade.

Neste romance-ensaio ou romance filosófico, A Casa da Torre Velha apresenta-se como o lugar do Sagrado Feminino, um espaço consagrado de regeneração espiritual e de esperança para a humanidade.


Saiba mais em https://rodolfomfigueiredo.wixsite.com/astrologia-e-tarot/livros

segunda-feira, 8 de março de 2021

8 de Março: o Assassinato de Hipátia (Dia Internacional da Mulher)

Pormenor da Escola de Atenas de Rafael


Hipátia de Alexandria



"Hipátia de Alexandria tornou-se mártir de uma era que se eclipsava. A filha de Téon, editor dos Elementos de Euclides e comentador do Almagesto de Ptolomeu, era de tal forma reverenciada pela sua sabedoria que era conhecida como a Filósofa. Hipátia terá nascido entre o ano 360 e 370 da nossa era. Estudou com Plutarco de Atenas, fundador de uma academia platónica e, com pouco mais de vinte anos, já leccionava, em Alexandria, na Academia do Museum. As suas áreas dilectas do saber eram a Filosofia, sobretudo os sistemas de Platão e Plotino, e a Astronomia e a Matemática, focando o seu olhar, em especial, no Cânone Astronómico de Ptolomeu, nas Cónicas de Apolónio de Pérgamo e na Aritmética de Diofanto. A correspondência do Bispo Sinésio de Cirene, discípulo de Hipátia, revela a admiração que tinha pela sua mestra. Sinésio envia-lhe sete cartas, numa delas, expressou o seu afecto chamando-lhe mãe, irmã e mestra e diz, mais do que uma vez, que deseja que ela estivesse bem, o que é relevante porque a carta é de 413, quando a situação já era tensa. Hipátia será brutalmente assassinada no dia 8 de Março de 415."

"Os principais testemunhos sobre a sua morte são a História Eclesiástica de Sócrates Escolástico, ou Sócrates de Constantinopla, e a Vida de Isidoro de Damáscio. Segundo Sócrates, Hipátia tinha audiências frequentes com Orestes, um antigo discípulo seu que se tornara perfeito de Alexandria e do Egipto, e, face ao litígio entre este e Cirilo, Patriarca de Alexandria, tornou-se o alvo de todas as críticas. Os cristãos afectos a Cirilo viam nela um problema. Sócrates diz que alguns, mais destemidos e com excesso de zelo e chefiados por um homem chamado Pedro, esperaram que ela voltasse a casa, puxaram-na para fora da sua carruagem e levaram-na para uma igreja chamada Caesareum. Na igreja, despiram-na e assassinaram-na com pedaços de cerâmica. Desmembraram-na, esfolaram-na e, de seguida, levaram os restos mortais para um lugar denominado Cínaron e queimaram-nos. Para o Escolástico, este acto não trouxe nenhuma desonra, opprobium, à pessoa de Cirilo, nem à comunidade cristã de Alexandria, pois os massacres estão muito distantes do espírito do cristianismo. O sucessor historiográfico de Eusébio de Cesareia sentiu necessidade de ilibar Cirilo. Damáscio, o último dos neoplatónicos, que foi perseguido pelo Imperador Justiniano, também escreveu sobre Hipátia e, embora tenha nascido alguns anos após a morte da Filósofa, o seu testemunho é tão válido como Sócrates Escolástico, pois este, apesar de contemporâneo de Hipátia, não estava em Alexandria à data dos acontecimentos. Damáscio diz que Cirilo era um bispo da facção contrária, depreende-se portanto contrária à de Hipátia. Ora esta afirmação pode levar-nos a admitir que Hipátia ou se teria tornado cristã, mas não seguidora do credo de Niceia, ou teria simpatia por outra facção, leia-se, muito provavelmente, uma próxima da visão de Orígenes ou de Nestório. Segundo Damáscio, Cirilo estaria a passar junto da casa de Hipátia, onde viu homens a entrar e a sair, cavalos a chegar ao local e a deixá-lo, um grande tumulto de gente. Cirilo perguntou o que se passava e recebeu como resposta que tinham vindo todos ouvir as palavras de Hipátia. Cirilo ficou com a sua alma amarga, devido à inveja que sentiu, e decidiu engendrar um plano para matar a Filósofa. Desta forma, um grupo de homens raivosos, desprezíveis em todos os sentidos, sem temerem o olhar dos deuses, nem a vingança dos homens, assassinaram a sábia. Damáscio acrescentou ainda que o imperador procurou justiça, mas foi apaziguado por um suborno de um amigo. "


