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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Saturno: Entre a Consciência do Tempo e o Conhecimento do Bem e do Mal


   The higher morality of Saturn's influence over mankind begins with the KNOWLEDGE of good and evil, and this knowledge may be termed conscience, or the result of past experiences. The true morality of the influence of Mars arises out of devotion and purified love, but it is always personal devotion, or love to another personality, rarely if ever abstract. Saturn's peculiar morality on the other hand is not the result of personal love to an embodied ideal so much as love of duty, and there for a morality based on justice, responsibility, and what is eventually to become the germ of truth. The idea that the morality arising out of Saturn's influence leads a man to a realisation of the truth inclinesus to think that Saturn may signify truth, and there fore as a virtue truth is probably the bridge between the lower and the higher mind. "The truth will set man free," is an occult saying; there is nothing that binds us more than the illusion that we are separate, and the truth that shall set man free is the knowledge of good an devil— or the truth that there is only ONE reality in, and through, and behind, all worlds.

Leo, Alan, Saturn - The Reaper, p.13. Londres: Modern Astrology Office, 1916.


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Notas Astrológicas: Saturno

   A consciência do tempo é a experiência de Saturno. Ora o tempo é um construtor da realidade e a realidade só existe se existirem opostos e se a harmonia entre eles tiver potencial de criação. No Uno, não existe tempo. Um instante é a totalidade, todavia, no que é próprio do humano, a consciência do tempo é apreensão do limite, daí que o conhecimento da vida seja também o conhecimento da morte, do tempo como fim e como finalidade. O conhecimento do bem e do mal é também uma consciência do tempo, pois só existem elementos opostos no plano do tempo, que também é o do espaço. Como o mal não possui uma natureza radical, que o é próprio do bem e da totalidade que existe no Uno, a experiência do tempo e da dualidade entre bem e mal são, por excelência, o elemento transformador da condição humana. Ora a verdade, como factor de liberdade e libertação, permite essa transformação, porém ela não se apresenta como dádiva, mas sim como um enigma e este tem, num primeiro momento, um carácter de desafio, de conflito interior, daí que a experiência de Saturno possa ser entendida como um processo difícil de construção do humano. O mundo, nesta experiência, apresenta-se sob a forma de conflito. A relação é entre o indivíduo e o mundo é tensa porque é um processo de educação e esta exige responsabilidade e esforço. A consciência do tempo é um mestre no caminho e Saturno é um enigma que nos obriga a parar e a pensar.

RMdF

domingo, 16 de agosto de 2015

Em Defesa da Astrologia


Muito se tem escrito, ao longo dos séculos, sobre a astrologia. Os seus críticos recorrem sempre aos mesmo argumentos. O primeiro de todos é que a astrologia não é uma ciência, uma vez que os seus pressuposto não podem ser comprovados pelo método científico. Actualmente, os astrólogos recorrem a todo o tipo de justificações para que a astrologia sejam considerada ciência, ou, na pior das hipóteses, uma ciência esotérica. Outros, fogem dessa aspiração e consideram a astrologia uma arte. No entanto, a astrologia não é nem uma coisa, nem outra, é acima de tudo uma forma de linguagem. A etimologia aponta para esse caminho astro + logía. Uma das traduções para logos é palavra ou discurso, logo linguagem. 

Walter Benjamin, na sua doutrina das semelhanças, coloca a astrologia na génese da faculdade mimética. O mapa astrológico é considerado uma representação da natureza e do real, uma criação da linguagem, enquanto construção de sentido para o instante analisado. É, desta forma, que a astrologia se transforma em linguagem. O horóscopo capta a totalidade do instante e confere-lhe um sentido, uma razão. Essa acção não poderia ser feita pela astronomia, enquanto ciência, pois esta analisa o nómos dos astros, a regra ou a ordem. 

