quinta-feira, 30 de maio de 2019

Entre a Vida e a Morte (Poesia)

Baldung Grien, Hans, Death and the Maiden, 1518-20.
Basel: Öffentliche Kunstsammlung.


Entre a Vida e a Morte


Se viúva a vida chora
Só à morte dizeis vós
Esta não é a tua hora
Recua já ó cruel algoz


Se leda se nega a vida
Sombria a morte vem
E dizeis A toda a brida
Dai o corcel a alguém


Se em fio vai a gadanha
Escapar é célere gesto
Dizeis vós Se ela ganha
Nada vale o passo lesto


6 de Maio de 2019
RMdF










terça-feira, 28 de maio de 2019

Crepúsculo do Feminino (Poesia)

Botticelli, Sandro, Pallas, c.1490.
Florença: Galleria degli Uffizi.

Crepúsculo do Feminino


De sangue e leite Reia cretense
Ou do eterno fluxo Magna Mãe
A placenta de um deus menino
Na Figália corrente rio se torna
Onde na rude e silvestre Arcádia
Outra divina destronada deusa
Num templo perdido permanece
Dando apenas o dia ao ano todo
Eclipsada está a antiga deidade
Esquecida está a materna rainha
Da terra e do ar da água e do fogo
Perdemos pois o divino feminino
E do novo homem tudo se tornou
Sombra e imagem representação


29 de Janeiro de 2019
RMdF

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Uma Outra Teologia ou Tealogia (Teosofia)

Del Sarto, Andrea, Disputation on the Trinity, 1517.
Florença: Galleria Palatina (Palazzo Pitti).


A Vontade, enquanto primeiro aspecto, Pessoa, da Divindade (não Deus) apresenta-se como Deus em acto. O Silêncio que é a Mãe da Trindade é Deus em potência, pois é do Silêncio que nasce o Pai e a Mãe, ou seja, a Vontade e a Sabedoria. O Pai representa Deus em movimento, uma vez que é pela Vontade que a obra divina que se realiza. Já a Mãe representa Deus enquanto conhecimento de si mesmo, pois é pela consciência do Bem, da Justiça e da Beleza que a obra divina que se realiza, ou seja, a Sabedoria atribui uma finalidade ao propósito divino. O Pai e a Mãe geram a síntese da sua natureza, o Filho torna-se o Logos da Criação, o Amor que em tudo está presente. Sobre o Divino, só não se falar do Indeterminado que é a Origem do Silêncio, a verdadeira divindade. A palavra fica portanto aquém do entendimento. A mente humana, enquanto imagem da mente divina, vislumbra apenas o Silêncio, a Deusa Sige, e a Trindade que é o Pai, a Mãe e o Filho - a Vontade, a Sabedoria e o Amor.



segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Estrela é a Sabedoria da Fé e a Fé na Sabedoria

A Estrela
Tarot Rider-Waite

A Estrela é o arcano da sabedoria da fé e da fé na sabedoria, é o divino culminar do eterno feminino, do seu esperado regresso.

A Estrela é aquela nossa humana árvore que, entre a terra e o céu, cresce, que sábia flui e pacientemente evolui. 

A Estrela é o agente primordial de transformação que permite a passagem do ideal ao real, do divino ao humano.

A Estrela é aquele elemento mágico que torna algo numa outra coisa, é portanto uma viagem da imaginação à realidade.

A Estrela é a dádiva divina que impregna o oceano primevo, a água abençoada que confere continuidade à criação.

A Estrela é aquela derradeira promessa, o anúncio proferido na origem, que diz que todos os opostos se irão reunir. 

A Estrela é a eterna esperança, o dom divino e materno de dar a luz ao mundo, de ser tanto a causa como a finalidade.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Morrente o Tempo (Poesia)

Vouet, Simon, Saturn, Conquered by Amor,
Venus and Hope
, 1645-46. Burges: Musée du Berry.

Morrente o Tempo


Moribundo clama o tempo
Esse agora sempre perdido
O oportuno momento seu
Que não é nem o passado
Funesto saudoso e iludido
Nem do futuro a sombra
Estendida fiel e prometida
Severa saturnina é a lição
Do tempo fiado ora tecido
Ora cortado das sapientes
Rubras deusas de outrora
Moribundo clama o Tempo
Divino eterno mas morrente


21 de Março de 2019

RMdF

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A Torre ou a Experiência da Queda

A Torre
Tarot Rider-Waite


A Torre é um arquétipo, não de um mal radical, mas do mal enquanto queda, enquanto experiência profunda do abismo.

A Torre é aquela projecção do eu que corrompe o conhecimento de si, como Imagem de Deus, numa promessa de destruição.

A Torre é o arcano que representa a corrupção da vontade humana e a ignorância activa enquanto expressão do mal.

A Torre é aquela forma de destruição, tanto interna como externa, que invade o eu e o outro, tornando a queda em ausência.

A Torre é a negação do processo transformativo que a sabedoria e a fé concedem, logo é uma rejeição da dádiva.

A Torre é aquele relâmpago fulgente que relembra que são as leis do destino, os decretos da mente divina, que unem todas as coisas.

A Torre é a revelação de que também nas ruínas, no seio da maior destruição e discórdia, se pode encontrar ou guardar um tesouro.