Excertos de um livro inédito da minha autoria.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Acerca dos Signos Masculinos e Femininos segundo Ptolomeu (Excerto)

Ptolomeu
(c.90 E.C. - c.168 E.C.)


Tetrabiblos, I, 12.

Acerca dos Signos Masculinos e Femininos


  Uma vez mais e de igual forma, elegeram seis dos doze signos como sendo de uma natureza masculina e diurna e, em igual número, como de uma feminina e nocturna. Uma outra regra foi-lhes atribuída, pois o dia desperta sempre da noite e próxima dela, tal como a fêmea do macho. Assim, por as razões já mencionadas, Carneiro é considerado o ponto de origem e, como o macho também governa e detém o primado, uma vez que, em força, o activo é sempre superior ao passivo, os signos de Carneiro e Balança são designados como masculinos e diurnos. Simultaneamente, uma outra razão detém-se no facto de que o círculo equinocial, delineado através deles, completa o primeiro e mais poderoso movimento de todo o universo. Os signos que a eles se sucedem, tal como já afirmámos, correspondem a uma outra disposição.

  No entanto, outros refutam esta regra dos signos masculinos e femininos, defendendo que o masculino começa no signo ascendente, designado por Horóscopo. Do mesmo modo que, para alguns, os signos solsticiais iniciam-se no signo lunar, uma vez que a Lua muda de direcção de uma forma mais rápida que os restantes. Desta forma, inauguram os signos masculinos com o Ascendente (Horóscopo), pois é aquele que está  mais a Leste, ora alguns, como já referido, recorrem a uma regra alternada de signos e outros dividiram-nos pelos quadrantes, designando como matutinos e masculinos os signos do quadrante que vai do Ascendente (Horóscopo) ao  Meio do Céu e aqueles do quadrante oposto, do Descendente ao Fundo do Céu (Fundo da Terra ou Baixo Meio do Céu), e os dos outros dois quadrantes como vespertinos e femininos. 

  Acrescentaram também outras descrições aos signos, resultantes da sua representação. Refiro-me, por exemplo, a "de quatro patas", "terrestres", "dominantes" e ""férteis", bem como de outras ordens similares. Estas, dado que a sua razão e significado derivam directamente de  si, consideramos supérfluas de elencar, visto que a qualidade das configurações pode ser expressa nas previsões, se se revelar relevante e útil.

Tradução do Grego RMdF


Edições Utilizadas:
  • Hübner, Wolfgang, Claudii Ptolemaei opera quae exstant omnia, Vol. 3, 1, Apotelesmatika. Estugarda e Leipzig: B. G. Teubner, 1998, pp. 48-51.
  • Robbins, Frank Eggleston, Ptolemy - Tetrabiblos. Cambridge (Mass.) e Londres: Harvard University Press e William Heinemann Ltd., 1964, pp. 68-71.


Comentário

  A leitura atenta do Tetrabiblos pode muito bem representar o marco entre um astrólogo sério, que prefere o estudo às opiniões vãs, e o astrólogo que se sustenta na fama dos seus mestres e no conhecimento opinativo, desprovido de rigor e sem um sistema de sentido coerente e aprofundado. Desde que foi escrito, entre os anos 145 e 168 da Era Comum, foi a obra astrológica mais citada e que serviu de base para todos os desenvolvimentos futuros. Até meados do Século XVII, o conhecimento  astrológico, expresso por Ptolomeu, ainda era ensinado nas universidades. 