A astrologia enquanto linguagem revela também uma intima relação com o mythos. A sua posição, em termos de conhecimento, é a mesma que observamos em Platão: quando a razão encontra os seus limites, o mito apresenta-se como sugestão de sentido. Os mitos são uma das bases para a construção das interpretações astrológicas. A natureza profunda do significado das constelações e dos astros baseia-se em mitos. Assim, todo a mitologia referente à Afrodite grega ou à Vénus romana está incluída no sentido do planeta Vénus, bem como cada um dos doze trabalhos de Hércules pode ser atribuído a um dos doze signos do Zodíaco. Esse processo de linguagem é próprio da astrologia. 

Se cada um dos elementos analisados no mapa astrológico é construído através da linguagem, da atribuição de sentido, é na análise completa e integrada desses elementos que encontramos uma visão de totalidade, uma poiesis do real. É por isso que algumas das críticas à astrologia perdem o seu fundamento. Por exemplo, uma das críticas é que a passagem do Sol pelas constelações é fixa, ou seja, quando a astrologia diz que o Sol está em Carneiro, em termos siderais, ele está em Peixes; outra é que Zodíaco é constituído por treze constelações e não por doze, pois entre Escorpião e Sagitário está a constelação de Ofíuco. Ora, se considerarmos a astrologia uma forma de linguagem, essa crítica perde a sua razão de ser. Primeiro, a correspondência real da posição do Sol face às constelações é menos importante para a astrologia do que a estrutura temporal do início e fim da passagem do Sol em cada signo, pois nela encontramos uma atribuição de sentido constante na análise do ano solar; e, segundo, em termos simbólicos, a divisão dos 360 graus do Zodíaco Tropical em doze é mais significativa do que em treze. 

Outro aspecto que é constantemente criticado na astrologia é o facto da elaboração do mapa astrológico se basear no Zodíaco Tropical, o que lhe atribui uma carácter geocêntrico. Ora se partirmos da noção que a astrologia é uma forma de linguagem, então a distinção entre o modelo geocêntrico e heliocêntrico não se coloca. O mapa astrológico é por essência antropocêntrico. até porque quando se elabora o mapa, os critérios primordiais são o de Tempo e de Espaço; data e hora e local. A importância do local faz com que o instante analisado seja num determinando ponto do planeta do Terra, e não na Terra como um todo. É o ser humano que é o centro, que totaliza no Espaço e no Tempo o sentido que se procura. Naturalmente, se o ser humano habitasse outro planeta, o referencial era outro também,

O conceito de Tempo é considerado uma debilidade do sistema conceptual astrológico, porém, deve-se ter em conta que estas críticas vêm da comunidade científica: da física e da astronomia. Ora o conceito de Tempo em astrologia situa-se entre a filosofia, a mitologia e a literatura. O Tempo é tanto a seta que avança como o círculo que a ele mesmo retorna. É essa ambivalência conceptual que permite à astrologia ser um modelo interpretativo original.

Por fim, a grande crítica, que atravessa os séculos, é a que a astrologia restringe a liberdade e fomenta o fatalismo, ou seja, impõe o determinismo e anula o livre-arbítrio. Essa é a crítica que vemos em Cícero ou em Pico della Mirandola. De facto, encontramos períodos da história em que a astrologia foi meramente uma mântica. Porém, como qualquer outra área do saber, a astrologia evoluiu e é hoje um sistema conceptual completo, próximo de áreas como a filosofia prática, a psicanálise ou a psicologia analítica. Em qualquer uma dessas áreas encontramos ideias, conceitos e arquétipos que servem para identificar caminhos e possibilidades, e não para limitar a liberdade humana. O livre-arbítrio pode conviver plenamente com a astrologia, pois, mesmo no conceito de destino, encontramos liberdade. Os acontecimentos e as suas interpretações apontam mais para uma didáctica do que para um determinismo. Desta forma, o astrólogo pode, numa consulta, proporcionar ao consultante uma interpretação dos estados psicológicos, por um lado, e, por outro, proceder a uma análise do tempo, do kairos, do momento oportuno, sem que isso interfira com a liberdade individual.

Em suma, se considerarmos a astrologia como linguagem, podemos incluí-la como um vector de saber adequado ao conhecimento do humano na sua totalidade. A astrologia como linguagem pode pôr fim a séculos de preconceitos e juízos erróneos.