  No início do Tetrabiblos, o sábio grego descreve o seu propósito inaugural, estabelecer um sistema de "astronomías prognôsticón", ou seja, tecer prognósticos ou previsões a partir do conhecimento astronómico. A astrologia é um processo de transferência de sentido entre os efeitos do universo na humanidade e no seu mundo e a sua interpretação, daí que a astrologia seja uma forma de linguagem. Esta definição de astrologia pode ser aplicada ao tempo de Ptolomeu se tivermos em consideração que a astronomia/astrologia era uma ciência que pertencia ao domínio da filosofia natural, logo antes de ser ciência era uma linguagem filosófica. Por outro lado, a astrologia, como forma de analisar o humano enquanto categoria filosófica, é uma síntese da psicologia clássica, daí que se diga que existe uma simbiose entre o Almagesto e o Tetrabiblos. Se um procura o fenómeno, o outro detém-se no valor do fenómeno e no modo como se relaciona com o humano.

  A questão textual é também de suma importância, pois, apesar de não termos um manuscrito do Tetrabiblos da época em que foi escrito, as citações e versões posteriores vêem corroborar o seu valor e a sua importância. Heféstion de Tebas, cerca de duzentos anos após a morte de Ptolomeu, cita-o com frequência e faz da sua obra, juntamente com a de Doroteu de Sidon, as suas principais referências. Aliás a sua obra, Apotelesmatika, e as suas citações do Tetrabiblos servem ainda hoje para validar e verificar traduções e versões posteriores. A primeira das quais, pelo menos a primeira que merece nota, é a de Hunayn ibn Ishaq, datada do século IX. O Califa Abássida al-Ma'mūn colocou Hunayn ibn Ishaq como responsável da Casa da Sabedoria, Bayt al Hiknak, um centro cultural em Bagdad, que é hoje representativo da Era de Ouro Islâmica e onde os textos gregos eram traduzidos para sírio e árabe. Foi, sobretudo, este esforço de preservação da sabedoria clássica que permitiu que hoje tenhamos acesso aos textos, bem como possibilitou o neoclassicismo do Renascimento. 

  A Paráfrase de um Pseudo-Proclo, escrita no século V e da qual existe um manuscrito do século X, é o mais antigo elemento textual completo que dispomos e, embora seja uma apresentação simplificada do texto original, foi predominante onde as versões do árabe tiveram menor presença. Por outro lado, a presença árabe na Península Ibérica permitiu a tradução para latim da obra de Ptolomeu. A primeira tradução que se conhece que foi elaborada por Plato de Tivoli e Gerardo de Cremona, em Barcelona, no ano de 1138. Em 1206, foi feita uma nova tradução a partir de fontes árabes, mas de autor anónimo. Do grego para o latim, é de salientar a tradução de Hermann da Dalmácia e, no século XIII, também tem de se referir a de Aegidius de Thebaldis. A maioria das edições que circulavam, tanto no mundo árabe como na cristandade, incluíam o comentário do século XI de Ali ibn Ridwan. Foi este imperioso esforço de tradução e a vontade de conhecimento que levou a que, no século XVI, o Tetrabiblos fosse levado à estampa, por Camerarius no ano de 1535, em Nuremberga, e no de 1553, em Basileia, e por Junctinus no ano de 1581, em Leiden.

  Em vernáculo, a primeira tradução que se conhece é francesa e foi realizado sob o patrocínio de Carlos V. Desta tradução, existe um manuscrito que data de 1363. Apesar de não se conhecer, na Península Ibérica, uma tradução para castelhano ou português, o trabalho da Escola de Toledo produziu, a mando de Afonso X, uma súmula, Libros del Saber de Astronomia, com os contributos de astrónomos/astrólogos árabes, judeus e cristãos que relavam o conhecimento e influência do Tetrabiblos. É também de frisar que esta obra foi oferecida por Afonso X ao seu neto, o rei D. Dinis de Portugal. O Tetrabiblos cedo se tornou a bíblia da astrologia e a sua importância só foi mitigada no século XIX, em pleno domínio positivista, quando a sua autoria foi posta em causa, pois o racionalismo totalitário não permitia que uma obra de astrologia fosse da autoria de Ptolomeu, um cientista. Foi esse mesmo obscurantismo que fez com que astrologia fosse purgada da vida e obra de homens como, por exemplo, Kepler ou Newton.

  Outro aspecto textual de relevo é o título. A obra comummente conhecida como Tetrabiblos ou, pela versão latina, Quadripartitum, aponta para o número de livros que o compõem, quatro. Porém, na introdução, Robbins indica o que seria o seu título completo, isto porque ele não é indicado pelo autor. Segundo Robbins, o título mais adequado seria: Mathematikê Tetrábiblos Sýntaxis, ou seja, Tratado de Matemática em Quatro Livros. Este título revela a proximidade conceptual entre a astrologia e a matemática, que, na esteira de Platão, é condição para a aprendizagem da filosofia. No entanto, Hübner, a partir da primeira frase do tratado, "tó pròs Sýron apotelesmatiká", propõe o título Apotelesmatika, que aliás é comum a várias obras de astrologia, designando um tratado acerca do efeito das estrelas no destino humano.

  O capítulo aqui traduzido revela uma escolha, um modo de representar a forma como a astrologia interpreta a realidade. O masculino e o feminino indicam, nesta passagem, o processo de tradução da polaridade natural para uma estrutura de sentido. Os opostos podem apresentar-se tanto como elementos metafísicos, como princípios naturais, daí que a análise dos signos masculinos e femininos não se limite à presunção biológica de macho ou fêmea. A astrologia divide os signos tal como a realidade separa as naturezas contrárias, almejando encontrar a sua harmonia. Porém, a vinculação de um signo a um género não é nem simples, nem redutora, uma vez que são as especificidades de um signo que definem a sua natureza masculina ou feminina. Por exemplo, o eixo equinocial (hisêmerinós), expresso pelos signos de Carneiro e Balança, assume uma natureza masculina, todavia a expressão masculina de Carneiro e Balança é distinta. Marte, um planeta masculino, em Carneiro, está no seu domicílio diurno, mas, em Balança, está em exílio, logo a sua expressão masculina é débil, pois é regido por Vénus, um planeta feminino. O mesmo pode ser aplicado ao eixo solsticial (tropikós), uma vez que Marte esta em exaltação em Capricórnio e em queda em Caranguejo, ambos signos femininos. Desta forma, podemos dizer que a natureza dominante, leia-se, segundo o texto, masculina, é mais forte em Capricórnio, embora feminino, que em Balança. Daqui se depreende que as categorias masculino e feminino não se reduzem a uma mera atribuição linear.

(...)
Fim do Excerto
  

sábado, 4 de março de 2017

A Sacerdotisa: O Tarot é a Sabedoria do Feminino

A Sacerdotisa
Tarot Rider-Waite

O Tarot é o livro da Sacerdotisa, aquele que anuncia o feminino que é a salvação e a vida, a sabedoria e a verdade.

O Tarot é um livro que não fala, nem descreve, mas sugere, indica símbolos e sinais. É um livro de imagens, ofertado pela Mãe Eterna.

O Tarot é um livro de síntese que coloca a totalidade numa imagem.

A Sacerdotisa é o centro do mistério, aquele que rege a vida e a morte, o céu e a terra.

A Sacerdotisa é o símbolo da deusa eclipsada e o valor da origem perdida.

A Sacerdotisa é Ísis, é Maria, a Magdalena, é o Sagrado Feminino.

E o Tarot é a unidade-dualidade resumida na Sacerdotisa.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Tarot como Liber Mundi: Uma Introdução

   A primeira ideia que a maioria das pessoas têm sobre o Tarot é que se trata de um baralho de cartas para adivinhar o futuro. Ora a arte adivinhatória é uma ínfima parte do que é o Tarot. O Tarot é acima de tudo um livro, um livro de imagens e estas imagens são uma sugestão de  símbolos e sentidos. A leitura do Tarot não se limita a uma análise sequencial, não se começa numa primeira carta e se termina numa última, à semelhança das páginas de um livro. As cartas lêem-se como uma teia, onde cada uma se relaciona com todas. Por outro lado, o significado de uma carta não se restringe à imagem apresentada, é o sentido que se esconde que lhe confere o seu significado. Porém, é quando designamos o Tarot de Liber Mundi que revelamos a sua verdadeira natureza, ou seja, como Livro do Mundo o Tarot é um reflexo da realidade, uma síntese imagética de arquétipos criadores.

  O Tarot une o simbolismo da letra, da palavra, com o do número, apontando para um caminho que explicita simbolicamente a relação profunda entre espaço e tempo. As 78 cartas do Tarot  dividem também o universal e o particular. Os 22 Arcanos Maiores indicam as ideias universais, os grandes arquétipos, enquanto os 56 Arcanos Maiores sintetizam expressões e tipologias humanas. Estes dividem-se em 40 cartas numeradas e 16 cartas de figuras que, por sua vez, se dividem em quatro, constituindo assim os quatro elementos essenciais: terra, água, ar e fogo. 

Tarot Carlos VI
A Mansão de Deus
  A origem do Tarot tem sido também matéria de discussão. Uns apontam para um criação antiga que colocaria a sua génese em Thot, deus egípcio do conhecimento e da escrita, assim o Tarot representaria o livro do deus, uma imagem em palavra da sabedoria divina. Outros defendem que sua origem estaria relacionada com heresia medieval dos cátaros, uma vez que dois dos baralhos mais antigos apareceram em regiões com forte presença desse movimento, sul de França e norte de Itália. Embora a sua datação seja polémica, podemos situar os baralhos de Carlos VI, ou Gringonneur, e Visconti-Sforza entre os séculos XIV e XV, aliás bem como o Tarot de Marselha. Por fim, a origem também já foi atribuída aos Romani que, segundo a lenda, descendem directamente dos egípcios antigos e que, como estes, teriam uma ligação ancestral ao Tarot. Qualquer que seja a origem do Tarot, uma coisa podemos afirmar: uma análise atenta das cartas demonstra a predominância do feminino, como sentido alternativo da realidade. As imagens e os arquétipos femininos são um denominador comum no Livro Mundo, daí que alguns o tenham associado ao culto da Madalena, o qual estaria intimamente ligado aos cátaros. A carta aqui representada, a Mansão de Deus, seria uma referência à queda de Montségur.  

Tarot Visconti-Sforza
A Papisa
  O feminino é o centro do Tarot, tanto que é uma mulher que está no meio dos Arcanos Maiores. No Tarot de Marselha, é a Força que está no centro e esta carta é esotericamente designada de a vitória do espírito sobre a matéria, é a mulher que vence o leão. Na reinterpretação do Rider-Waite, o centro é entregue à Justiça, que indica o equilíbrio ou necessidade do mesmo. A associação do Tarot ao culto da Madalena apresenta, em especial, a Senhora em quatro cartas: a Sacerdotisa, a Imperatriz, a Estrela e o Mundo. Ora estas cartas sintetizam a mensagem do Tarot, pois, por um lado, nas cartas da Sacerdotisa e da Estrela revela-se a união da Sabedoria à Fé, a Pistis-Sophia, e, por outro, a Imperatriz e o Mundo indicam o regresso do Feminino ao mundo, a harmonia perdida do masculino e do feminino.

Tarot de Marselha
A Estrela
  A relação entre as cartas e o número é íntima e simbólica. Nos Arcanos Maiores, o número participa da identidade da própria carta, bem como do conjunto. O Louco, o Arcano 0, não se inclui directamente nos outros 21 Arcanos, embora nalguns casos lhe seja atribuído o número 22 ou a posição entre o Julgamento e o Mundo. O Louco é o zero, porque não é o caminho, é o caminhante. O zero é o peregrino que está no início e no fim. Desta forma, ficam os 21 Arcanos Maiores. Ora o número 21 é um número feminino, pois 21 mais 7 indica o ciclo lunar da mulher e, sendo estes 7 o mistério do sangue, a Lua que se esconde, fica o 21, o Feminino visível como Lua, crescente, cheia e minguante. Se o Louco é o caminhante, os 21 Arcanos Maiores são o caminho, e os Arcanos Menores são os participantes e as expressões exteriores desse mesmo caminho. Os 21 Arcanos podem-se dividir em três secções de sete, em três etapas do caminho. A primeira etapa vai do Mago ou ao Carro, a segunda da Justiça ou Força, conforme o baralho, à Temperança, e a terceira do Diabo ao Mundo, chegando o Louco ao fim o caminho começa de novo. Para além do valor e significado específico do número de carta, a sua composição tem também um sentido profundo, ou seja, por exemplo, a Morte tem o número 13 e 13 é 1+3 e 1+3 é 4, ora 4 é o Imperador, que é 1+3, o Mago e a Imperatriz. Em termos de sentido, podemos resumir da seguinte forma: a Transformação  (a Morte) e a Ordem (o Imperador) relacionam-se entre si, pois ambas resultam da mesma origem, que é a Vontade (o Mago) e o Amor (a Imperatriz). Este esquema interpretativo pode-se aplicar a todas as cartas e a todos conjuntos das mesmas.

Árvore da Vida
   O Tarot, como Liber Mundi, tem uma estreita relação com a letra, com a palavra. A cada Arcano Maior corresponde uma letra do alfabeto hebraico, uma vez que este tem vinte e duas letras. Aqui existem duas teses quanto ao início do alfabeto: uns atribuem a letra Aleph ao Louco, outros ao Mago. À semelhança de Aleister Crowley, optei por seguir atribuição de Aleph ao Louco, porém, não sigo a associação de Tsady ao Imperador e He à Estrela, pois mantenho a sequência das letras. A ligação entre o Tarot e o alfabeto hebraico revelam uma harmonia entre as cartas e a Árvore da Vida cabalística. Se a cada Arcano Maior corresponde uma letra, logo um caminho na árvore, a cada Arcano Menor corresponde uma Sephiroth, por exemplo: todos os quatro Ases são regidos por Kether, a Coroa, e todos os Dez por Malkuth, o Reino. Esta simbiose entre o Tarot e a Cabala sustenta a tese inicial de que o Tarot é um livro de sabedoria e não um mero método de adivinhação.

Tarot Rider-Waite
Ás de Copas
  A associação do Tarot à Astrologia é a sua terceira ligação esotérica. A cada Arcano maior corresponde um signo ou um planeta/luminar. O Louco é regido por Úrano, senhor da liberdade e da aprendizagem pelo colectivo, ou seja, a liberdade do peregrino implica a aceitação dos outros, do grupo que o rodeia. O Mundo é governado por Saturno, senhor do tempo e da sua relação com o espaço, isto é o peregrino quando termina a sua viagem compreende que o tempo é círculo que a si mesmo retorna e que terá de reiniciar o seu caminho. Os Arcanos Menores, que apontam para o concreto e para o pessoal, estabelecem uma correspondência mais específica. O Ás de Ouros é regido pelo elemento Terra e pelo conjunto dos três dignos deste elemento: Touro, Virgem e Capricórnio. O Dez de Copas é associado ao elemento Água, ao terceiro decanato de Peixes e a Marte em Peixes. A Rainha de Paus é denominada de Fogo de Água e é regida pelo signo de Carneiro. A natureza astrológica de cada carta é também susceptível de se relacionar, por exemplo: a Estrela, regida por Aquário, junto do Quatro de Copas, associado ao terceiro decanato de Caranguejo e à Lua em Caranguejo, pode indicar uma perda de fé, uma dúvida acerca do divino ou uma indecisão que só será superada pela confiança em si. O Tarot e a Astrologia unem-se numa harmonia de sentido. 

   O Tarot como Liber Mundi permite que se aceda à sua verdadeira natureza, a de um livro sagrado dedicado à deusa Sophia. A sabedoria é a patrona do Tarot, o que é perceptível se observamos o Arcano II: a Sacerdotisa guarda o livro que é um enigma por revelar. O Tarot guarda os segredos do Todo e fecha na sua teia de símbolos e sentidos os mistérios humanos e divinos, porém, tal como o Louco é caminhante, também o leitor é mestre de si mesmo. Procura e encontrarás.


Nota: Todas as imagens apresentadas estão em domínio público.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Portugal 2014: A Hora de Ser uma Mátria

"Mátria dos homens que levam no perfil
atravessada uma mulher de flores ao vento
como um olho dando para os intemporais
flancos que o Amor vai iluminando."

Natália Correia, "XIII - Fotões da cólera que a amorosa retina", vv. 5-8, Mátria (1968), Poesia Completa, p.299. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3ª Edição, 2007.


"Que mátria implica «uma ligação sentimental à terra», de acordo. Mas não só isso. Representa, em sentido mais lato, um elo afectivo com a natureza do homem. Uma relação estabelecida pelo afecto e não pela persona social, vinculada ao princípio patrista e pátrio."

Natália Correia, "Pátria ou Mátria?", A Estrela de Cada Um, p.107. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 2004.


"Consumada que é a Pátria, falta dizer Mátria para que no tempo os amantes escrevam o nome da realidade unificante: Frátria."

Natália Correia, Espólio (D9), Biblioteca Nacional de Lisboa, citado em José Eduardo Franco e José Augusto Mourão, A Influência de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa - Escritos de Natália Correia sobre a Utopia da Idade Feminina do Espírito Santo, p.229. Lisboa: Roma Editora, 2005.

Lima de Freitas, O Milagre das Rosas, Acrílico sobre Madeira, 1987.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Feminino é anterior ao Masculino


Vénus de Willendorf (ou Mulher de Willendorf), c. 24.000 a 22.000 a.C. 
Viena: Naturhistorisches Museum.

"A mãe é anterior ao filho. A feminilidade está situada na cúspide; só depois dela, em segunda linha, surge a formação masculina da energia. A mulher é, o homem será. Donde o princípio é a terra, a substância maternal básica. Do seu colo maternal surge então a criação visível e só nesta se mostra uma geração separada em dois; só nesta a formação masculina vem à luz do dia. Portanto, mulher e homem não aparecem ao mesmo tempo; não são da mesma ordem. A mulher é o dado, sendo o homem, saído da mulher, o que veio-a-ser."

J. J. Bachofen, Urreligion und antike Symbole (Reclam Ausg., III Vols.), p. 357-8, citado em Erich Neumann, História da Origem da Consciência, p. 52. Tradução Margit Martincic. São Paulo: Editora Cultrix, 1990.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Espera de Deus que é Mãe também


"Sob vários nomes também, todos equivalentes a Ísis, conheceram os gregos um ser feminino, maternal, virgem, sempre intacto, não idêntico a Deus e no entanto divino, uma Mãe dos homens e das coisas, uma Mãe do Mediador. Platão fala dela claramente, mas como que em voz baixa, com ternura e assombro, no Timeu."

Simone Weil, Espera de Deus, p. 231. Tradução Manuel Maria Barreiros. Lisboa: Assírio & Alvim, 2ª Edição, 2009.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Galadriel - A Senhora Branca de Lothlórien



Banda Sonora do Senhor dos Anéis, Galadriel - White Lady of Lothlórien (Nigthwish, Sleeping Sun).

O caso de Galadriel, tanto nos livros, como nos filmes, representa a tentação do poder e os perigos de consciência superior. Esta personagem feminina apresenta-se como uma figuração do Feminino, da Grande Deusa que, pela proximidade do poder do Mal, sente-se tentada, no entanto, resiste e mantém a sua condição. Este é o desafio de qualquer alma numa senda espiritual.